Contaminações: projeto expográfico de Daniela Thomas e Felipe Tassara
De 29 de março a 2 de julho a exposição “Contaminações” discute como algumas importantes obras da literatura brasileira contemporâneas foram ‘contaminadas’ por outras linguagens artísticas. A proposta é provocar a reflexão sobre as fronteiras entre as formas de expressão artística e fomentar a exploração desses pontos de contato.
Para tanto, a exposição parte do universo de três obras fundamentais da literatura brasileira dos últimos 50 anos. São elas: Zero (1974), de Ignácio de Loyola Brandão; O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro (1982), de Sérgio Sant´Anna; e Eles eram muitos cavalos (2001), de Luiz Ruffato.
O conjunto dos três trabalhos literários compõe um arco temporal que percorre diferentes e consecutivos períodos da história brasileira: os anos 1970 e toda a dureza de um regime ditatorial que procura calar, das mais diversas formas, a sociedade; o início dos anos 1980 e o clima otimista vivido com os ventos de uma transição à democracia; e o final dos anos 1990, que é carregado com a insatisfação de quem percebe algumas mudanças na realidade do país, mas se decepciona com a velocidade dessas mudanças e com os resultados conseguidos com elas.
Os autores e suas obras ‘Contaminadas’
Ignácio de Loyola Brandão
Ignácio de Loyola Lopes Brandão nasceu em Araraquara (SP), em 1936. Sua primeira influência no universo da literatura foi o pai, ferroviário e ávido leitor, cujas economias eram muitas vezes empregadas em livros trazidos de São Paulo por colegas da ferrovia, rendendo-lhe uma biblioteca com centenas de volumes. Na infância, fascinado por dicionários, o autor trocava palavras por bolinhas de gude e figurinhas, o que o inspirou a escrever o conto O menino que vendia palavras, o primeiro a ser publicado e que viraria um premiado livro infanto-juvenil anos mais tarde.
Já adolescente, aficionado por cinema, fundou o Clube de Cinema de Araraquara e escrevia críticas para jornais locais, estimulado pelo fato de que críticos tinham entrada livre nos cinemas. A produção desses textos o aproximou do jornalismo e, em 1957, aos 21 anos, Loyola mudou-se para São Paulo, onde foi trabalhar no jornal Última Hora, onde atuou por nove anos. Em 1963, o escritor foi viver na Itália, visando a trabalhar como roteirista na Cinecittà. Enquanto o objetivo não se concretizava, escrevia matérias para o Última Hora, entre outros trabalhos. Em solo italiano, assistiu pela primeira vez ao filme 8½, de Federico Fellini, que reveria inúmeras vezes e o “contaminaria” na criação de Zero.
Em 1965, já no Brasil, lançou seu primeiro livro, Depois do sol, uma coletânea de contos sobre a noite paulistana. Em 1968, publicou Bebel que a cidade comeu, o primeiro romance, adaptado para o cinema por Maurice Capovilla. Após nove anos de trabalho, Loyola concluiu Zero em 1973. Recusado pelas editoras brasileiras, o romance foi publicado na Itália em 1974, traduzido por Antonio Tabucchi, um dos maiores romancistas italianos. Um ano depois o livro chegou aos leitores do Brasil, mas em 1976 foi proibido pelo regime militar, sendo liberado somente em 1979.
Em 1981, lançou outro marco de sua carreira, o romance Não verás país nenhum, que traz desdobramentos dos temas e recursos de Zero. O escritor passou por outro momento culminante de sua vida quando descobriu estar com um aneurisma cerebral, em 1996, e no ano seguinte publicou Veia bailarina, livro em que conta sua experiência com a doença. Vencedor do Jabuti de Melhor Ficção por O menino que vendia palavras (2008), Loyola é autor de 44 livros de contos, crônicas, literatura infanto-juvenil, romances e biografias. Em 2016, ano em que completou 80 anos, recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra.
A contaminação que se dá no livro Zero é a do filme 8½, de Federico Fellini. Em entrevista afirmou: “Tem filme que vejo e revejo. Todos sabem que já assisti 8½, de [Federico] Fellini, mais de 100 vezes. Já contei como a estrutura desse filme influenciou a do Zero, com seus vários planos. Quando Fellini morreu, fiquei de luto. Mas claro que a liberdade de câmera e narração de Godard em Acossado também foi essencial.” Um ciclo de cinema com filmes indicados por Loyola Brandão irá integrar a programação do projeto. Precedendo às exibições, o autor comentará aspectos do filme exibido e como ele influenciou sua obra.
