Se houvesse um calendário anual de eventos que despertam discussões sobre igualdade de gênero e raça no cinema, a cerimônia do Oscar certamente estaria incluída na lista. Há alguns anos, o anúncio das indicações ao maior prêmio da indústria cinematográfica repercute na imprensa e nas redes sociais acompanhado de questionamentos: quantas mulheres foram indicadas? Quantas pessoas negras? Em quais categorias?
Foi assim na última terça-feira (24), quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgou a lista de obras e artistas que disputarão a estatueta em 2023. Depois de duas edições consecutivas com vitórias de mulheres nas principais categorias, neste ano apenas homens foram indicados ao troféu de direção e só uma cineasta (Sarah Polley, diretora de Entre Mulheres) concorrerá ao prêmio de melhor filme. Também não há mulheres nas disputas de roteiro original, trilha sonora e filme internacional, e embora quatro artistas de origem asiática tenham sido reconhecidos nas categorias de atuação, no caso dos artistas negros, foram apenas dois.
As indicações deste ano são um lembrete de que reconhecimentos pontuais de mulheres no Oscar não apontam, necessariamente, para um processo contínuo de avanço ou para mudança estrutural – seja na premiação, seja na indústria cinematográfica de forma geral.
Consideremos, aqui, alguns dados referente às 95 edições do Oscar:
É verdade, sim, que a Academia tem criado mecanismos para ser mais inclusiva desde 2016, quando a hashtag #OscarSoWhite tomou as redes sociais. Na época, o público protestou contra o fato de que, pelo segundo ano consecutivo, nenhum ator ou atriz negra tinha recebido indicações ao prêmio. Em resposta, a Academia prometeu dobrar o número de mulheres e de pessoas não brancas entre seus membros até 2020, uma meta que, segundo a organização, foi não apenas cumprida como superada. Além disso, a partir do ano que vem só poderão concorrer a melhor filme aqueles longas que cumprirem “critérios de inclusão”, que estimulam, por exemplo, a contratação de profissionais que pertencem a grupos subrepresentados.
São medidas positivas, mas que, sozinhas, não resolvem a questão. A Academia é parte de uma engrenagem maior, e a desigualdade nas indicações reflete a desigualdade que se apresenta em todas as etapas da realização de um filme: produção, distribuição, exibição, divulgação. Até que as mulheres e minorias tenham as mesmas oportunidades e os mesmos recursos para criar suas obras e fazer com que elas cheguem às pessoas, inclusive às pessoas que votam no Oscar, dificilmente as premiações serão realmente igualitárias.
É neste contexto que o Sesc Rio Preto promove a mostra Indicadas: As Mulheres no Oscar, uma seleção de filmes dirigidos por mulheres que concorreram em diferentes categorias da premiação em anos recentes. Convidada pela unidade para fazer a curadoria, busquei selecionar obras que revelassem ao espectador não apenas a qualidade, mas também a variedade do cinema feito por mulheres. Resiste, ainda, a ideia de que cineastas do sexo feminino formam uma espécie de bloco – que se inclinam para determinados gêneros e fazem filmes parecidos do ponto de vista temático e estético. Uma falsa percepção que, aliás, estende-se também para as mulheres da plateia, muitas vezes ignoradas em sua diversidade.
As seis obras da mostra Indicadas dividem-se entre documentário e ficção; incluem cinebiografias, filmes de guerra, drama e comédia; abordam temas como envelhecimento, trabalho, crise econômica, preservação do meio ambiente, relações familiares, arte e liberdade; e foram realizadas por cineastas em diferentes momentos da carreira – de Tamara Kotevska, estreante no longa-metragem, à Agnès Varda (1928-2019), um dos mais importantes nomes da história do cinema mundial. Noto, ainda, a variedade territorial da seleção: embora o Oscar seja uma premiação essencialmente focada na produção dos Estados Unidos, a mostra também exibe obras de Chile, Bósnia-Herzegovina, França e Macedônia do Norte.
As exibições são gratuitas e os ingressos ficam disponíveis com antecedência de 30 minutos. Boas sessões!
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Luísa Pécora é jornalista e criadora do site Mulher no Cinema (www.mulhernocinema.com)
Nomadland: Sobreviver na América. Dir: Chloé Zhao. EUA, 2020, 108min.
