Espaços de educação não-formal na perspectiva anticapacitista

25/09/2024

Compartilhe:

Por Karen Montija

Mediar o conteúdo de artes visuais para os mais diversos perfis de indivíduos é inquietante e desafiador. Cada espectador de uma obra artística carrega seu repertório, seus interesses, suas referências e sua forma de experimentar/interagir com o mundo.

A necessidade do toque para crianças abaixo dos cinco anos de idade, a dificuldade no contato visual com um grupo de adolescentes em conflito com a lei, o atendimento às pessoas com deficiência intelectual, são exemplos de situações que exigem mais atenção e o educativo é espaço fértil para esse debate.

No que diz respeito às pessoas com deficiência, o acesso à cultura se apresenta de forma desigual. Mais que educadores dispostos para os receber, os espaços culturais necessitam oferecer uma estrutura de acolhimento que perpasse a arquitetura, a comunicação e a experiência estética de seus visitantes. Considerar apenas um desses pontos é tratar o assunto de maneira parcial, ignorando as desigualdades sociais, os diversos códigos culturais e históricos e a própria fruição com a arte.

Alguns espaços apresentam a mediação voltada à acessibilidade de uma forma predominantemente assistencialista, em que a deficiência do visitante é vista como “falta” a ser suprida. A significação e sentir muitas vezes são deixados de lado para que se faça o reconhecimento/descrição da obra e do espaço, até mesmo por pré-julgamentos de que o visitante não terá “capacidade” ou condições cognitivas para “compreender” a exposição.

Em meio a este cenário, escutar as próprias pessoas com deficiência, entendendo que todo sujeito/corpo tem seu potencial e sua voz, é fundamental para conscientização e diretriz de um trabalho acessível. Por isso, pergunto: existem pessoas com deficiência em seu espaço de trabalho?

Mais que o aprimoramento de uma mediação, trabalhar com acessibilidade é também engajamento político que assegura o direito a cultura de todo e qualquer cidadão.

Karen Montija é Mestre na Escola de Comunicação e Arte (ECA) da USP, cuja pesquisa é em Acessibilidade para pessoas cegas em espaços culturais. Formada em Artes Visuais (Bacharelado/Licenciatura) pelo Instituto de Artes da UNESP e Técnica Fotográfica pelo Senac. É fundadora e diretora da empresa AKA Projetos Culturais, em que presta serviços de arte, educação e acessibilidade, atendendo instituições como o Sesc SP e o CCBB SP. É mediadora cultural há 17 anos e desde 2012, pesquisa e cria objetos mediadores, ambientes interativos e ações educativas interdisciplinares que medeiam Artes Visuais e Patrimônio Cultural com Acessibilidade Estética, para os mais diversos perfis de público – incluindo espaços sensoriais que atendem cegos e autistas, teatro e música para surdos e programa para pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Conteúdo relacionado

Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.