Artista indígena dessano cria mural com grafismos que representam troca de conhecimento, alegria e proteção. créd. Marcello Ferreira

Em abril, o Espaço de Tecnologias e Artes do Sesc Campinas recebeu os artistas John Alexandre Dias Restrepo (John Abé) e Luzneri Aguiar Azevedo para a realização da pintura do mural de grafismos Tukano e Dessano.

John Abé é indígena da etnia dessana, vindo da região de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. Chegou na cidade de Campinas em 2019 graças ao vestibular indígena da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e desde então trabalha com oficinas de grafismos, cocar, flauta e pintura, encarando o ofício também como uma forma de troca e partilha de sua cultura com a cidade grande. 

A obra foi elaborada para o local a partir de grafismos que estão presentes desde o surgimento dos povos indígenas. Aparecem nas cestarias, nos pilares de sustentação da Casa dos Saberes (Maloca) e no corpo, durante as cerimônias tradicionais – aparecem para proteger o corpo e o espaço de convívio, de acordo com a tradição.

No centro há a representação da cobra-canoa, que simboliza a criação e as transformações dos povos originários. Nas laterais temos grafismos de banco do povo Tukano que remetem às pessoas que transmitem ou recebem os conhecimentos. Completa o desenho grafismos Dessano que trazem proteção e alegria. 

O artista compartilhou que os grafismos do mural fortalecem, trazem alegria, protegem os visitantes e funcionários do lugar e trazem energias positivas dos seres da natureza e a força dos ancestrais. De acordo com ele, entender e conhecer os significados de cada grafismo é um processo que acontece ao longo dos anos, na transmissão de conhecimento entre os mais velhos e os mais novos de cada povo, sendo possível que o mesmo grafismo tenha significados diferentes a depender das tradições das etnias.

Com a intensão de tornar a fruição da obra acessível a todos, os educadores do Espaço de Tecnologias e Artes criaram uma versão digital dos grafismos e depois, com o auxílio de uma impressora 3D, um mapa tátil. Através dessa mapa, é possível perceber através do tato as formas dos grafismos.

Nos dias da pintura, o ETA ficou aberto para que o público tivesse a oportunidade de acompanhar o processo criativo, conversar com o artista e aprender sobre as culturas Tukano e Desano. O artista também ofereceu a oficina “Grafismos indígenas corporais e em tela” que buscou aproximar e fazer os participantes entenderem a importâncias destes grafismos para as comunidades indígenas. 

John está presente como produtor e mediador da intervenção Danças dos Povos Tukano e Desana, que integra o projeto Agosto Indígena no Sesc Campinas. A atividade acontece no domingo, 18/8, às 14h, no Jardim do Galpão.