Ilustração: Rômolo D’Hipólito
Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma. Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou. Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior…Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade… que me tornam mais pessoa, mais humana, mais completa. E penso que é assim mesmo que a vida se faz, de pedaços de outras gentes que vão se tornando parte da gente também. E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados… haverá sempre um retalho novo para adicionar à alma. Portanto, obrigada a cada um de vocês que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha história com os retalhos deixados em mim. Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas histórias. E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar um dia um imenso bordado de nós.
(Cris Pizziment, Sou Feita de Retalhos)
Resumo
Área do estudo e de intervenção (PAPALEO NETTO, 2006), a gerontologia transita como eixo estruturante nas diferentes formas da busca do conhecimento,
aliada aos conceitos de envelhecimento
e de velhice. Com a finalidade de
determinar cada vez mais claramente sua importância e dirimir as ambivalências conceituais, mantém-se como primordial
a continuidade do estudo crítico de seu valor e princípios, das possíveis hipóteses
e de seus fundamentos epistemológicos
(SÁ, 1999). Internacionalmente e em nosso país a gerontologia, caracteristicamente multidisciplinar, constitui-se no estudo das diversas faces do envelhecimento humano
e abrange a geriatria. Como disciplina, está contemplada no ensino, na pesquisa, nas intervenções assistenciais e, associada aos interesses diversos da sociedade em geral, aliada a um projeto de políticas públicas.
No Brasil, a SBGG mantém o seu lugar na história da educação na área da gerontologia e da geriatria, comprometida com a qualificação profissional e o incentivo da formação acadêmica nos diferentes níveis, fomentando a inclusão de disciplinas de gerontologia e geriatria desde os cursos de graduação, de lato sensu: especializações, aperfeiçoamentos e atualizações; e strito sensu: mestrado e doutorado, valorizando estas formações em seus concursos para títulos de especialistas.
Palavras-chave: gerontologia; geriatria; educação; envelhecimento.
2023, ANO EM QUE SE COMEMORA O ANIVERSÁRIO DE CRIAÇÃO
DA GERONTOLOGIA, 120 ANOS! UM POUCO DE HISTÓRIA
Elie Metchnikoff, cujo nome está diretamente associado à gerontolo- gia, era de origem russo-francesa e nasceu em 16 de maio de 1845, numa pequena aldeia próxima a Kharkoff, na Ucrânia, sob domínio do Impé- rio Russo. Imunologista e zoólogo, com obras relevantes de imunologia e microbiologia, e citado em muitos estudos fundamentais, Metchni- koff foi laureado com o prêmio Nobel de Medicina em 1908 por seus estudos em imunologia. Falava português, que aprendeu ao viver na Ilha da Madeira por determinado tempo (MENDES e LEITÃO, 2015).
No início do século XX, mais precisamente em 1903, Elie Metchni- koff cria a gerontologia como disciplina e traz à luz uma importante vertente que revela um caminho para a compreensão do envelhe- cimento humano, se propondo a estudar uma das questões mais antigas da humanidade: o envelhecimento e a longevidade (PAPA- LEO NETTO, 2006).
A gerontologia, mesmo do alto dos seus 120 anos, ainda pode ser considerada um ramo jovem da ciência (PRADO, 2016) que estuda o processo de envelhecimento ao considerar-se que a aspiração huma- na da vida longa acompanha a própria civilização. A partir de 1930, a gerontologia assumiu um caráter de internacionalização estimula- do pelos países que estavam à frente dos estudos gerontológicos, nos quais a velhice já se constituía uma realidade com demandas médico- -sociais (LOPES, 2000). Em 1950, ano em que foi criada a International Association Gerontology (IAG), a internacionalização da gerontologia alcançou o Brasil e foram criados pequenos grupos de pioneiros que se interessaram pelos estudos do envelhecimento e da velhice, antes mesmo de surgirem demandas específicas, médicas ou sociais (MELLO; LIMA-SOUZA; CACHIONI, 2018). No Rio de Janeiro, na Santa Casa de Misericórdia, e em São Paulo, no Hospital Miguel Couto, constituíram- -se os primeiros grupos de estudo e foram organizadas as primeiras Jornadas de Geriatria (SBGG, 2022). Esses grupos pioneiros formaram- -se antes da Sociedade Brasileira de Geriatria (SBG), tendo contribuído para a sua criação, além de apoiarem outras iniciativas na área de edu- cação médica (SBGG, 2023).
