Foto: Equipe Curumim do Sesc Santos
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Educadoras e educadores do Sesc Santos respondem a 4 perguntas sobre educação integral e cidades educadoras.
O que é Educação Integral?
Diferente de educação em tempo integral, a educação integral é pautada por um pensamento pedagógico qualitativo e humanizador. Um olhar integral e sistêmico para o sujeito em seus diferentes aspectos: cognitivo, social, emocional, físico e moral. Que considera sua história de vida, suas competências socioemocionais, seus desejos e sensibilidades. Olhar este que o considera enquanto ser social, incluindo portanto suas relações familiares, características socioculturais e peculiaridades geográficas do seu território.
Uma educação pautada na articulação de diversos saberes (formais, não formais, ou informais), na perspectiva de educação permanente, que se desenvolve em várias fases e ao longo da vida, que constrói esse enxergar-agir de forma integral e sistêmica com todos os agentes do sistema educativo, não apenas para os educandos, mas também as famílias e os próprios agentes educadores.
Uma educação que tem como prerrogativas a escuta, as relações e a convivência, o respeito às diferenças, a inclusão, e o fomento da construção coletiva, potencializando um ser pensante, um cidadão reflexivo. Na perspectiva de uma cidadania reflexiva e de integralidade do ser, considerando suas emoções, no nosso atual contexto sócio-político-cultural, um ponto urgente e que talvez seja um dos nossos calcanhares de Aquiles (não só na educação) seja a raiva. Lembrando um excerto de Paulo Freire na Pedagogia da Autonomia: “Está errada a educação que não reconhece na justa raiva, na raiva que protesta contra as injustiças e contra a deslealdade, contra o desamor, contra a exploração e a violência um papel altamente transformador. O que a raiva não pode é, perdendo os limites que a confirmam, perder-se em raivosidade que corre sempre o risco de se alongar em odiosidade.“
Quais as condições objetivas para que a educação integral se concretize?
Em primeiro lugar, garantir a equidade e a igualdade de oportunidades, contemplando a diversidade. Também, a construção de ações intencionais e objetivos no processo educativo, respaldada por condições de trabalho favoráveis para os agentes educadores: Tempo, Planejamento, Avaliação do processo, Mensurações qualitativas, Formação e desenvolvimento dos educadores. Falando de algumas experiências que temos no programa Curumim (programa de educação não-formal destinado a crianças de 7 a 12 anos desenvolvido pelo Sesc SP em todas as suas unidades) no Sesc Santos:
– Atuar numa perspectiva inter e transdisciplinar (com linguagens artísticas, físico-esportivas, alimentação, saúde, diversidade cultural), o livre brincar, além de trabalhar com processos que incentivem autonomia, o empoderamento, a participação e a corresponsabilidade. Como exemplo, um processo que estamos experimentando neste ano, inspirados na experiência do Âncora, de comissões e assembleias com as crianças, para construção conjunta sobre combinados e atividades, mediação de conflitos. (Uma das comissões mais importantes, aliás, é essa em que as próprias crianças assumem o processo de mediação de conflitos, com a supervisor do educador, claro).
– O fortalecimento do tripé do processo educativo: crianças, famílias e os educadores. Seja no dia-a-dia ou nos encontros de pais, em mediações ou mesmo decisões sobre questões que aparecem no processo educativo das crianças que atendemos. Essa construção conjunto é premissa desde a construção do Projeto Político Pedagógico (está posto que todo PPP deve ser construído conjuntamente com esses agentes, mas é uma premissa que nem sempre se cumpre). Por outro lado, tem quem o faça de maneira exemplar: O Centro Social Marista Lar Feliz, de Santos, por exemplo, tem uma experiência riquíssima de construção do PPP junto-com as famílias e crianças de 0 a 5 anos.
– Promover uma ação integrada também com outros agentes da rede educadora: escolas, centros de atenção psicossocial, igrejas. Uma articulação entre agentes das áreas da saúde, educação, assistência e sociedade civil. Aqui na Baixada Santista temos uma experiência modelar disso: o Projeto Camará, de São Vicente. Por fim, uma condição objetiva mas que é subjetiva: a construção de um ambiente educador (seja no ambiente da escola ou da família), pautado pela escuta, acolhimento, convivência, olhar para o coletivo.
