É preciso uma vila inteira para cuidar de uma criança

31/01/2022

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“Poder deixar elas na escola faz toda a diferença… é um tempo que a gente tem pra ser outra coisa, que não mãe, entendeu? Porque as professoras, os funcionários cuidam, enquanto eu trabalho. É um respiro”.

“A agente, da UBS aqui perto de casa, ela passa sempre, de tempos em tempos, pra ver se a gente está fazendo o tratamento direitinho, como é que tá. E é uma coisa que dá uma paz tão grande no coração porque é muito bom saber que tem alguém que entenda, ajudando naquilo que a gente não pode dar conta… A gente é mãe, mas a gente não sabe de tudo”.

“Vó, vô, tia, tio, primos… Nossa, quando tem isso, de a família ser presente e ajudar a criar, faz muita diferença. Se acontece algum imprevisto, pega na escola, se a criança fica doente… É muito importante, né”.

Esses são alguns relatos trazidos por uma mãe no vídeo É preciso uma vila inteira para cuidar de uma criança, encenado por Fernanda Brandão e produzido em conjunto com Jéssica Policastri, ambas do Projeto É Cena. As cenas foram construídas com base em relatos e documentários sobre o tema, e, enfatizam, ainda, a importância das redes de apoio que estão à sua volta, como por exemplo: familiares, profissionais da educação e da saúde e cuidadora(e)s de crianças com deficiência.

Assista abaixo ao vídeo completo e, a seguir, veja como foi seu processo de criação.

Ficha técnica

Texto/pesquisa: Jéssica Policastri

Atuação/direção/roteiro/edição: Fernanda Brandão

Finalização: Mauricio Coronado

Produção executiva: Movicena Produções

Produção geral: É Cena

* Por Fernanda Brandão e Jéssica Policastri

Sobre o processo de criação do vídeo

Dramaturgia

Desde o começo da pandemia, temos escrito pequenos registros diários, sobre a vida, as dores, as alegrias e as sensações que nos atravessam neste momento histórico. Fomos percebendo que algumas mães comentavam nesses textos e essa troca nos despertou uma questão: como será que as mães estão lidando com tudo isso? Como fica esse momento com as crianças dentro de casa? Quais papéis elas estão desempenhando?

Perto do “dia das mães” resolvemos realizar uma pesquisa, pensando que pudesse se concretizar em vídeo cena.

Exploramos nossas redes sociais em busca de mães que quisessem responder a uma entrevista sobre esse processo na quarentena. Para nossa não tão surpresa: elas queriam falar! Recolhemos em torno de 40 mães, estruturamos uma série de perguntas e demos a elas opção de responder da maneira que conseguissem: e-mail, áudio, vídeo. Recebemos um material extenso, organizamos e concretizamos numa dramaturgia para o vídeo Mães em Quarentena, disponível no canal É Cena.

Desse vídeo, com muita felicidade, recebemos o convite do Sesc São Paulo, para abranger outros atores do cuidar e integrar o conteúdo da ação Cuidar de Quem Cuida – Redes de Apoio e Cuidados, e assim, nasceu o É preciso uma vila inteira para cuidar de uma criança.

Cena

Trouxemos a concepção textual da mãe como figura central, a coluna social do ato de cuidar, e a partir dela as ramificações dos outros atores que também carregam essa função, como uma árvore.

Por uma realidade social, se tornou inevitável evidenciar a sobrecarga dessa figura: a divisão da tarefa do cuidar é uma luta em processo. Com base nessa compreensão entendemos que, mais do que o discurso da sobrecarga, a forma, a ação se fazia fundamental. Essa figura vem, então, em ações diárias, percorrendo toda a casa, enquanto conta de suas preocupações e conflitos. O tempo passa, de manhã até a noite, de um dia pro outro, em iluminação, em troca de roupas. A cena também coloca a pergunta: quantas são essas mães? É uma, a atriz da cena, ou todas? Ao mesmo tempo em que é um vídeo documental, revela-se como conteúdo artístico ao passo que se descola da verossimilhança ao registrar essa mãe sentada na privada, prestes a se limpar com o papel higiênico, em “público”. É a cena amplificando o documento da falta de espaço, de respiro, da sobrecarga materna: é preciso uma vila inteira para cuidar de uma criança.

Sem ignorar o corpo político de mulher branca, buscamos levantar a discussão em forma e conteúdo, de maneira crítica, evidenciando aquilo que precisa ser olhado e conquistado, como propõe o tema da terceira edição da ação Cuidar de Quem Cuida, do Programa Espaço de Brincar, do Sesc São Paulo.

* Fernanda Brandão – Diretora e atriz do vídeo, performer, atriz e idealizadora do projeto É Cena.

* Jéssica Policastri – Dramaturga do vídeo, bacharel em Letras, escritora e atriz.

Veja mais sobre o assunto aqui.

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