Luiz Ruffato
Luiz Fernando Ruffato de Souza nasceu em Cataguases (MG), em 1961, filho de um pipoqueiro semianalfabeto e uma lavadeira de roupas analfabeta. Antes de concluir o curso técnico de torneiro mecânico no Senai, trabalhou como caixeiro de botequim, balconista de armarinho e operário têxtil em sua cidade natal. Em 1978, mudou-se para Juiz de Fora (MG), onde ingressou no curso de Comunicação Social da UFJF, concluído em 1981. Em 1990, radicou-se em São Paulo, trabalhando no Jornal da Tarde até encerrar a carreira jornalística em 2003, quando passou a dedicar-se exclusivamente à literatura.
Aclamado pela crítica, seu primeiro livro, Eles eram muitos cavalos, publicado em 2001, recebeu os prêmios APCA — Associação Paulista de Críticos de Arte — e Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional, e inspirou a peça de teatro Mire veja, da Companhia do Feijão, agraciada com os prêmios APCA e Shell. Em 2002, o autor lançou o livro de poemas As máscaras singulares e, entre 2005 e 2011, o ciclo Inferno provisório, ganhador dos prêmios APCA, Jabuti e Casa de las Américas, relançado em 2016 em volume único.
Depois publicou De mim já nem se lembra (2007, relançado em 2015), Estive em Lisboa e lembrei de você (2009) e Flores artificiais (2014), todos romances. Ainda em 2014, publicou o livro de crônicas Minha primeira vez e a fábula A história verdadeira do sapo Luiz, que rendeu-lhe o prêmio Jabuti na categoria Infantil.
Seus livros estão editados na Argentina, Colômbia, Cuba, México, Estados Unidos, Alemanha, Finlândia, França, Itália, Macedônia e Portugal. Em 2016, recebeu o Prêmio Internacional Hermann Hesse, na Alemanha.
Ruffato organizou mais de uma dezena de antologias, como Questão de pele, sobre racismo; Entre nós, sobre a questão da homossexualidade; Sabe com quem está falando?, sobre corrupção e política; Nos idos de março, sobre a ditadura militar, entre outros.
Além de vários curtas-metragens inspirados em suas histórias, teve dois livros transformados em longas: em 2016, Estive em Lisboa e lembrei de você, baseado no livro homônimo, coprodução luso-brasileira dirigida por José Barahona; e, em 2017, Redemoinho, baseado em alguns capítulos de Inferno provisório, dirigido por José Luiz Villamarin.
Ruffato foi escritor-residente na Universidade de Berkeley (EUA) e atualmente é colunista semanal da edição Brasil do jornal El País, consultor do Instituto Itaú Cultural e mantém um blog sobre literatura, “Lendo os clássicos”.
Eles eram muitos cavalos é contaminado pela instalação Ritos de Passagem, do artista plástico Roberto Evangelista. Durante a Bienal de Arte de São Paulo de 1996, Ruffato passou pela obra de Evangelista e fez uma leitura muito particular da obra, e que foi disparadora da concepção de seu romance. O livro retrata a classe trabalhadora paulistana, suas tensões diárias e as vicissitudes de uma parcela da sociedade que luta diariamente para continuar, teimosamente, sobrevivendo num mundo que não é moldado a ela. Aqui, a série fotográfica de Cristiano Mascaro, com pessoas das ruas em São Paulo, dialoga de forma intensa com o universo dos personagens de Ruffato. Uma seleção de fotografias desta série estará exposta na unidade.
No espaço de convivência da Unidade, já marcado usualmente pela oferta de jornais, revistas e livros, o dispositivo Bolha de Leitura, criado por Daniela Thomas e Felipe Tassara e a obra de “Enquanto falo, as horas passam”, de Heleno Bernardi, (ocupação com colchões que possuem a forma de corpos em posição fetal) reforçam o convite à leitura, à escuta e à troca de experiências. Os “Retratos Datilografados” de Álvaro Franca que investiga a produção de imagens com máquinas de escrever, trazem os escritores e artistas envolvidos na exposição.
Instalações da exposição é Ritos de Passagem, do artista amazonense Roberto Evangelista.
Sérgio Sant´anna
Sérgio Andrade Sant’Anna e Silva nasceu no Rio de Janeiro, em 1941. Filho de leitores contumazes, aproximou-se dos livros ainda na infância. Entre os 12 e 13 anos morou na Inglaterra, e aos 18 mudou-se para Belo Horizonte, onde estudou Direito na Universidade Federal de Minas Gerais. Na faculdade, obteve o primeiro êxito literário: o segundo lugar num concurso de contos cujo júri era formado por Murilo Rubião e Afonso Ávila — para ele, o reconhecimento mais importante de sua trajetória.
Entre 1967 e 1968, fez pós-graduação no Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Paris e testemunhou a efervescência política na qual a capital francesa estava imersa. Lá começou a escrever os contos que comporiam seu livro de estreia, O sobrevivente, cuja primeira edição foi lançada em 1969. Por conta do livro, ganhou em 1971 uma bolsa para participar do International Writing Program, da Universidade de Iowa (EUA), o que o levou a conviver com escritores do mundo inteiro em pleno contexto da contracultura.
