Por Luiza de Oliveira Silva, agente de educação ambiental do Sesc Piracicaba
Ilustrar o território em um plano qualquer é uma prática antiga. Em pedaços de madeira, rochas ou superfícies de papel, a representação dos aspectos físicos e sociais dos espaços tem acompanhado a história das civilizações. Longe da representação absoluta do território, os processos de mapeamento carregam interesses, narrativas e relações de poder. Essas expressões visuais não são únicas e estáveis, pois se relacionam com um fluxo contínuo de informações espaciais e relacionais, tão mutáveis quanto a própria vida.
Situado às margens do rio de mesmo nome, Piracicaba é um município do interior do Estado de São Paulo, fundado em 1767. Sua história conversa com os ciclos econômicos de um país escravocrata, com as correntes migratórias, o desenvolvimento agroindustrial e tecnológico e com as universidades. Também carrega forte relação com o rio que o batiza e com as culturas negra e caipira.
Com uma infinidade de informações socioambientais e culturais, quais histórias já foram contadas sobre esse território? Se há anos vivemos o efeito de uma lógica colonial e mercantilizadora, que aniquila culturas, fragmenta o ambiente, domina a natureza e desconecta pessoas – quais narrativas podemos resgatar ou construir?
De um lado, o paradigma da fragmentação nos distancia da coletividade, de outro, a existência de grupos mobilizados, movimentos sociais, projetos, iniciativas, coletivos e instituições voltados ao bem comum, aponta possibilidades de um mundo mais justo, diverso e plural, com respeito à convivência e à vida em todas as suas formas.
Daí nasce o EngrenAgem. Por meio de um processo de mapeamento de grupos e iniciativas que atuam sob o horizonte da cultura, da cidadania e da sustentabilidade, o projeto objetiva criar o Mapa Socioambiental e Cultural de Piracicaba, a ser disponibilizado no ambiente virtual para acesso público. Além de ampliar a visibilidade destas iniciativas, busca fomentar a adesão de novos adeptos aos grupos já existentes e as conexões entre os próprios grupos.
O termo EngrenAgem traduz a ideia das partes que se complementam, de peças que se encaixam, se acionam mutuamente e impulsionam uma à outra, imprimindo potência nos movimentos de transformação. Olhar para o território sob essa perspectiva nos permite (re)conhecer iniciativas que resistem e persistem com suas pautas, bandeiras e frentes de ação e nos possibilita balançar paradigmas e fortalecer narrativas democráticas e inclusivas que valorizam as especificidades das lutas e também suas interseccionalidades.
Na etapa piloto do projeto EngrenAgem, 83 grupos se cadastraram por meio de um formulário digital. As categoriais relacionadas às formas de organização englobam coletivos, movimentos independentes ou redes; grupos de pesquisa ou de extensão universitária; associações, cooperativas, ONGs ou institutos; conselhos, comissões ou comitês com participação popular; e órgãos públicos ou iniciativas privadas com programas permanentes na área sociocultural/ambiental.
Diversos foram os temas apontados como área de atuação principal ou como temas transversais e de interesse. Dentre eles: desenvolvimento humano e educação não formal, comunidades vulneráveis, proteção, preservação e conservação da natureza, participação social e cidadania, gênero e sexualidade, questões raciais e combate ao racismo, ações artísticas e culturais, geração de renda e empreendedorismo, acessibilidade, alimentação, saúde e lazer.
Uma vez publicizado no meio digital, o mapa poderá ser acessado por pessoas interessadas, além de expandido e atualizado. Todavia, manter um processo de mapeamento vivo está além do mapa em si: sozinho, ele não é suficiente. Fazer a engrenagem rodar demanda relacionamento com o território, mobilização social, participação e sentido de identidade e pertencimento.
Concomitantemente ao processo de mapeamento, o Sesc Piracicaba tem desenvolvido ações junto às comunidades, coletivos, movimentos, artistas e ativistas locais. Dentre eles, o projeto Articulando Utopias, que busca refletir como os diversos movimentos que lutam por direitos podem atuar de forma mais integrada e sustentável; o projeto Territórios do Comum, que trabalha questões relacionadas à geração de renda, acessibilidade e sustentabilidade; apoio aos projetos da cidade, como o Corredor Caipira: Conectando Paisagens e Pessoas e a Horta Comunitária da Paulicéia; e a iniciativa institucional Tecido Solidário, para a confecção de máscaras de proteção com envolvimento direto de grupos comunitários.
Identificar os diferentes aspectos do território e entender suas complexidades, oportunidades e desafios é uma forma de criar pontes, canais dialógicos e vínculos de interdependência. O bem comum é a força motriz e as coletividades são peças fundamentais nessa EngrenAgem, que se move para uma cultura de conexão.
Para mais detalhes e infomações sobre o projeto entre em contato com luiza.silva@sescsp.org.br.
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Para ampliar possibilidades de trocas de conhecimentos e práticas entre as pessoas e coletivos envolvidos e interessados no tema, o Sesc São Paulo realiza de 1º a 15 de agosto o projeto Territórios do Comum, ação em rede voltada ao tema da cidadania em suas múltiplas dimensões e possibilidades de colaboração entre iniciativas sociais.
A programação está dividida em dois eixos: mobilização social, que aborda estratégias de desenvolvimento de ações comunitárias voltadas para o bem comum, para a geração de renda, acessibilidade a pessoas com deficiência e sustentabilidade; e tecnologias sociais, que buscam ampliar a inclusão social por meio da utilização de tecnologias digitais e ancestrais, para alcançar a melhoria das condições de vida levando em consideração aspectos sociais, ambientais e culturais do contexto local.
Para saber mais e acompanhar a programação completa, acesse: sescsp.org.br/territoriosdocomum.
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