A complexa tarefa dos estudiosos, pesquisadores e profissionais que trabalhavam com o envelhecimento e seus desdobramentos no Brasil passava pelo desafio de congregar profissionais de diversas formações para esta área. Ainda em pequeno número, precisavam convencer seus pares a reconhecer os conceitos básicos e fundamentais da gerontologia
como importantes diferenciais e norteadores das práticas frente aos idosos. Isso implicava no fato de que se demandariam ações educativas e de políticas públicas. O primeiro evento denominado de mesa-redonda sobre gerontologia foi organizado pelo professor Israel Bonomo, da então Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, e realizado em maio de 1957 (SBGG, 2023).
Sensibilizá-los para o problema médico-social da velhice como um fenômeno real, embora ainda com uma população reduzida de ido- sos, mas que acarretaria profundos impactos no futuro da sociedade brasileira, era um desafio, segundo relato do ex- dirigente da SBGG es- pecialmente colhido para este trabalho. Ao mesmo tempo em que havia uma demanda para se estabelecer um corpo de conhecimentos espe- cíficos, quando apenas alguns profissionais estavam interessados na especialidade, identificava-se a necessidade de um denominador co- mum sobre estes objetos de estudo e intervenção. Este fato permitiria o compartilhamento de conteúdos entre os pares, estabeleceria uma linguagem científica e traria avanços para a ciência do envelhecimento. Surgia a demanda educacional para a atualização, o aperfeiçoamen- to e a especialização com base em um quadro de referências teóricas e metodológicas, com princípios e fundamentos, para nortear e qua- lificar a prática na área de Gerontologia e da Geriatria (GG) em nosso país (PRADO, 2016).
Este fenômeno já acontecia deliberadamente na Europa e nos Es- tados Unidos como campo científico e profissional. No Brasil, Neri publicou uma importante obra com a definição de termos em geron- tologia, além de objetivos pedagógicos e científicos que contribuíram para a área da pesquisa e intervenção (NERI, 2008).
Nos Estados Unidos, a geriatria foi criada como especialidade mé- dica em 1909 por Ignatz L. Nascher, médico vienense que vivia nos Estados Unidos. Em 1912 fundava-se a Gerontology Association de New York, fato que fortaleceu a área do estudo do envelhecimento (PAPA- LEO NETTO, 2007). Uma referência que contribuiu significativamente nos estudos da especialidade é a obra de Nascher Geriatrics: The Disea- ses of Old and Their Treatment, Incluiding Physiological Old Age, Home and Institucional Care, and Medico-Legal Relations, de 1914. As questões abordadas no livro foram objeto de estudo, compreensão e apreensão técnico-científica e social pelas especialidades da gerontologia e da ge- riatria no Brasil (PAPALEO NETTO, 2007).
À exemplo de Nascher, a médica inglesa Marjory Warren revo- lucionou a geriatria mundial ao introduzir conceitos e práticas de reabilitação na assistência aos idosos. Considerada a mãe da geriatria moderna, foi a propulsora da avaliação geriátrica integral na década de 1930, e inspirou a Avaliação Geriátrica Ampla/SBGG – Laudo Técnico, lançada no XII Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, em 2012, que, ao estabelecer o seu próprio modelo, tem contribuído com a melhoria da assistência e cuidados às pessoas idosas.
No Brasil, ainda carente da compreensão de suas peculiaridades relativas ao envelhecimento, de suas dinâmicas e dos seus impactos na coletividade, ocorria a busca pelo aprofundamento do conheci- mento sobre o envelhecimento, a velhice e o idoso em suas questões biológicas, sociais e psicológicas. A conjugação do aumento de idosos na população e a complexidade que envolve o envelhecimento e suas consequências levou vários estudiosos e pesquisadores a traçarem ca- minhos de pesquisa e estudo na busca de conhecimentos específicos e especializados, visando compreender melhor a velhice, o idoso e o pro- cesso a que estão submetidos estes fenômenos (SBGG, 2022).
