O Sesc Pompeia recebeu, em abril deste ano, Geni Núñez, ativista indígena, escritora e psicóloga, para uma formação de três dias, que convidou o público para um aprofundamento histórico e conceitual de perspectivas indígenas (em especial a do povo guarani) e sua contribuição para a luta anticolonial e antirracista.
Na ocasião, conversamos brevemente com Geni, falando sobre etnogenocídio e apagamento dos povos indígenas. Confira como foi:
[SESC] Fale um pouco sobre o curso que você realizou aqui no Sesc: principais temáticas abordadas, pontos que considere importantes para a luta anticolonial e antirracista.
[GENI] A formação buscou contribuir com um letramento antirracista referente às questões indígenas. Discutimos as especificidades das categorias raça, etnia e branquitude no contexto de povos indígenas. Ressaltamos a importância da demarcação de terras como redução de danos das violências coloniais e dos reflorestamentos do imaginário.
[SESC] O que é etnogenocídio e quais os eixos que o formam?
[GENI] Destruir nossas culturas, línguas e modos de vida é também destruir nossos povos. Apagar nossas identidades singulares e particulares de cada povo é como tentar implementar o “índio genérico” que não existe senão como produto do olhar do colonizador. Por isso separar o etnocídio do genocídio, separar humano e animal, natureza e cultura e as demais separações binaristas, são violências ontológicas contra nossos povos. Por isso, proponho o termo etnogenocídio, como forma de integrar essas dimensões. Alguns eixos dessa violência são a negação de nossas multiplicidades, através da identificação de nossos povos pelo fenótipo estereotipado, ao invés de reconhecerem nossas identidades coletivas, a inversão colonial de nos chamar de invasores, o roubo de nossos territórios, a produção do empobrecimento, da fome, da violência policial, religiosa etc.
[SESC] Quais fatores contribuem para o apagamento dos povos indígenas e o que pode ser feito para reverter este quadro?
[GENI] Assim como foram as bulas papais que autorizaram a escravização de nossos povos, pois nos viam como “bárbaros”, a catequização e evangelização seguem sendo historicamente aliadas da colonização. Essa monocultura da fé se estende à monocultura da terra, da sexualidade, da língua, dos modos de vida. Para reverter esse quadro é preciso que nossas terras sejam reconhecidas como territórios originários, que por elas tenhamos o direito à memória de nossas línguas, costumes, cosmogonias, sem termos de nós assujeitarmos ao único caminho pregado pelos colonizadores. É importante termos o apoio dos não indígenas nessa luta, nas instituições e fora delas, na educação, arte, cultura e nas diferentes formas de reparação, pois entendemos que a luta pelo bem viver beneficiará a todes.
Seguimos fazendo a retomada dos territórios que foram invadidos, ao mesmo tempo que retomamos e fortalecemos nossa memória étnica, coletiva e espiritual, reflorestando a terra e nossos sonhos.
Você pode acompanhar o trabalho de Geni Núñes em seu perfil no Instagram @genipapos e também se aprofundar mais no tema em sua dissertação de mestrado Nhande ayvu é da cor da terra: perspectivas indígenas guarani sobre etnogenocídio, raça, etnia e branquitude disponível para leitura no site da Universidade Federal de Santa Catarina.
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