Confira a edição de dezembro/22 da Revista E na íntegra
Por Luna D’Alama
Comida, casa e remédio sintetizam a utopia brasileira singela, descrita pelo antropólogo, educador, escritor e político mineiro Darcy Ribeiro (1922-1997). “O orgulho como povo. O espírito nacional, a criatividade e a alegria, isso já foi feito”, disse o autor do clássico O Povo Brasileiro (Companhia das Letras, 1995), ao resumir seu pensamento sobre o país e seus habitantes. Cem anos após o nascimento desse intelectual, mas também homem de ação, seu pensamento e legado continuam vivos, seja na defesa dos povos indígenas, na luta pela educação pública e de qualidade, e no desejo por um Brasil menos desigual. Os principais momentos de sua vida, assim como trechos de sua obra, estão, agora, reunidos na exposição Utopia Brasileira – Darcy Ribeiro 100 Anos, que o Sesc 24 de Maio apresenta até junho de 2023 [Leia mais em Pensador do Povo Brasileiro].
Darcy Ribeiro criou o Museu do Índio com o marechal Cândido Rondon, no Rio de Janeiro, em 1953; desenhou, no governo de Juscelino Kubitschek, um plano nacional para a educação; criou a Universidade de Brasília (UnB), em 1962, tendo sido o primeiro reitor da instituição de ensino; e foi ministro da Educação e ministro-chefe da Casa Civil na gestão de João Goulart, período em que foi preso e exilado pela ditadura militar até 1976 – recebendo anistia três anos depois.
Já na redemocratização, idealizou os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), no governo estadual de Leonel Brizola, no Rio; sugeriu a criação do Sambódromo da Marquês de Sapucaí (oficialmente chamado Passarela Professor Darcy Ribeiro) em parceria com o arquiteto Oscar Niemeyer; propôs a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso; e defendeu a reforma agrária.
Segundo a curadora da exposição Utopia Brasileira, Isa Grinspum Ferraz, que foi assistente de Darcy Ribeiro por uma década e dirigiu a série em dez episódios, O Povo Brasileiro (2000), disponível no catálogo do SescTV, ele pertence a uma geração de humanistas da segunda metade do século 20 – da qual fazem parte nomes como Lina Bo Bardi, Glauber Rocha e Celso Furtado. Pensadores que acreditavam na construção de um projeto político e cultural amplo para o Brasil e a América Latina. “Ailton Krenak [líder indígena e ambientalista] diz que mataram Darcy várias vezes em vida, com o exílio e apagando todo o pensamento dele, tão forte e vital. Ele era um modernista, um tropicalista, que refletiu profundamente sobre o que é ser um país independente de verdade, e não colonizado, a serviço de outras nações”, afirma Isa.
Foi na convivência com diferentes povos, inclusive, que Darcy conduziu pesquisas para fomentar o conhecimento e a proteção dos povos originários, o que acabou contribuindo para a criação do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, em abril de 1961. “Polêmico, amado e perseguido, respeitado e contestado, traduzido no mundo todo, Darcy continua relevante em um país que, no século 21, ainda expõe as fraturas profundas de sua formação social. Ele foi um homem que tinha a utopia de um Brasil com justiça social, sem desigualdades, com casa, comida e escola boa, que aceite suas diferenças. Um país que ainda queremos”, aponta a curadora. Nas palavras do próprio antropólogo: “Tenho tão nítido o que o Brasil pode ser, e há de ser, que me dói demais o que o Brasil é”.
PENSADOR DO POVO BRASILEIRO
Exposição revela os ideais de Darcy Ribeiro, com material artístico e pessoal do pensador
Até 25 de junho de 2023, a exposição Utopia Brasileira – Darcy Ribeiro 100 Anos ocupa o quinto andar do Sesc 24 de Maio, em homenagem ao centenário de nascimento e à atualidade do legado desse pensador humanista. Por meio do diálogo entre fotos, vídeos, objetos e documentos originais [como cartas trocadas com o escritor Guimarães Rosa e o antropólogo e filósofo francês Claude Lévi-Strauss], além de instalações, obras de arte, depoimentos e textos – a maior parte da Fundação Darcy Ribeiro –, a mostra busca trazer para a atualidade a vida e a obra desse multifacetado brasileiro utópico. “Essa não é uma mostra sobre um homem morto, mas sobre o Brasil de hoje, com uma utopia que ainda não se realizou”, destaca a curadora Isa Grinspum Ferraz.
Para o diretor do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, Darcy Ribeiro se apresenta como uma figura marcante a pensar a nação. “Entre seus legados, está a tentativa de repovoar imaginários a partir de narrativas ainda não contadas ou fraturadas. A exposição pretende, portanto, que o público entre em contato com a trajetória desse pensador e do país que ele buscou interpretar, revisitando ambos a partir de um ponto de vista imerso na atualidade”, afirma.
24 DE MAIO
Utopia Brasileira – Darcy Ribeiro 100 Anos
Curadoria: Isa Grinspum Ferraz.
Até 25/6/2023. Terça a sábado, das 9h às 21h. Domingos e feriados, das 9h às 18h. GRÁTIS.
Visitas mediadas para grupos: agendamento.24demaio@aserrano
A EDIÇÃO DE DEZEMBRO/22 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!
Neste mês, discutimos como os cursos livres de EAD (educação a distância) democratizam o acesso ao conhecimento, aproximam especialistas em diversas áreas de alunos interessados em se capacitar em novos saberes, e com isso ampliam o repertório cultural. A reportagem principal de dezembro aproveita o crescente número de matriculados em espaços de educação a distância, principalmente depois da pandemia, para apresentar a plataforma EAD do Sesc São Paulo, onde estão disponíveis, gratuitamente, 13 cursos livres.
Além disso, a Revista E de dezembro/22 traz outros conteúdos: uma reportagem que mostra como manuscritos borram a fronteira entre documento e obra de arte, propondo um olhar possível por entre frestas do tempo; uma entrevista com o diretor Miguel Rubio Zapata sobre as convergências do teatro peruano com o Brasil e a defesa da criação coletiva como atitude, e não método; um depoimento com a atriz Julia Lemmertz sobre os 40 anos de carreira e a dedicação ao teatro; um passeio visual por imagens que celebram o legado do pensador utópico Darcy Ribeiro no ano em que ele faria um século de vida; um perfil do romancista Lima Barreto, morto há 100 anos e um dos mais brilhantes nomes da nossa literatura; um encontro com o canto sagrado da cantora Virgínia Rodrigues; um roteiro por cinco espaços culturais da capital paulista que mantêm lojas e livrarias abertas ao público; um conto inédito da escritora e poeta Eliane Potiguara; e dois artigos que refletem sobre a coragem.
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