Os estudos das coortes sócio-históricas denotam que há hetero- geneidade no envelhecimento entre os indivíduos e evidenciam a multiplicidade de fatores individuais, ambientais e socioculturais que envolvem este fenômeno, que é universal e comum aos seres vivos, abarcando as várias facetas do envelhecimento (LEME, 1996). Verifi- ca-se no percurso histórico da área do envelhecimento em nosso país que em 1954, no Senado Federal, já existia um projeto de lei que ins- tituía o Serviço Nacional de Assistência à Velhice, havendo relatos de que serviu de inspiração para a criação da SBG em 1961 (SBGG, 2022).
SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA (SBG) E O PRINCÍPIO DA GERONTO-GERIATRIA
No início da década de 1960, no Brasil, em 16 de maio de 1961, foi funda- da a Sociedade Brasileira de Geriatria (SBG), pioneira como sociedade científica e de medicina especializada em pessoas idosas (SBGG, 2022). Desde a sua fundação a sociedade médica SBG sempre incentivou o es- tudo do envelhecimento e assinalou para pesquisadores e profissionais sua importância, bem como mostrou a necessidade de intervenção téc- nica qualificada para atender aos idosos, tanto em seus problemas de saúde como nas questões sociais relacionadas à velhice. Sendo assim, a gerontologia recebeu grande impulso da geriatria. Especialidades coirmãs, a Geriatria e a Gerontologia (GG) caminham lado a lado, em especial no Brasil, por seu histórico, seus objetos de estudo e interven- ção e suas trajetórias (SBGG, 2014).
A SBG teve como primeiro presidente um professor universitário, por isso desde a sua criação sublinha-se a importância do desenvol- vimento acadêmico da especialidade (SBGG, 2022). O trabalho dos profissionais ligados à SBG exigia uma crescente qualificação volta- da às peculiaridades das condições de vida e saúde das pessoas idosas, vistas como pessoas que precisavam de ajuda, com predominância, em muitos países, do caráter assistencialista. Fazia-se necessária uma vertente educacional associada à prática profissional na área do enve- lhecimento (SBGG 2014).
A educação, associada ao melhor desempenho e a melhores resul- tados, pode contribuir para a mudança de concepção sobre a velhice e para uma visão mais positiva do envelhecimento. Esses são uns dos pontos diferenciais da base da Sociedade Brasileira de Geriatria (SBGG, 2023). Entendendo que o ponto inicial do processo educativo é a realida- de concreta, na qual acontece o encontro, neste caso entre profissional e paciente idoso. A valorização desta relação traz um aprendizado con- tínuo, sempre associado a estudos e pesquisas (BOTH, 2002).
Ousamos dizer aqui que desde então a escuta ativa e dedicada em uma consulta ou atendimento – buscando apreender todos os aspec- tos biopsicossociais a serem investigados e relatados com o fim de obterem-se dados e informações para o levantamento de problemas, compreensão das demandas e necessidades dos indivíduos idosos – já revelava que o modelo biomédico não seria suficiente para atender aos idosos em sua complexidade. Era preciso conhecê-los melhor. Optou- -se pela iniciativa da formação com foco na educação. A adoção dessa linha pela SBGG teve continuidade com a realização do Primeiro Curso
de Extensão Universitária, realizado na então Universidade do Brasil, em 1962, cujo tema central foi Problemas da Medicina Geriátrica. A primeira aula tratou sobre A Velhice: Problema Médico-Social, e foi ministrada pelo prof. dr. Deolindo Couto, presidente SBG durante a gestão 1961-1962 (SBGG, 2022). Este evento já buscava a compreensão das questões relativas à complexidade que envolvem o envelhecimen- to, englobando aspectos científicos da saúde com temas sociais desde a sua criação, fortalecendo a preocupação com a aproximação no meio acadêmico (SBGG, 2023).
Entendendo que o trabalho educacional não ocorre apenas nas uni- versidades, a SBG ampliou suas atividades educacionais, agregou novos profissionais com múltiplos olhares para o envelhecimento, assumiu uma característica multiprofissional e, em 1965, permitiu a participa- ção, na instituição, de profissionais associados não médicos, os quais vieram basicamente do direito e da assistência social (SBGG, 2014).
A SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA E O COMPROMISSO COM A EDUCAÇÃO
Para fazer face às suas aspirações, em 1969 a SBG incluiu em seu nome de registro em cartório os médicos associados e outros profissionais de diferentes áreas de formação e cenários e passou a denominar-se So- ciedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), incorporando a gerontologia social em seu espectro de conhecimentos (LOPES, 2000).
Preocupada com a qualidade do conhecimento de seus associados, a SBGG procurou sensibilizar profissionais da saúde para desenvol- ver conhecimentos gerontológicos com a finalidade de incentivar a adoção de um olhar multidisciplinar associado à prática geriátrica, in- dependentemente da idade da pessoa idosa, e estimular a adoção dos conceitos da gerontologia como fundamentais na assistência integral à pessoa idosa (SBGG, 2014). A SBGG realizou, em 1969, o seu primei- ro concurso para o título de Especialista em Geriatria e Gerontologia. Esse também foi o ano em que passou a fazer parte da Associação Mé- dica Brasileira (AMB). Neste concurso, aprovou como primeiro geriatra titulado o dr. Frederico Alberto de Azevedo Gomes. A importância da
titulação pela SBGG foi marcada em 1985, com a celebração dos primei- ros 50 títulos de especialista em geriatria e gerontologia (SBGG, 2014). E, em 1986, foram concedidos os títulos honoris causa em gerontologia a um grupo de profissionais de várias profissões que impulsionaram o desenvolvimento da gerontologia na SBGG e no Brasil (SBGG, 2014). Por analogia ao título de Especialista em Geriatria, criou-se em 1987 o título de Especialista em Gerontologia Social. No ano 2000, foi refor- mulado e passou a ser chamado Especialista em Gerontologia. Neste mesmo ano, foi criado o Departamento de Gerontologia.
Essas duas titulações, gerontologia e geriatria, fortaleceram imen- samente os estudos na área do envelhecimento e contribuíram com o reconhecimento da qualificação dos profissionais da área. Essas qualifica- ções, oriundas de ações educativas são valorizadas e exigidas para trabalhos como especialistas em diversos cenários, seja nos planos de saúde ou nas universidades para compor o quadro docente na área do envelhecimento.
DOS MEIOS DE DIVULGAR O CONHECIMENTO TÉCNICO-CIENTÍFICO
DA SBGG
Promovendo eventos que permitam o desenvolvimento de seus pares e sempre atenta à evolução dos mais modernos conceitos, a SBGG con- templa em sua abordagem aspectos biopsicossociais, consoantes com ações de organismos nacionais e internacionais, governamentais e não governamentais, diretrizes e políticas públicas, em seu caráter societá- rio multidisciplinar, caráter este reforçado por Rebellato et al. (2021) acompanhando a evolução científica das áreas da GG.
Entre 28 e 31 de maio de 1969, foi realizado o Primeiro Congresso Nacional de Geriatria e Gerontologia. Desde então aconteceram, até o ano de 2021, 22 congressos nacionais. Muitos desses congressos fo- ramintercaladosporJornadasNacionaisdeGeriatriaeGerontologia, num total de nove, as quais se realizaram nesta modalidade até o ano de 1996. Em 1991, a SBGG realizou o Primeiro Congresso do Comitê Latino Americano de Gerontologia (Comlat), em São Paulo. Em 1995, o I Congresso Pan-Americano de GG, também em São Paulo, sob a pre- sidência do dr. Norton Sayeg (SBGG, 2022); em 1999, o I Congresso de Geriatria e Gerontologia do Mercosul, sob a presidência do dr. Mau- rílio José Pinto, então presidente da seccional da SBGG do Paraná; e, 2005, a SBGG sediou o Congresso Mundial de Geriatria e Gerontologia da International Association of Gerontology and Geriatrics, presidido pelo dr. Renato Maia Guimarães.
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Educação em gerontologia: contribuição da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)
Estes eventos da SBGG sempre aportaram a última palavra e o es- tado da arte destas duas especialidades. Portanto, trazem conteúdos atualizados e de qualidade, legando a si a responsabilidade que impli- ca ser pioneira e, ao mesmo tempo, protagonista no desenvolvimento das ciências do envelhecimento no Brasil. Historicamente, a instituição adota programas de educação continuada e de atualização para divulgar e estimular profissionais em favor da especialidade e para seu fortale- cimento junto às demais sociedades científicas coirmãs (BGG, 2022).
