Com dramaturgia e direção de Gustavo Gasparani, peça marca os 35 anos de atividade do grupo carioca
Depois de duas temporadas de sucesso de público e crítica em 2023, a Cia. dos Atores volta aos palcos com “Julius Caesar – Vidas Paralelas”. A nova temporada será de 21 de junho a 14 de julho no Teatro Anchieta, do Sesc Consolação.
A montagem parte da tragédia “Júlio César”, de William Shakespeare, para abordar as intrincadas relações de poder que perpassam a trama original, mas aqui inseridas em um novo contexto: os ensaios de uma companhia teatral que prepara justamente uma montagem da peça sobre o famoso imperador romano. O elenco é formado por Cesar Augusto (um dos fundadores e integrante da Cia. dos Atores), Isio Ghelman, Gabriel Manita, Gustavo Gasparani (também ator fundador da Cia. dos Atores), Suzana Nascimento e Tiago Herz.
Publicada originalmente em 1599, a peça de natureza histórico-política escrita por Shakespeare recria a conspiração que levou ao assassinato do grande ditador romano Júlio César, bem como os seus desdobramentos. Passados mais de 400 anos, a contemporaneidade do texto é surpreendente, com personagens envolvidos em disputas de poder, intrigas, manipulações e traições. Em “Julius Caesar – Vidas Paralelas”, a dramaturgia propõe uma reflexão pertinente sobre questões sociais e políticas, entrecruzando a trama original de Shakespeare e as relações encontradas nos bastidores do processo criativo de uma companhia teatral fictícia com mais de três décadas de trajetória.
“O que me chamou atenção na peça é que a macropolítica do poder romano não tem diferença alguma para a micropolítica do dia a dia. Nós vemos isso na sala de aula, no condomínio ou numa relação de casal. Esse jogo de poder está presente no nosso cotidiano”, diz Gasparani, fundador e integrante da Cia. dos Atores, que dirige pela primeira vez um espetáculo do grupo.
O aposto “Vidas Paralelas” faz referência às analogias estabelecidas entre os personagens da obra de Shakespeare e os integrantes da companhia teatral da trama criada por Gasparani. “A peça propõe um espelhamento entre essas figuras”, diz Gasparani. Além disso, “Vidas Paralelas” é o nome do livro do filósofo e historiador grego Plutarco no qual Shakespeare se inspirou para escrever “Júlio César”.
Em cena, uma companhia teatral está ensaiando a famosa peça sobre o imperador romano. Todas as questões de um grupo de teatro que convive há décadas, bem como assuntos mais amplos da classe artística, vão se revelando no decorrer da trama – cruzando-se com a história original de Shakespeare, que vai se desenhando ao longo dos ensaios. Nas duas situações, vêm à tona dilemas da humanidade. “Estou interessado no que vai dentro do ser humano. O que faz as pessoas agirem de determinada forma? O que faz alguém quebrar um camarim? O que motiva outro a trair o seu melhor amigo em Roma? É inveja? É medo? Quais são as questões internas de cada personagem?”, indaga Gasparani.
A trama de Shakespeare é ambientada em Roma, 44 anos antes de Cristo. O povo romano quer entronizar Júlio César como imperador. Antes, apoiadores do governo, Cássio e Casca convencem Brutus – amigo de César, mas ainda mais leal a Roma – a organizar um complô para assassinar o líder. No Senado, os conspiradores apunhalam César, sendo Brutus o último a golpeá-lo. A famosa cena eternizou uma das mais conhecidas frases da dramaturgia de Shakespeare, quando César, estupefato, pergunta: “Até tu, Brutus?”.
Fundador e integrante da Cia. dos Atores, o ator Marcelo Olinto criou os figurinos de quase todas as produções da companhia. Para “Julius Caesar – Vidas Paralelas”, ele investiu no realismo contemporâneo por meio de roupas frequentemente usadas numa sala de ensaio, como moletons e camisetas. “Fiz um trabalho de tingimento, manualmente, usando uma cartela de cores com tons de cinza, azul, vinho e verde”, diz. “Na transição para a peça de Shakespeare que os personagens estão ensaiando, usamos o moletom com capuz que, amarrado de diferentes maneiras, vai ganhando novas identidades.”
