Que os Dinos estão presentes aqui no Sesc Guarulhos neste mês de janeiro, você provavelmente já deve estar sabendo. Mas que tal conhecer um pouco mais sobre eles?
A exposição “Dinos no Centro de Educação Ambiental” busca apresentar exemplos didáticos e simplificados da incrível diversidade de alguns grupos animais que marcaram a história da vida na Terra. Esses grupos, além de terem desempenhado papéis importantes no passado, possuem descendentes que são fundamentais para compreender as espécies vivas atualmente.
Também destacamos animais que, muitas vezes, são erroneamente representados em filmes, brinquedos ou livros como dinossauros de forma genérica. Vale lembrar que o próprio termo “dinossauro” já é bastante abrangente e merece uma abordagem cuidadosa para descrever os organismos que fazem parte desse grupo.
Paleontologia
Sem a menor sombra de dúvidas, esta é uma das ciências naturais mais completas entre as demais, pois tem de reunir um enorme conhecimento sobre a história natural da Terra e o comportamento de seus habitantes.
Os paleontólogos, por sua vez, tendem, entre outros saberes, a entender de biologia, geologia e a possuir um profundo domínio do tempo geológico. Além disso, precisam de um excelente conhecimento em ecologia, química, física, genética, evolução, anatomia comparada e filogenia, que trata do parentesco entre as espécies. E, surpreendentemente, até mesmo a tafonomia, ciência que reúne técnicas de interpretação do pós-morte, é importante. Essa área é amplamente utilizada por cientistas na elucidação de mortes suspeitas, como vemos em séries como CSI.
A paleontologia estuda apenas dinossauros? Definitivamente, não.
Os dinossauros são apenas um dos muitos objetos de estudo dessa ciência fascinante. Eles representam um pequeno período da longa história da vida na Terra e foram apenas um grupo dentro de uma incrível diversidade de organismos que existiram antes, durante e depois de sua presença no planeta. A paleontologia também investiga bactérias, fungos, organismos planctônicos, plantas, petróleo e uma vasta gama de animais que prosperaram ao longo de milhões de anos.
O Tempo Geológico
Entender o passado da vida na Terra é uma das tarefas mais complexas, mas também mais fascinantes da paleontologia. Vamos refletir um pouco sobre isso? Por exemplo, imagine a Terra há cerca de 3,5 bilhões de anos, quando se calcula o surgimento das primeiras formas de vida: bactérias simples que se alimentavam de minerais, como ferro e compostos de carbono.
Por volta de 2,5 bilhões de anos atrás, surge uma grande novidade: a fotossíntese. Muito antes do surgimento das primeiras plantas verdadeiras, foram as bactérias cianofíceas que revolucionaram a atmosfera. Naquela época, a atmosfera tinha uma coloração alaranjada devido à sua composição, mas com a liberação de oxigênio, subproduto da fotossíntese, adquiriu o tom azul que tanto admiramos hoje.
Foi somente há cerca de 542 milhões de anos que os registros fósseis começaram a evidenciar uma explosão de diversidade biológica, um fenômeno que já estava em curso, mas que se tornou mais evidente com o surgimento de estruturas como carapaças, exoesqueletos e esqueletos, que garantiram a preservação desses organismos nas rochas.
Desde então, a evolução trouxe uma incrível variedade de formas de vida. De simples bactérias, como aquelas que podem causar mau cheiro nos pés, às majestosas baleias-azuis, cujas línguas pesam tanto quanto um elefante. De humildes algas às imensas sequóias e jequitibás. Das delicadas e fascinantes orquídeas à impressionante diversidade de flores. Sem esquecer do simples mofo na gaveta, que nos faz espirrar, e do gigantesco fungo Armillaria ostoyae, o maior ser vivo do planeta, que se espalha por uma área maior do que 1.500 campos de futebol.
Ou seja, a vida é capaz de ocupar e prosperar em qualquer canto deste planeta.
Hoje chamamos esse conjunto de formas vivas de biodiversidade, e acreditamos conhecer cerca de 7,5 milhões de espécies e subespécies. Talvez este seja o momento de maior concentração de espécies em um único período geológico. Ainda assim, estima-se que esse número represente apenas 0,25% de todas as espécies que já habitaram o planeta.
E aqui reside o grande desafio para os paleontólogos, ou para qualquer pessoa que tente imaginar a vida do passado: interpretar cada conjunto de organismos que coexistiam, decifrar seus comportamentos, suas interações ecológicas e como eles e seus descendentes moldaram a história da Terra.
Se já é um desafio compreender a diversidade atual formada por espécies que podemos observar e estudar diretamente, imagine tentar localizar cada sistema vivo em seu contexto ecológico e em seu período geológico. Além disso, é necessário considerar sua geografia e tempo, muitas vezes radicalmente diferentes da maioria das condições que conhecemos hoje.
