Darcique Batista, coordenadora de creche em Guarulhos | Foto: Arquivo pessoal
*Por Barbara Martins S. da Conceição e Carla Gonçalves Cardoso
Distanciamento social, trabalho home office e aulas remotas ou suspensas. A pandemia de COVID-19 trouxe os escritórios e as escolas para dentro de casa e obrigou as instituições de ensino a encontrarem novas formas para realizar o seu trabalho educativo e dialogar com alunos e responsáveis. Na educação infantil, um desafio que se apresentou com ênfase foi o da manutenção de vínculos entre as crianças e suas famílias e as escolas. O documentário “Profissionais da Educação Infantil: redes de apoio em tempos de pandemia” aborda a realidade de algumas profissionais da Educação Infantil da rede pública de Guarulhos, como se reinventaram dentro do cenário pedagógico, como se deu o diálogo e o suporte com as famílias com que trabalham e, também, como elas mesmas adaptaram as suas rotinas como profissionais, mas também como mulheres.
Marcado pela pandemia de COVID-19, o ano de 2020 aproxima-se do fim e apesar de ainda não conseguirmos elaborar exatamente todos os seus acontecimentos, algumas palavras, que talvez caracterizem esse período, parecem se destacar quando buscamos olhar para como os indivíduos e comunidades enfrentaram adversidades e REINVENÇÃO é uma delas.
Acompanhamos o desenrolar de situações críticas em relação às questões sanitárias, políticas, sociais e educacionais. No Brasil, aliada ao distanciamento social, fechamento das escolas e em muitos casos trabalho remoto, a dificuldade de acesso à internet por uma extensa parcela da população foi um grande desafio a ser encarado. Profissionais da educação se viram obrigados a encontrar formas de o ano letivo, que havia apenas começado, não parar. Entretanto, quando se trata da educação infantil, quando os estudantes são crianças da primeira infância, faixa etária que requer cuidados constantes, esses desafios apresentam particularidades.
O minidocumentário “Profissionais da Educação Infantil: redes de apoio em tempos de pandemia” traz depoimentos de professoras, coordenadoras e diretoras de quatro escolas da rede municipal de ensino de Guarulhos, nos quais observamos os processos de reinvenção dessas profissionais para que pudessem se apoiar mutuamente, exercer seu trabalho e manter vínculo com crianças e famílias.
E quais estratégias seriam utilizadas para transmitir o conteúdo pedagógico considerando os recursos de que as famílias dispõem? As educadoras tiveram que reinventar o seu processo de trabalho, refletir e avaliar constantemente o que era proposto para que assim os alunos pudessem ter um conteúdo de qualidade e que fosse aliado à prática lúdica, sempre presente na primeira infância. No entanto, o aprendizado na educação como um todo, mas principalmente para a faixa etária da primeira infância, não se resume a conteúdos pedagógicos. Trata-se de relação, de afeto, de vínculo, de olhar, de toque… Trata-se também de estar junto e apoiar a criança nas suas investigações e descobertas. E como manter todos esses elementos no ensino remoto?
Aliadas à abordagem dos conteúdos, as equipes relatam a importância de iniciativas que levassem a imagem da professora, figura de referência do cotidiano escolar, para as crianças e que também trouxessem um retorno das crianças para a equipe. Drive-thru em datas comemorativas (como no caso das celebrações do Dia das Crianças em que alunos acompanhados de suas famílias foram convidados a ir até as escolas e, sem sair dos carros, encontraram suas professoras fantasiadas); mensagens afetuosas de saudades, fossem por meio de vídeos, desenhos ou mensagens escritas, depoimentos das crianças falando sobre brincadeiras que suas professoras lhes ensinaram, são narrados com carinho pelas equipes.
Mais um ponto de reinvenção foi a presença de outro interlocutor durante as atividades remotas: alguém da família dos alunos. Se na escola a comunicação é direta com a criança, as atividades enviadas durante a pandemia necessitavam de uma comunicação intermediada pelo adulto que, por sua vez, orientaria a criança na realização da atividade. Essa nova dinâmica representou um desafio para famílias que se viam às voltas com trabalho e dificuldade de acesso à internet e, conforme relatam as educadoras, começou a trazer um maior reconhecimento e valorização para o seu trabalho.
A reorganização da rotina, entretanto, não foi exclusividade para as famílias nesse caso. A conciliação da jornada de trabalho com a rotina pessoal também foi necessária para professoras, coordenadoras e diretoras. Profissionais na maioria mulheres, muitas vezes mães com crianças em casa e, também, com todos os outros afazeres cotidianos. Incertezas sobre os novos meios de comunicação e sobre a operação de programas e aplicativos com os quais nunca havia sido necessário lidar até o momento também fizeram parte da nova e desafiadora rotina, exigindo criatividade e muito apoio mútuo entre as profissionais das equipes.
Nesse momento, anseios e receios em torno da volta às aulas presenciais se intensificam. O cenário ainda é de bastante incerteza. No entanto, as profissionais dessas quatro escolas afirmam um desenvolvimento e fortalecimento expressivos das equipes durante esse ano, reconhecendo que os aprendizados cultivados e colhidos nesse período irão reverberar e serão de extremo valor daqui em diante. Seria justo também esperar que a experiência de 2020 nos faça sempre lembrar, por meio do reconhecimento e da valorização de seu trabalho, dessa importante rede de apoio que são as profissionais da educação infantil.
*Barbara Martins Sampaio da Conceição é artista da cena, arte-educadora e educadora de atividades infanto-juvenis do Sesc Guarulhos.
*Carla Gonçalves Cardoso é pedagoga com especialização em infância, educação e desenvolvimento social e educadora de atividades infanto-juvenis do Sesc Guarulhos.
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