A montagem de “Julius Caesar – Vidas Paralelas” celebra reencontros com parceiros recorrentes nos 35 anos de companhia. Nesta peça, está de volta a diretora de produção Claudia Marques, que esteve presente em diversos projetos do grupo. O ator Ísio Ghelman, parceiro de geração, integrante dos espetáculos de Aderbal Freire-Filho. A atriz Suzana Nascimento esteve em cena em “Autopeças 2 – Peças de Encaixar” (2011). Já a cenógrafa Beli Araújo é outra parceria de longa data do grupo, tendo participado de “Insetos” (2018) e a “A Morta” (1992).
CIA. DOS ATORES
Formada pelos atores Cesar Augusto, Gustavo Gasparani, Marcelo Olinto, Marcelo Valle, Susana Ribeiro e Bel Garcia (in memorian), a Cia. dos Atores (@ciadosatores) comemora 35 anos de atividade ininterrupta em 2023, se tornando um dos grupos de maior tempo de trabalho no Rio de Janeiro. Já recebeu os principais prêmios do teatro brasileiro. Seu repertório inclui mais de uma dezena de espetáculos, entre eles, “Melodrama”, “A Morta”, “O Rei da Vela”, “A Bao A Qu (Um Lance de Dados)” e “Conselho de Classe”, primeira parceria com Jô Bilac. Em 2018, estrearam “Insetos”, espetáculo que marcou os 30 anos de criação da companhia. Em 2020, a Cia. dos Atores lançou um novo canal do grupo no YouTube (youtube.com/ciadosatores).
Mantendo sempre o mesmo núcleo de atores, esse grupo carioca, além de ter representado em festivais nacionais e internacionais, foi responsável pela direção artística de dois teatros da rede municipal da prefeitura do Rio de Janeiro: Teatro Ziembinski e Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto. Localizada na escadaria do Selarón, na Lapa, a sede da Cia. dos Atores (@sedeciadosatores) foi inaugurada em 2006. De lá para cá, a companhia já promoveu ali uma série de atividades: ensaios, treinamentos, mostras de dramaturgia contemporânea, apresentações, oficinas gratuitas e parcerias institucionais.
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia e direção: Gustavo Gasparani
Tradução: José Francisco Botelho
Elenco: Cesar Augusto, Gabriel Manita, Gustavo Gasparani, Isio Ghelman, Suzana Nascimento e Tiago Herz.
Direção de produção: Claudia Marques – Fábrica de Eventos
Cenografia: Beli Araújo
Figurinos: Marcelo Olinto
Iluminação: Ana Luzia De Simoni
Projeções e Vídeos: Batman Zavareze
Direção musical e trilha sonora composta: Gabriel Manita
Assistente de direção: Menelick de Carvalho
Assessoria de Imprensa: Beth Gallo e Thais Peres
Apoio de Mídia: Canal Teatro MF
Redes Sociais: Rafael Teixeira
Design Gráfico: Felipe Braga
Produção Local SP: Pedro de Freitas / Périplo
Expansão Julius Caesar – Vidas Paralelas
Além das apresentações no Teatro, teremos uma série de atividades intitulada Expansão, que são ações formativas com o intuito de ampliar reflexões e diálogos disparadores de processos criativos de obras cênicas específicas, por meio do compartilhamento teórico e prático de pesquisas, técnicas e saberes plurais. A Expansão Julius Caesar – Vidas Paralelas, inclui as oficinas: “Dramaturgia Recriando a Criação” e “Panorama geral sobre uma escritura cênica: o trabalho do ator”. Veja mais informações sobre as ações formativas no serviço ao final do texto.
Recriando a Criação
A oficina revela o processo dramatúrgico de quatro espetáculos criados por Gustavo Gasparani a partir de textos de Shakespeare: Otelo da Mangueira, Ricardo III, Romeu & Julieta – ao som de Marisa Monte e Julius Caesar – Vidas Paralelas.
Panorama geral sobre uma escritura cênica: o trabalho do ator
Oficina ministrada por Marcelo Olinto e Susana Ribeiro, integrantes da Cia dos Atores. Com participação de Suzana Nascimento em 05/07.
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