Para exemplificar a ideia de tempo geológico e a relação de cada organismo em seu contexto, vamos usar um exemplo simples. Os dinossauros, as grandes estrelas da paleontologia, podem nos ajudar. Vamos começar com o Estauricossauro, um dos dinossauros mais antigos conhecidos pela ciência. Ele viveu no território que hoje corresponde ao estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, há cerca de 231 milhões de anos.
Agora, pensemos em outro dinossauro, o mais famoso de todos: o Tiranossauro Rex, ou “lagarto-rei”, da América do Norte. Ele viveu há aproximadamente 65 milhões de anos. O tempo que separa o Tiranossauro do Estauricossauro, incluindo todas as mudanças na flora, fauna e ecossistemas ao longo desse intervalo, é superior a 120 milhões de anos.
Curiosamente, esse período é o dobro do tempo que separa o Tiranossauro de nós, seres humanos. Esse exemplo ilustra bem a diversidade e a complexidade dos ecossistemas primitivos, além de evidenciar o quão fascinante e educativo é o estudo dessas eras remotas.
Vamos juntos explorar e reconhecer a singularidade de cada uma dessas criaturas extraordinárias?
Dimetrodonte
Dimetrodonte angelensis foi batizado e descoberto por Edward Cope em 1878 nos Estados Unidos. E você pode encontrar réplicas ou brinquedos de Dimetrodonte em coleções de dinossauros. O que é muito comum. Porém, temos que ressaltar aqui um probleminha, que se resume ao fato de que um Dimetrodonte não é e nem nunca foi um dinossauro. Sequer pertenceu ao mesmo período geológico em que eles viveram e surgiram. E muito menos estavam em alguma linhagem que culminaria em um dinossauro. Longe disso, suas características os levariam àqueles que no futuro estariam na nossa linhagem. Nossa, os mamíferos.
O nome Dimetrodonte, batizado, se dá ao fato de seus dentes terem formas e tamanhos diferentes. Então o nome sugerido pelo paleontólogo Edward Cope em 1878, pela primeira vez, quer dizer basicamente: di = dois, metrus = medida e odonte = dente, ou seja, dente de duas medidas. Outra coisa muito interessante e intrigante eram as suas velas dorsais, que no início achavam-se que fosse um tipo de nadadeira, ou que foi completamente deixado de lado. E só mesmo no século XX que sua função foi mais explicada. Porém, até hoje ainda restam algumas dúvidas sobre sua função. Entre essas imposições, uma que tornou-se muito popular até o final do século XX e início do século XXI, foi a termorregulação. Ou seja, voltando-se para o sol, podia aquecer-se com mais rapidez e tornar-se um predador mais eficaz…
Hoje, porém, a proposta mais aceita é a da seleção sexual, ou seja, a utilização dessa vela dorsal como uma forma de atrativo sexual. Então, hoje, esta é a hipótese mais aceita para a funcionalidade dessas velas. Essas velas eram basicamente formadas por ossos modificados das velas dos espinhos neurais e que eram unidos por membranas de pele. Eram predadores de topo de cadeia. O petisco que vemos nessa escultura é de um diplocalus, um anfíbio primitivo com uma forma muito peculiar, onde o seu crânio lembra um bumerangue.
Esse tipo de crânio tem algumas explicações entre elas, que simplesmente era para dar maior amplitude na abertura da mandíbula, e outra, acredita se que ele podia dispor de eletrorreceptores. E esses eletrorreceptores poderiam detectar a presença das suas presas que estariam enterradas no fundo de lagos e rios. O dimetrodonte, então, era um topo de cadeia alimentar. Ou seja, ele era o bicho que conseguiria se alimentar de qualquer outra espécie que coabitasse com ele naquele período e naquela região. Seymorias, eryops e outros anfíbios e répteis primitivos que conviviam com ele, seriam suas presas em potencial. Ou seja, poderíamos deixá-lo equivalente ao nosso leão africano, nas savanas, sendo o animal, o predador principal. Porém, mesmo assim,extinguiram se antes do final do período Permiano, ou seja, eles não estiveram presentes naquele período em que houve a grande extinção em massa que vitimou mais de 95% de todas as espécies vivas da Terra. Mesmo assim, seus descendentes acabaram culminando em nós, mamíferos.
Tupuxuara
Tupuxuara longicristatus é o nome dado a essa magnífica espécie de pterossauro brasileiro. Esse animal viveu há cerca de 115 milhões de anos na região onde hoje se encontra a Chapada do Araripe, no Ceará, um verdadeiro paraíso para as diversas espécies de pterossauros já descritas.
