De 19 a 28 de abril, a companhia Gumboot Dance Brasil apresenta o espetáculo inédito Elevados, no teatro do Sesc Vila Mariana. A montagem encerra a trilogia do grupo, formada por Yebo (2011) e Subterrâneo (2018) – esse último, vencedor de melhor coreografia do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).

Em Elevados, o grupo traz uma reflexão sobre a história e a cultura das comunidades pretas em uma narrativa não-linear. Vindo do futuro para o presente, a produção mostra o percurso de uma menina negra que decide caminhar por longas distâncias, atravessando mundos, para chegar ao topo da montanha e dançar para os deuses da chuva. 

Na visão do diretor Rubens Oliveira, o “Gumboot é a arte de tremer a terra com os pés e Elevados é a definição para algo que expande as possibilidades físicas e espirituais”.  Durante o espetáculo, o conceito de elevação é abordado de diversas maneiras, com destaque para a dimensão espiritual, social, mágica e tecnológica ancestral. Por meio da dança e da música, é explorada a conexão dessas comunidades com a natureza, com o sagrado e com os ancestrais, ressaltando a importância da preservação dessas conexões. 

A curta temporada terá seis apresentações, às sextas e sábados, às 21h e aos domingos, às 18h. Os ingressos para o espetáculo estão disponíveis no app Credencial Sesc SP e nas bilheterias do Sesc em todo o Estado.

Elevados: dos ensaios à estreia

Assim como em Yebo e Subterrâneo, o espetáculo é marcado pela energia visceral do Gumboot, uma dança sul-africana em que os dançarinos utilizam botas de borracha para produzir sons, enquanto executam coreografias batendo com os pés e com as mãos. É da territorialidade africana que a companhia traz a referência do afrofuturismo e da ancestralidade para construir um espaço de rito, onde a dança e a música se unem em um único corpo e produzem uma comunicação potente e poética.

O grupo é destaque na cena brasileira por ser o único no país a trabalhar essa dança, segundo a companhia. A Gumboot Dance Brasil surgiu em 2008, a partir da pesquisa do bailarino e coreógrafo Rubens Oliveira, que conheceu a dança por meio do grupo Kholwa Brothers, da África do Sul. Formada por dezesseis bailarinos, a companhia utiliza-se de base rítmica, da percussão corporal e dos cantos como elementos principais, assim como a constante articulação entre as riquezas culturais das duas nações. Pontos de semelhança são explorados no trabalho de pesquisa, trazendo uma releitura da técnica gumboot ao contexto cultural brasileiro, que traz ainda a musicalidade do país mesclada às celebrações e às histórias de resistências negras daqui.

O elenco atual foi formado há dois anos, ainda na fase de pesquisa do espetáculo Elevados, e além de ter exclusivamente bailarinos negros, é constituído majoritariamente por mulheres. Isso porque, se o gumboot nasce no ambiente das minas, com uma estética e de uma necessidade masculina – como representado em Yebo, ele evolui com o tempo e passa a vivenciar acima de tudo o corpo feminino, quando segue para o ambiente urbano – como caracterizado pela protagonista de Elevados. Segundo a equipe, o critério de seleção dos artistas ainda avaliou a estilo pessoal de cada bailarino para formar um corpo diverso também nas linguagens da obra.

Essa mesma versatilidade e pluralidade do elenco foram também objetos de pesquisa do próprio diretor, que mais tarde viriam a compor o resultado final do espetáculo. Rubens Oliveira é formado como coreógrafo pelo Método de Reeducação do Movimento Ivaldo Bertazzo e desde então dedica-se à pesquisa em dança, experimentações estéticas e tecnológicas . Além do Gumboot Dance Brasil, também já atuou na criação do Núcleo de Dança Pélagos – projetos com jovens do Campo Limo e entorno e no Projeto Chega de Saudades, com o foco de colocar no palco pessoas não profissionais.

No ano em que completa vinte anos de carreira, o diretor celebra esse momento apresentando a montagem final da trilogia que iniciou em 2011. Se em Yebo e em Subterrâneo, as narrativas denunciam situações de opressão e racismo, Elevados encerra de forma mais otimista, com uma narrativa de afirmação de identidade e de ancestralidade atemporal:

  

“Elevados faz uma volta por cima e começa a construir uma ideia de identidade: do quão poderoso você é e do quanto sua ancestralidade está no passado, no presente e no futuro, te acompanhando. É um espetáculo para cima, tanto na coreografia, quanto na narrativa.” – Rubens Oliveira

A apresentação encerra a programação de Abril, Mês da Dança, projeto com o intuito de apresentar modos distintos de dançar e que surgiu a partir da efeméride de 29 de abril, o Dia da Dança e data de nascimento de Jean-Georges Noverre (29 de abril de 1727 – 19 de outubro de 1810), bailarino, coreógrafo francês e autor do trabalho Cartas sobre a Dança.A segunda edição do projeto dá enfoque às danças negras, com bailes de funk, de passinho e de música afro, com a Clarin Cia de Dança e a Trupe Benkady,  além de um bate-papo com a própria Cia Gumboot Dance Brasil.  Conheça mais sobre as ações de dança realizadas pelo Sesc Vila Mariana durante o mês de abril.

Ficha técnica 

Direção geral: Rubens Oliveira 

Assistente de direção: Munique Costa 

Direção e produção musical: Rubens Oliveira 

Ensaiadoras: Pamela Amy e Silvana de Jesus 

Elenco: Ton Moura, Lucas Santana, Silvana de Jesus, Pamela Cisal, Pamela Amy, Lion de Oliveira, Lilian Martins, Moises Matos, Cintia Abrantes, Cinthia Tomaz, Keithy Alves, Luciana Barros, Munique Costa, Washington Gabriel, Mayara Vidal e Jo gomes. 

Iluminadora: Juliana Jesus 

Cenografia: Karen Furbino 

Figurinista: Maiwsi Ayana 

Composição musical: Rubens Oliveira e Dani Lova 

Pós produção musical e instrumentista: Webster Santos 

Preparação física: Glauco Muller 

Produção: Washington Gabriel 

Assistente de produção: Cauã Oliveira 

Produtora associada: Com.uns 

Mídias sociais: Dudeiss 

Pesquisa de design gráfico: Gus

Serviço

Elevados, com Cia Gumboot Dance Brasil

De 19 a 28 de abril de 2024.

Sessões às sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 18h.

Local: Teatro Antunes Filho (Sesc Vila Mariana – R. Pelotas, 141 – Vila Mariana, São Paulo

Classificação: 12 anos

Ingressos de R$15 (credencial plena) a R$50 (inteira), com venda online no app Credencial Sesc SP e nas bilheterias da Rede Sesc.

Confira o material de mediação aqui.