“A primeira coisa que você tem que fazer, é certificar-se de nascer em Paris. O resto vem naturalmente”. “Os Biquínis foram a maior invenção desde a bomba atômica”. “Você não tem que dar às pessoas o que elas querem, você tem que dar o que elas ainda não sabem que querem”. Essas são algumas das frases proferidas ao longo da vida por Diana Vreeland, a toda poderosa editora-chefe da Harper’s Bazaar e da Vogue. Vreeland foi uma das mulheres mais influentes, poderosas e irreverentes do mundo da moda durante boa parte do século XX.
No cinema, Vreeland serviu de inspiração para a personagem Maggie Prescott, interpretada por Kay Thompson, no filme Cinderela em Paris (Funny Face) dirigido por Stanley Donen em 1957. Em 1966, Vreeland voltou a servir de inspiração para uma personagem: Miss Maxwell, interpretada por Grayson Hall no filme “Quem é Polly Magoo?” (Who Are You, Polly Maggoo?), dirigido pelo cineasta e fotógrafo William Klein. Diana foi a responsável pela criação do departamento de Moda do Metropolitan Museum, em Nova York. Ela organizou 12 exposições de moda no museu.
Em 2011, Diana Vreeland tornou-se o tema do documentário Diana Vreeland: O Olhar Tem Que Viajar / Diana Vreeland: The Eye Has To Travel, que chega quinta-feira, dia 28/7, à plataforma Sesc Digital na série #CinemaEmCasa. O filme marca a estreia na direção da cineasta ítalo-americana Lisa Immordino Vreeland. Apesar de compartilhar o icônico sobrenome, Lisa nunca conheceu Diana. Ela é casada a 22 anos com Alexander Vreeland, neto de Diana.
A diretora soube desde cedo que o nome Vreeland abriria muitas portas. Para seu documentário, Lisa entrevistou mais de 50 pessoas ligadas a Diana, entre elas as atrizes Anjelica Huston, Marisa Berenson, Ali MacGraw, Cher e Lauren Bacall, uma das descobertas de Vreeland. Além de inúmeras personalidades do mundo da moda como o fotógrafo David Bailey, o cineasta Joel Schumacher, as modelos Lauren Hutton, Polly Devlin e Veruschka Von Lenhdorff, e os estilistas Hubert de Givenchy, Oscar de la Renta, Carolina Herrera, Diana Von Fürstenberg e Calvin Klein.
Lisa Immordino Vreeland nasceu em Milão e passou a juventude assistindo a filmes de cineastas como Pier Paolo Pasolini, Luchino Visconti, Federico Fellini e Vittorio De Sica em um cinema local. Segundo a diretora contou para esse jornalista em uma entrevista realizada no final de 2021, via Zoom, de seu apartamento em Nova York: “descobri o cinema assistindo aos filmes desses mestres”. Lisa contou sobre a gênese para esse documentário: “Sempre ouvia meu marido falar sobre sua avó. Primeiro, resolvi organizar o material que havia sobre ela em um livro (lançado em 2012). Na verdade, não tinha muito conhecimento sobre ela, apesar de saber que Diana tinha muitos admiradores. Quando estava trabalhando no livro, alguém me disse que meu sobrenome poderia abrir muitas portas. Estava morando em Paris na época, e, como amo cinema e viajar, achei que seria uma ótima oportunidade para juntar essas duas paixões”, conta Lisa. Desde então, Lisa já realizou diversos documentários sobre personalidades como a colecionadora de arte Peggy Guggenheim, o diretor de arte, fotógrafo e cenógrafo Cecil Beaton, e os escritores Truman Capote e Tennessee Williams.
Segundo Lisa, o que tornava Diana uma pessoa tão especial era sua grande joi de vivre. “Ela tinha muitas paixões. Era uma pessoa extremamente positiva e tinha um olhar único. Era alguém muito ligada ao futuro, conseguia fazer ligações incríveis entre o passado e o futuro. Ela pulsava vida.”
Esse olhar curioso quase infinito está presente em várias cenas do filme. Em um certo momento, La Vreeland afirma que “o jeans foi a coisa mais bonita que eu havia visto, desde as gôndolas”. Em outro, fala sobre sua fascinação sobre os surfistas: “só tenho inveja de uma coisa: um surfista. Acho a coisa mais linda. Sou louca por água, acho que é o calmante de Deus. Então, a sensação de estar entre o mar e o céu é o paraíso para mim”. Diana era louca por Jack Nicholson. Através dele, ficou amiga de todo o grupo de atores e cineastas que ficariam conhecidos como a Nova Hollywood, incluindo Warren Beatty, Julie Christie, Anjelica Houston e Cher.
Vreeland foi uma grande mestre do estilo. Nos anos 1960, Diana descobriu a modelo inglesa Twiggy, que não tinha uma beleza clássica, e a colocou na capa da Vogue. Essa imagem tornou-se um dos símbolos da chamada Swinging Sixties, a revolução cultural e estética encabeçada pelos Beatles, na Londres da época. Ao falar sobre os japoneses, Diana declarou: “Deus foi gentil com os japoneses. Não lhes deu petróleo, nem diamantes, nem ouro, nada. Mas deu-lhes o senso de estilo. E estilo é tudo. Te ajuda a sair da cama de manhã, te ajuda a descer as escadas, é uma forma de vida”. Vreeland não tinha apenas estilo para esbanjar, ela era a personificação do próprio estilo. E esse documentário ilustra isso muito bem.
Duda Leite, 26.07.2022.
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