O Tupuxuara tinha uma envergadura que variava entre 2 e 4,5 metros. Foram encontrados diversos fósseis dessa espécie, quase todos incompletos. Alguns estão no Brasil, enquanto outros foram enviados para o exterior. Com base nesses fósseis, o gênero Tupuxuara foi descrito, incluindo outras duas espécies. Contudo, há controvérsias: alguns pesquisadores acreditam que as diferenças observadas entre os fósseis podem ser explicadas por dimorfismo sexual (diferenças entre machos e fêmeas) ou por variações relacionadas à idade (filhotes e adultos). Essas questões ainda estão em discussão e dependem de novos estudos sobre os fósseis já conhecidos ou de futuras descobertas.
Uma curiosidade sobre sua alimentação: o Tupuxuara era generalista. Ele possuía um bico semelhante ao das aves, sem dentes, diferente de outros pterossauros que tinham dentes. Isso permitia uma dieta variada. Ele podia pescar em vôo, coletando peixes e outros pequenos animais na superfície dos lagos onde vivia, mas também há indícios de que se alimentava de insetos, pequenos vertebrados e moluscos.
Outro detalhe interessante é a origem do nome Tupuxuara. Quando os autores descreveram o gênero, tinham a intenção de utilizar um termo em tupi antigo que significava “espírito guardião”. Porém, cometeram um erro ao publicar o trabalho, e o nome acabou registrado como Tupuxuara, uma palavra inexistente na língua tupi. O termo correto seria Tupixuara, mas, como o nome já havia sido oficializado, manteve-se Tupuxuara.
A região da Chapada do Araripe é riquíssima em fósseis de pterossauros. Além do Tupuxuara, outros gêneros notáveis encontrados na região incluem Anhanguera, Cearadactylus, Tapejara e Thalassodromeus. Vale a pena pesquisar mais sobre os incríveis pterossauros brasileiros para entender melhor sua diversidade e importância.
Santanaraptor
Este incrível animal, o santanaraptor, foi descoberto na Chapada do Araripe, no Ceará, em 1991, e descrito em 1999 pelo paleontólogo e atual diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Alexander Kellner. O fóssil é fascinante, pois conservou impressões de tecidos moles, como pele, músculos e até vasos sanguíneos. Isso se deve à excepcional qualidade de fossilização do arenito da Chapada do Araripe, reconhecida internacionalmente por conservar detalhes impressionantes dos animais.
Os santanaraptores, apesar do nome, não pertencem ao mesmo grupo dos velociraptores, como os mostrados na franquia Jurassic Park. Eles estão mais próximos de outros dinossauros famosos, como os tiranossauros, pertencentes ao mesmo clado (ou seja, ao mesmo grupo evolutivo). No entanto, ao contrário do grande predador do norte, os santanaraptores eram pequenos em comparação, com cerca de 2 metros de comprimento. Eles se alimentavam de uma grande diversidade de animais menores, uma vez que dinossauros de grande porte não eram comuns na Chapada do Araripe naquele período. Sua dieta incluía peixes, insetos, anfíbios e outros pequenos animais; também consumiam ovos e animais que morreram naturalmente, como algumas espécies de pterossauros. Este dinossauro viveu no período Cretáceo, aproximadamente 112 milhões de anos atrás.
Nesta reconstrução, optamos por preservar algumas características típicas da família dos tiranossaurídeos. Isso porque os fósseis encontrados dos santanaraptores são bastante incompletos, faltando o crânio, os braços e boa parte do esqueleto torácico. Ainda assim, com base na comparação com outros membros da família dos tiranossaurídeos, os paleoartistas conseguiram criar a imagem que reconstruímos aqui.
Um ponto importante sobre fósseis de quaisquer grupos animais ou vegetais é que a questão das cores raramente é preservada, com pouquíssimas exceções. Assim, optamos por dar ao santanaraptor desta exposição o aspecto de outro animal que vive atualmente na mesma região: o soldadinho-do-araripe. Essa ave apresenta uma coloração marcante, com contrastes de branco, preto e vermelho.
O soldadinho-do-araripe é uma espécie criticamente ameaçada de extinção. Hoje, estima-se que existam apenas cerca de 213 casais adultos dessa ave, que é endêmica, vivendo exclusivamente na região da Chapada do Araripe. Essa situação torna o animal extremamente vulnerável.
Estes animais foram magníficos e nos encantam muito. Mas talvez a coisa que mais nos chame a atenção seja o fato de por que, depois de milhões de anos de um domínio absoluto do planeta, eles simplesmente se extinguiram, restando apenas um único grupo do qual só ficamos sabendo recentemente. Isso, para um ser dominante como o ser humano, é bastante confuso e bastante intrigante. Então, exposições como esta trazem essa reflexão do que estamos fazendo com os ambientes naturais e como podemos conservá-los para que não sejamos nós aquele meteoro que ajudou a dizimar os dinossauros e nem outras ações humanas capazes de destruir não só animais como ambientes inteiros. Fica a reflexão.
Curadoria e produção textual: Ronaldo Morais da Silva
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