O ensino da GG a partir da década de 1970 ganhou os serviços, os hospitais e as universidades quando foram criadas as primeiras resi- dências médicas e cursos de especialização. Foi também a década da internacionalização da SBGG, com a participação na II Jornada Argen- tino-Brasileira de GG (Geriatria e Gerontologia), que sediou a criação da Federação Latino-Americana das Sociedades de GG (FLASGG). As es- pecialidades cresciam no Brasil e no mundo e também crescia a SBGG Brasil afora (SBGG, 2022). Expandiam-se os conhecimentos na área e as ações desenvolvimentistas da sociedade. Em 1976, a SBGG partici- pou do primeiro estudo para conhecer a velhice no Brasil, encabeçado pelo Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS).
Ao longo do desenvolvimento da instituição, foram criadas as seccionais da SBGG, a do Rio Grande do Sul foi a primeira em 1968, se- guiram-se a da Bahia, no Ceará, na Guanabara (atual Rio de Janeiro), em Minas Gerais, em São Paulo, no Pará e em Sergipe. Outras seccionais surgiram a partir da década de 1980. Ampliou-se o leque de divulgação dos conhecimentos de GG e cresceu o número de associados e de inte- ressados nos estudos das novas especialidades (SBGG, 2014).
Em 1973, a PUC/RS criou seu Curso de Formação em Geriatria, es- pecialização lato sensu, sendo apoiado pelo governo japonês. Em 1979, oInstitutoSedesSapientiae,ligadoàPUC/SP,criouoprimeirocurso lato sensu de especialização em gerontologia social apoiado por mem- bros da comissão de Título de Especialista da SBGG (SEDES, 2016). Nas décadas de 1980 e 1990 houve um incremento na produção científi- ca com a criação de cursos lato sensu e strito sensu em gerontologia e geriatria, sempre com apoio da SBGG. Muitos dos professores, seus associados, tinham a SBGG como referência, fonte de inspiração e de saber gerontológico e geriátrico.
A SBGG mantém seminários e fóruns específicos para formação, apresenta diretrizes básicas para o currículo de ensino da gerontologia e da geriatria, e promove espaço de trocas frutíferas entre a educação
não formal e formal. A chancela da SBGG constitui-se, até a atualidade, um forte aval para a qualidade das formações de especialistas mesmo em cursos acadêmicos de especializações (SBGG, 2022). Valorizando a educação formal, considera as formações em lato sensu e strito sensu pré-requisitos para os concursos de título de especialista em geriatria e gerontologia e incorpora seus estudos e pesquisas nos eventos que realiza.
Desde o princípio, a sociedade está comprometida com o desenvol- vimento e aprimoramento técnico-científico e, também, de políticas públicas para idosos em nosso país. Em 1970, já apresentava uma série de normativas para o funcionamento de clínicas geriátricas e casas de repouso. Conhecida como Portaria 810/87 do Ministério da Saúde, que estabelece Normas de Funcionamento para Casas de Repouso, contou com a expertise de seus pares para ser elaborada e da SBGG como um todo para o seu lançamento. Essa portaria foi atualizada pela Anvisa.
Entre legislações locais, estaduais e federais, podemos destacar a contribuição de associados da SBGG para a Lei Orgânica do Idoso n° 8.842, de 04 de janeiro de 1994 e para o Estatuto do Idoso, Lei Federal n° 10.741, de 1° de outubro de 2003 (CAMARANO, 2016).
A preocupação da SBGG com a saúde integral da população idosa, sua funcionalidade e conceitos de autonomia, independência, vida ativa, envelhecimento saudável e participação social norteiam e reconhecem a importância da promoção dos aspectos positivos do envelhecimento, mitigando a dependência e valorizando o empoderamento e protago- nismo da pessoa idosa no seu mais amplo aspecto de direitos humanos, sociais e de saúde, promovendo uma educação técnico-científica e hu- mana com visão multi e interdisciplinar (BOECHAT, 2021).
PARA ALÉM DOS EVENTOS TRADICIONAIS
Em 2014, o Departamento de Gerontologia criou o projeto SBGG Vai às Escolas. Na evolução deste projeto foi lançado, em 2015, o Concurso Nacional de Redação como ação de intergeracionalidade, procuran- do sensibilizar a sociedade para a questão coletiva do envelhecimento populacional. A redação vencedora sempre é lida pelo premiado na abertura do Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia (SAN- CHEZ, 2022). Em 2023, o tema contemplou o etarismo.
