Inspirado em levante popular baiano e idealizado pelo Sesc São Paulo, ‘Uma leitura dos Búzios’ tem estreia prevista para novembro de 2022

Idealizado pelo Sesc São Paulo, o espetáculo ‘Uma Leitura dos Búzios’ traz a discussão das questões do Brasil contemporâneo, racismo e manipulação da história a partir do movimento político que aconteceu em Salvador (BA), em 1798, conhecido como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates — inspirado nos ideais da Revolução Francesa (1789–1799) e na Revolta de São Domingos, atual Haiti (1791–1804). A estreia está marcada para novembro de 2022, com temporada até janeiro de 2023, no Teatro Antunes Filho, Sesc Vila Mariana, na capital paulista.

Em cena, 27 atores e três músicos de diferentes regiões do Brasil com forte presença da música percussiva e eletrônica. Quem assina a direção é Márcio Meirelles, com texto de Mônica Santana e coordenação de pesquisa de Gustavo Melo Cerqueira. As canções são compostas por Jadsa e João Milet Meirelles, que também é responsável pela direção musical. A movimentação física e coreográfica dos atores, dirigida por Cristina Castro, incorpora elementos da dança contemporânea, de rua e afrobrasileira, que são reforçadas por um vídeo criado por Rafael Grilo.

Racismo, participação política e apagamento da história

Segundo o babalorixá, ator, diretor e dramaturgo, Gustavo Melo Cerqueira, 48, o espetáculo não trata especificamente das questões da população negra, mas vai abordar outras questões políticas que estão relacionadas com a questão negra. “Não há como falar em sociedade brasileira sem falar em racismo antinegro, sobretudo, as diversas formas de racismo. A peça está muito mais relacionada com a questão da participação política, da subjetividade política, como a gente vai se tornando sujeito político”.

Sobre o levante baiano que inspirou a peça, o coordenador de pesquisa afirma que a participação popular na revolta fez com que não fosse levadas em consideração as consequências e profundidades políticas da revolta. “Ela foi uma revolta tramada, pensada com um projeto político mais bem definido, pelo menos mais explicitamente definido”.

Cerqueira explica que também existem questões relacionadas com o apagamento da história da população negra e das subjetividades. “Há alguns quadros relacionados com as mulheres negras escravizadas, existe um respeito ao modo como a gente quer fazer com que a presença negra esteja nos arquivos”.

Espetáculo multimídia

De acordo com o diretor Márcio Meirelles, ‘Uma Leitura dos Búzios’ é uma peça musical, coreográfica, videográfica e textual, na qual as narrativas se entrelaçam. “É um discurso em que as personagens se fortalecem numa voz coletiva: os personagens surgem como corifeus de um grande coro. O texto conduz a um conjunto polifônico, seguindo uma perspectiva do que foi a própria conjuração. Grupos sociais plurais trouxeram suas próprias agendas para o embate e isso se expressa na encenação”. 

Ainda sobre o assunto, Meirelles destaca que o texto tem elementos épicos e didáticos a partir da revolta popular que aconteceu em solo baiano, que tinha como agendas igualdade, liberdade e vida digna que ainda estão presentes no século XXI. “Faz ver e conhecer essa história passada, tomando posse das informações para compreender e agir sobre o presente. A forma e conteúdo da dramaturgia e da montagem anunciam e denunciam as dinâmicas de se contar e disputar a história do Brasil”.

Preparação da peça 

O espetáculo é fruto das atividades artísticas e socioeducativas, programações virtuais e presenciais em unidades na capital, interior e litoral do Estado de São Paulo, que foram desenvolvidas pelo Sesc São Paulo e aconteceram a partir das comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil.

O processo de criação se deu em agosto, no momento em que 120 profissionais e amadores das artes cênicas foram selecionados em meio a mais de 500 inscrições para participar da Oficina de Experimentações realizada entre 13 e 26 de agosto, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. A atividade foi conduzida por Meirelles, Cristina Castro e João Milet Meirelles, que envolveu aulas de percussão (Alysson Bruno), street dance (Eliseu Correa), dança-afro (Tainara Cerqueira), slam poetry (Roberta Estrela Dalva) e palestras com pesquisadores sobre a Revolta dos Búzios, que serviu como base para o desenvolvimento do espetáculo.

A partir da oficina foram convidados 17 atores e atrizes para participarem do Laboratório de Criação e, posteriormente, do elenco ao lado de Virgínia Rodrigues, rodrigo de Odé, Chica Carelli, Jackson Costa, Lúcio Tranchesi, Ella Nascimento, Loiá Fernandes, Vinicius Bustani e Nara Couto.

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Texto: Jean Albuquerque | Edição: Elias Santana Malê | Imagem: Isabel Praxedes/Alma Preta Jornalismo

Este texto foi publicado na plataforma da Alma Preta Jornalismo – www.almapreta.com

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