Quem lembra do Rap da Reciclagem, do ratinho do programa infantil Castelo Rá Tim Bum (programa exibido pela Tv Cultura)? Lá, o simpático personagem ensinava a importância de separar os resíduos para que eles pudessem se transformar em matéria prima para novos produtos. Naquele tempo, a reciclagem era vista como uma das soluções para os impactos ambientais gerados pelo lixo que produzíamos. Hoje entendemos que separar em recicláveis, não recicláveis e compostáveis não é a única solução.
A exploração dos recursos do planeta continua próxima de níveis extremos. Um indicador disso é o Dia da Sobrecarga da Terra, data simbólica calculada anualmente pela organização científica Global Footprint Network. Em 2019, foram necessários 7 meses para que fossem explorados mais recursos do que o planeta é capaz de renovar em um ano. Ou seja, é como entrar no cheque especial 13 dias antes do mês acabar. Uma conta que não fecha e que tende a virar uma bola de neve.
O consumo consciente e a destinação adequada de materiais recicláveis são debatidos há anos, porém, ainda há muito o que fazer a respeito deste tema. Um dos pontos críticos é o fato da destinação correta do lixo ainda representar um volume muito pequeno de tudo o que é descartado.
Mais de um terço da reciclagem realizada na capital paulista é feita por catadores, cooperativas e associações de pessoas que retiram seu sustento da coleta de recicláveis. Um trabalho que pode ser observado na Coopernova Cotia Recicla, que surgiu em 1999 a partir da mobilização de moradores para limpar um córrego do rio Cotia.
Não há dúvidas da relevância deste tipo de ação, mas ela se insere em um contexto com consequências sociais pouco discutidas. Os valores médios pagos para os catadores e cooperativas que comercializam esses materiais são baixos. Segundo a Associação Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), em 2019 o valor do quilograma do papelão, era de 0,58 centavos; latas de aço valem 0,55 centavos; já o vidro era vendido por 0,18 centavos.
Reciclar não basta. A reciclagem é um processo industrial, que assim como qualquer outro, tem custos e consome energia. Muitas vezes, para fazer o reúso de uma matéria prima reciclada, é necessário acrescentar uma grande parcela de matérias primas virgens. Ou seja, o ciclo de retirada de recursos da natureza não para. Por isso, hoje entende-se que a reciclagem é importante, mas deveria ser a última opção para agir em prol da conservação do meio ambiente. É fundamental repensar os níveis de consumo para diminuir a geração de resíduos e trabalhar por transformações na sociedade que possibilitem escolhas mais sustentáveis por parte da população.
Para onde vão os resíduos plásticos que não são destinados à reciclagem? Parte deles acaba indo parar em rios, mares e oceanos. Um problema que diz respeito à toda a humanidade, e em um país como o Brasil, que possui uma faixa costeira extensa, com 20% da sua população vivendo no litoral, merece atenção especial.
Para transformar parte deste cenário, um exemplo, foi a ação do Coletivo Educador de Bertioga, que se formou a partir da participação comunitária na discussão do plano de manejo da Reserva Natural Sesc Bertioga. Realizando atividade de coleta de resíduos na praia e sensibilização, lembrando as pessoas sobre a quantidade de lixo produzida e o impacto no ambiente.
Entre 4,8 e 12,7 milhões de toneladas plástico foram lançados diretamente no mar em 2010. Estima-se que anualmente 1,2 a 2,4 milhões de toneladas de plástico chegam ao mar através dos rios. Esses dados são da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA) e Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
O que acontece quando o plástico vai para o mar?
Sabe-se que, uma vez que estes resíduos vão parar nos rios e mares, eles percorrem grandes distâncias, dependendo de fatores inter-relacionados como localização geográfica da origem, clima e características do ambiente local, além de da forma como o plástico se degrada. Esse material pode encontrar vários destinos. Uma parte pode se alojar no fundo do mar, outra retornar para costa ou entrar nos giros oceânicos, as grandes correntes marinhas rotativas localizadas em diferentes pontos do planeta.
Isso pode ser observado em um destes giros, localizado entre os estados norte-americanos da Califórnia e Havaí, onde existe uma ilha de lixo, conhecida como Grande Mancha de Lixo do Pacífico, com mais de 80 toneladas de resíduos plásticos, que ocupam uma extensão de 1,6 milhão de quilômetros quadrados, área equivalente a aproximadamente seis vezes e meia o estado de São Paulo.
É como se um continente emergisse do nada. Essa realidade pode ser observada no estudo Evidence that the Great Pacific Garbage Patch is rapidly accumulating plastic, realizado por diversos pesquisadores e organizações dos EUA e publicado na revista científica Nature.
Por ser um material resistente e durável, o plástico não se decompõe na natureza. Quando lançado nos oceanos, sofre a ação dos raios solares, da oxidação e das temperaturas e, com o passar do tempo, se quebra em minúsculos pedaços que medem até 5 milímetros, chamados de microplásticos.
Um dos problemas causados por este processo é o fato que parte desse material retorna indiretamente para o ser humano. Como explicou a pesquisadora Flávia Cabral, em entrevista para Eonline, essas pequenas frações podem ser ingeridas por peixes, crustáceos e outros animais marinhos que eventualmente nos servem de alimento.
O Sesc São Paulo possui um programa educativo de minimização e destinação responsável de resíduos, Lixo: menos é mais, com ações que estimulam a reflexão sobre diferentes formas de consumo e propondo modos de viver sustentáveis.
A cada dia que passa, são incorporadas práticas internas e externas que vão ao encontro das diretrizes propostas pelo Lixo: menos é mais. Por isso, são utilizados copos, talheres, pratos e recipientes retornáveis nas Comedorias. Na área de alimentação, as mudanças mais significativas começaram em 2005, com a eliminação de forros de bandeja e saquinhos para embalar talheres. Progressivamente, outros descartáveis foram deixando de ser usados até chegarmos ao fim do uso dos canudos, em 2018.
A instituição deu mais um passo nesse sentido: a ampliação da oferta de água gratuita em todos os seus espaços, tendo como consequência o encerramento do uso de água engarrafada sem gás em suas unidades. Para isso, foram instalados novos bebedouros e purificadores de água nos restaurantes, cafeterias e também em outros espaços de algumas Unidades. Com esta ação, estima-se que deixarão de ser geradas aproximadamente 2 milhões de garrafas plásticas de água por ano no Sesc SP. Além de diminuir a produção de resíduos, a ação considera o entendimento de que a água é um bem natural comum, essencial para a vida e fundamental para a promoção da saúde.
O Sesc SP possui um programa de minimização e destinação responsável de resíduos, gerados nas atividades da instituição. Fazem parte desse programa também atividades educativas e parcerias com cooperativas e instituições. Para conhecer mais sobre tudo isso clique no botão abaixo.
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