Na área de publicações científicas, a SBGG deu início à edição de seus periódicos na década de 1960, com a Revista Brasileira de Geria- tria e Gerontologia (1969). Posteriormente vieram: Anais Brasileiros de GG (1977) e A Geriatria em Síntese, publicada de 1982 a 1988. Em 1983, foi criado o Boletim Informativo da SBGG (SBGG, 2014). Em 2007,
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Educação em gerontologia: contribuição da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)
a Geriatrics, Gerontology and Aging (GGA) é lançada como periódico oficial da instituição, que já publicou mais de 600 artigos científicos (COELHO FILHO, 2007).
Os primeiros livros brasileiros de geriatria foram escritos por as- sociados da SBGG que eram pioneiros na literatura médica dessas especialidades. Entre eles destacamos Eurico Thomaz de Carvalho Fi- lho, cuja obra se intitula Geriatria: Fundamentos, Clínica e Terapêutica, e Aloysio Amâncyo e P. C. Uchôa Cavalcanti, denominada Clínica Ge- riátrica, ambas publicadas pela editora Atheneu na década de 1970. Depois foi publicado Sinais e Sintomas em Geriatria, de Renato Maia Guimarães. Outros se seguiram…
Em agosto de 2001, reuniu-se na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo um grupo de idealistas e vocacionados das áreas de geriatria e gerontologia brasileiras, recém-chegados do XVII Congresso Mundial da IAGG. A reunião tinha como anfitrião o dr. Milton Gorzoni (SP), os médicos geriatras Elizabete Viana de Freitas (RJ), Flávio Aluizio Xavier Cançado (MG), Renato Moraes Alves Fabbri (SP), as psicólogas espe- cialistas em gerontologia Ligia Py (RJ) e Anita Liberalesso Neri (SP) e a assistente social e especialista em gerontologia Sonia Maria da Ro- cha (RJ). Tinham como objetivo, apoiados pela SBGG, produzir a obra científica Tratado de Geriatria e Gerontologia. A publicação foi lançada em primeira edição, tendo como presidente da SBGG a Dra. Elizabete Viana de Freitas, no ano de 2002, encontra-se na quinta edição e é edi- tada há 20 anos. Inclui autores especialistas em GG de todo o país. É um espaço privilegiado de consolidação e divulgação de conhecimento, estudos, pesquisas e clínica. Livro-texto para profissionais, estudiosos e pesquisadores das áreas do envelhecimento (NERI, 2022). A quinta edição traz, na parte 5 e 10, temas específicos de ensino, pesquisa e edu- cação de gerontologia e geriatria (FREITA, PY, 2022).
A SBGG desenvolve também o Programa de Atualização em GG (Pro- ger) por assinatura, em parceria com a Secad da editora Artemed. São fascículos trimestrais, com capítulos de especialistas da SBGG. Este pro- grama pontua no currículo vitae para a prova de título de especialista em geriatria e é aberto aos demais profissionais interessados.
Durante a construção dessa história ao longo de seis décadas, várias comissões produziram materiais científicos de apoio, artigos, guias, manuais, diretrizes e orientação de práticas profissionais que são uti- lizados como referências teóricas no aperfeiçoamento, na prática e no apoio para treinamentos especializados. Alguns foram elaborados em parceria com outras sociedades científicas e estão disponíveis no site
da SBGG (SBGG, 2023). O site traz um guia de orientação de publica- ção de conteúdos específicos das áreas de GG para jornalistas e, mais recentemente, um Guia de Telegeriatria relativo à telemedicina, tema que ganhou notoriedade e ampliou-se no mundo, incluindo o Brasil, no ano de 2020, durante a pandemia do SARS-CoV-2 (coronavírus). Foi regulamentado como uma vertente da telehealth (telessaúde), que se utiliza da tecnologia da comunicação para oferecer assistência à saú- de a distância (FRAGA, FRAGA JR. 2022).