Em Nomadland, após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos,em 2011 Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna. Fern vende a maior parte de seus pertences e compra uma van para morar e viajar pelo país em busca de trabalho. Ela aceita um emprego sazonal em um centro de atendimento da Amazon durante o inverno. Linda, uma amiga e colega de trabalho, convida Fern para visitar um encontro no deserto no Arizona organizado por Bob Wells, que fornece um sistema de apoio e comunidade para companheiros nômades. Fern inicialmente recusa, mas muda de ideia quando o tempo fica frio e ela luta para encontrar trabalho na área. Lá, Fern conhece outros nômades e aprende habilidades básicas de sobrevivência e auto-suficiência para a estrada.
Dia 25/1, quarta, das 20h às 22h
Não recomendado para menores de 16 anos.
Quo Vadis, Aida? Dir: Jasmila Zbanic. Bósnia, Alemanha, França, Áustria, Romênia, Holanda, Polônia, Noruega, Turquia, 2020, 104min.
Aida Selmanagic (Jasna Djuricic) é uma tradutora que trabalha em uma missão da ONU na pequena cidade de Srebrenica. Quando a região é dominada pelo exército sérvio, milhares de cidadãos buscarão abrigo no acampamento da ONU onde ela trabalha, incluindo sua própria família. Enquanto lida com as negociações que envolvem o conflito diplomático, Aida fará de tudo para tirar seus filhos do meio do fogo cruzado.
Dia 11/1, quarta, das 20h às 22h
Não recomendado para menores de 16 anos.
Agente Duplo. Dir: Maite Alberdi. Chile, 2020, 84min.
No documentário Agente Duplo, Sergio é um espião chileno. Ele recebe o papel após uma sessão de elenco organizada pelo detetive Romulo, um investigador particular que precisa de uma vergonha credível para se infiltrar em uma casa de repouso. O cliente de Rômulo, filha preocupada de um morador, suspeita que sua mãe esteja sendo abusada e o contrata para descobrir o que realmente está acontecendo.
Dia 20/1, sexta, das 20h às 22h
Não recomendado para menores de 14 anos.
Honeyland. Dir: Tamara Kotevska. Macedônia, 2019, 86min. Legendado.
Existe uma regra na apicultura: deve-se pegar só metade do mel, e deixar o resto para as abelhas. Hatidze, a última caçadora de abelhas da Europa, respeita religiosamente essa condição. No entanto, quando novos apicultores chegam para trabalhar em sua região e não seguem a regra, o equilíbrio do ecossistema desses animais é ameaçado. Hatidze precisa se esforçar para persuadi-los a seguir os pilares elementares para a sobrevivência das abelhas.
Dia 18/1, quarta, das 20h às 22h
Não recomendado para menores de 12 anos.
Visages, Villages. Dir: Agnes Varda. França, 2018, 94min. Legendado.
O documentário retrata uma experiência fotográfica e cinematográfica de dois talentos mundialmente reconhecidas por questionarem a cultura da exibição das imagens: Agnès Varda, cineasta, e JR, fotógrafo e criador de galerias e exposições fotográficas ao ar livre. Juntos, eles viajam por regiões da França bem longe dos centros urbanos, com um caminhão que captura imagens de forma mágica.
Dia 1/2, quarta, das 20h às 22h
Não recomendado para menores de 12 anos.
Poderia me Perdoar? Dir: Marielle Heller. EUA, 2018, 107 min.
Passando por problemas financeiros, a jornalista Lee Israel decide forjar e vender cartas de personalidades já falecidas, um negócio criminoso que dá muito certo. Quando as primeiras suspeitas começam, para não parar de lucrar, ela modifica o esquema e passa a roubar os textos originais de arquivos e bibliotecas. Baseado em uma história real.
Dia 8/2, quarta, das 20h às 22h
Não recomendado para menores de 16 anos.
Sesc Rio Preto
Avenida Francisco das Chagas Oliveira, 1333, Chácara Municipal
Horário de Funcionamento: Ter a Sex, das 13h às 22h. Sáb, Dom e feriados, das 9h30 às 19h.
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