O que é uma Cidade Educadora?
Espelhando o processo e as premissas de uma educação integral, uma cidade Educadora é uma cidade pautada pela preocupação com os sujeitos. Que propicie e potencialize a integralidade do ser humano. Uma cidade que se pauta por valores e uma visão humanista. Que favorece o exercício de habilidades empáticas, flexibilidade, alteridade, acolhimento. É uma cidade sustentável, em termos ambientais e das relações que propicia com seus cidadãos e entre eles. Que favorece a convivência, através e junto-com seus espaços públicos.
Uma cidade com relações humanas horizontalizadas, que propicia e promove a escuta, visibilidade e participação de todos os cidadãos. Em que haja equidade: igualdade de oportunidades e respeito à diversidade. Uma Cidade Educadora é uma cidade que propicia e incentiva a construção, o fortalecimento e a articulação de comunidades educadoras. Que valoriza a formação da escola e também além dela: os conhecimentos e experiências da comunidade, as oportunidades de ensinar e aprender oferecidas pelas diversas comunidades que a habitam. Que tem a educação como elemento de integração, centralidade nas suas políticas.
O que vocês destacariam como uma ação que contribui para a construção de uma cidade educadora?
Pensando na dimensão integral do ser humano, para a construção de uma cidade educadora é salutar garantir condições sociais justas e direitos básicos, como a educação para todos. (Pode soar meio batido dizer isso, mas estamos num momento em que precisamos frisar e lutar até na garantia dos direitos básicos). Também contribuem para essa construção ações que propiciem que todos os seus cidadãos possam, de fato, exercerem seu papel de cidadão educador dentro da comunidade educadora que é a cidade: escuta da população, mediação com ela, conscientização da importância dos processos educativos (sejam eles formais ou não).
É fundamental ainda humanizar os espaços, ter espaços que propiciem uma educação humanizada. Habitar os espaços públicos, promover a convivência neles, ressignificá-los (também através do lúdico). Aqui no Curumim de Santos, temos uma ação regular de ocupação dos espaços públicos: seja no dia-a-dia das nossas atividades, em saídas para a praia e as praças do entorno. Seja em passeios com as crianças ou os pais para pontos históricos da cidade, museus, passeios ciclísticos. Tentando fomentar o pertencimento e apropriação desses espaços.
Ter ações realistas e bem amparadas são igualmente importantes para a construção de uma cidade educadora: ter intencionalidade nas ações da cidade e para ela, no caso, através das políticas públicas. Construir e promover políticas públicas intersetoriais, e a formação de parcerias, redes, articulações entre governo – sociedade civil – iniciativa privada. E aqui aproveitamos tudo isso para destacar uma ação que acontece na cidade de Santos, da qual o Sesc é um dos realizadores: a Semana Mundial do Brincar. Começou como uma iniciativa da sociedade civil, através da Aliança pela Infância em parceria com o Sesc. E em Santos ganhou status de política pública, hoje mobilizando diversas secretarias (cultura, esportes, turismo, assistência). E através disso, teve o seu fortalecimento também entre outros agentes: universidades, grupos artísticos.
Finalizamos lembrando que Santos é signatária da Carta das Cidades Educadoras. É importante construir políticas públicas e aderir a documentos como esses. É importante também fazer valer esses documentos na prática. E, para isso, garantir um olhar qualitativo e uma formação qualificada aos diversos agentes que irão colocá-los em prática: os diversos agentes educadores – seja da área da educação, assistência, saúde, cultura.
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Texto escrito pelas educadores e pelos educadores dos programas Curumim e Espaço de Brincar do Sesc Santos
Alessandra Politto, Aggeu Luna, Felipe Lucchesi, Joice Germanio, John Koumantareas, Lígia Azevedo, Maricelma da Silva, Renata Cabral, Roseni Coelho, Tássia Pecego.
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Informações sobre inscrições para o programa Curumim, no Sesc Santos.
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