O “jogo de cartas”, denominado Cartas na Mesa, desenvolvido nos Estados Unidos pela Coda Alliance, que firmou acordo de exclusivi- dade com a SBGG, foi traduzido e adaptado no Brasil pela Comissão Permanente de Cuidados Paliativos e está disponibilizado como um recurso gerontológico, facilitador na abordagem das vontades e pre- ferências em questões relacionadas ao final da vida (SBGG, 2023). Esta mesma comissão criou o aplicativo Minhas Vontades, que estimula a reflexão sobre a autonomia em saúde e disponibiliza conteúdos sobre o tema (SBGG, 2023).
Outras comissões de caráter temporário ou permanente contri- buem com transmissões ao vivo para educação continuada e estão disponíveis por meio das redes sociais com aulas, painéis e discussões de temas relevantes à clínica, à pesquisa, ao ensino e à educação para a saúde, além de políticas públicas. Ficam disponíveis em forma de gravações e estão acessíveis para consultas, estudos, pesquisas e com- partilhamentos. Elas são apresentadas pela SBGG Nacional ou pelas seccionais. Já o espaço próprio para publicações denominado Geron- to em Foco é franqueado aos associados e encontra-se no site da SBGG para comunicações escritas sobre temáticas variadas.
As mídias sociais são fortes aliadas na divulgação de assuntos de interesse para o público em geral. Coordenada pela Comissão de Co- municação, têm beneficiado a permeabilidade na relação da SBGG com a sociedade, com organismos governamentais e não governamentais, com os próprios associados e com as demais sociedades científicas, igualmente ligadas à Associação Médica Brasileira (AMB), possibili- tando a socialização de um conhecimento científico de qualidade e seguro na área da GG.
CONCLUSÃO
Em nosso país, têm-se a impressão que o estudo do envelhecimento humano é mais recente pelo fato de que a ocorrência da transição de-
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Educação em gerontologia: contribuição da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG)
mográfica e a mudança na pirâmide populacional aconteceram a partir da segunda metade do século XX.
É inegável a importância e o protagonismo da SBGG no desenvolvimento nacional da geriatria e da gerontologia, disciplinas indissociáveis na atenção global à pessoa idosa, em estudos, pesqui- sas e na clínica. Criada em meio ao surgimento de uma especialidade nova, a SBGG enfrentou desafios, abriu caminhos, criou oportunida- des de ensino, aprendizagem e qualificação técnico-científica para seus associados. Não se intimidou diante da complexidade que implica o envelhecimento humano em um país com tanta diversidade cultural como o nosso. Frente às desigualdades sociais e à extensão territorial do país, estendeu seus braços às novas especialidades. Tampouco se intimidou com a velocidade da multiplicação de conhecimento que o mundo experimenta a cada curto espaço de tempo. Soube e sabe li- dar com as demandas impostas utilizando as habilidades e a sabedoria de seus dirigentes para que siga crescendo, se desenvolvendo e contri- buindo sempre.
A SBGG promove a interdisciplinaridade como eixo estruturante na forma de apreensão dos seus objetos de estudo, pesquisas e inter- venções, que são o envelhecimento, a velhice e a pessoa idosa. Estende à comunidade, à sociedade civil organizada, aos organismos gover- namentais e não governamentais, às universidades, aos hospitais e serviços suas incontáveis contribuições comprometidas com a quali- dade de vida na velhice.
Na atenção à saúde da pessoa idosa vai desde a atenção primária à quaternária, alcançando o final de vida e os cuidados paliativos. Vigi- lante na prática especializada e na ciência como um todo, está atenta às metodologias e novas tecnologias, aos avanços da ciência e ao apri- moramento da qualificação profissional e de serviços, sempre pautada em princípios éticos e com sentido social.
Revisitar a história revela os bons frutos que nos trazem a luta e o trabalho árduo e dedicado dos pioneiros nesta caminhada. A SBGG investe na capacitação de seus profissionais para a atuação nos diferen- tes cenários e níveis de assistência de complexidade do cuidado, com o compromisso de manter todos seus associados atualizados, sem te- mer a velocidade da produção do conhecimento nesta era digital, da internet, dos aplicativos, das plataformas avançadas e mesmo da In- teligência Artificial (IA), fazendo destas suas aliadas no cumprimento da sua missão.
Autoras:
Simone Fiebrantz Pinto
Ana Lucia Fiebrantz Pinto
Maurilio José Pinto
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Artigo 2
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