Retrato da transformação que a experiência provocou em sua escrita é seu segundo livro, Notas de Manfredo Rangel, repórter (a respeito de Kramer) (1973), e que para Sant’Anna é o marco a partir do qual tornou-se escritor profissional, sendo premiado e reconhecido em críticas nos principais jornais do país. Em 1977, retornou ao Rio de Janeiro e passou a compor o corpo docente da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde lecionou até 1990. Funcionário aposentado do Tribunal do Trabalho, foi colunista do jornal O Dia e colaborou com diversos veículos, como a revista Cult e os cadernos literários da Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil.
Sant’Anna teve obras adaptadas para o teatro e o cinema, como o romance Um crime delicado, que virou o filme “Crime Delicado”, de Beto Brant, e o conto A senhorita Simpson, que foi adaptado para o longa “Bossa Nova”, de Bruno Barreto, além do mais recente “O Gorila”, de José Eduardo Belmonte, baseado na novela homônima.
Um dos maiores contistas do país, Sant’Anna tem 19 livros publicados no Brasil, traduzidos para alemão, italiano, francês, espanhol e tcheco, além de contos publicados em vinte países. Recebeu diversos prêmios, entre eles quatro Jabutis, incluindo o recebido pelo livro O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro, em 1983, e o mais recente por O voo da madrugada, de 2004, que obteve ainda o segundo lugar no prêmio Portugal Telecom de Literatura.
O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro traz a contaminação evidente do contexto cultural, especialmente da música e do teatro, no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Além de João Gilberto, referências a outras figuras icônicas da cultura aparecem na narrativa, como John Cage (determinante na obra), Bob Wilson, Antunes Filho, Tom Jobim, Miúcha, Caetano Veloso e Milton Nascimento. O próprio autor se coloca como personagem-narrador no conto, que é um dos percursores da autoficção no Brasil.
John Cage, no início do conto, presenteia João Gilberto com uma gaiola vazia, dizendo ao compositor brasileiro que ela contém o pássaro da perfeição. Essa é uma imagem muito forte e que acompanha toda a narrativa. Neste contexto, a videoinstalação Call Waiting, de Eder Santos, recebe novas chaves de leitura.
Programação Integrada
Integra a exposição, uma programação composta por shows, residência artística, performances, cursos, oficinas, mostra de cinema e bate-papos que tem sua centralidade na relação da literatura com outras manifestações artísticas. Para tanto, além dos três destacados autores, foram convidados nomes como Marcelino Freire, Fabiana Cozza, Coletivo AREAS, Miwa Yanagizaga, Camila Márdila, Jussara Miller, Ivana Arruda Leite, Carlito Azevedo, Veronica Stigger, Bruno Zeni, Antonio Xerxenesky, entre outros.
Consulte a programação completa aqui.
A contaminação que se dá no livro Zero é a do filme 8½, de Federico Fellini. Em entrevista afirmou: “Tem filme que vejo e revejo. Todos sabem que já assisti 8½, de [Federico] Fellini, mais de 100 vezes. Já contei como a estrutura desse filme influenciou a do Zero, com seus vários planos. Quando Fellini morreu, fiquei de luto. Mas claro que a liberdade de câmera e narração de Godard em Acossado também foi essencial.” Um ciclo de cinema com filmes indicados por Loyola Brandão irá integrar a programação do projeto. Precedendo às exibições, o autor comentará aspectos do filme exibido e como ele influenciou sua obra.
Luiz Ruffato
Luiz Fernando Ruffato de Souza nasceu em Cataguases (MG), em 1961, filho de um pipoqueiro semianalfabeto e uma lavadeira de roupas analfabeta. Antes de concluir o curso técnico de torneiro mecânico no Senai, trabalhou como caixeiro de botequim, balconista de armarinho e operário têxtil em sua cidade natal. Em 1978, mudou-se para Juiz de Fora (MG), onde ingressou no curso de Comunicação Social da UFJF, concluído em 1981. Em 1990, radicou-se em São Paulo, trabalhando no Jornal da Tarde até encerrar a carreira jornalística em 2003, quando passou a dedicar-se exclusivamente à literatura.
Aclamado pela crítica, seu primeiro livro, Eles eram muitos cavalos, publicado em 2001, recebeu os prêmios APCA — Associação Paulista de Críticos de Arte — e Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional, e inspirou a peça de teatro Mire veja, da Companhia do Feijão, agraciada com os prêmios APCA e Shell. Em 2002, o autor lançou o livro de poemas As máscaras singulares e, entre 2005 e 2011, o ciclo Inferno provisório, ganhador dos prêmios APCA, Jabuti e Casa de las Américas, relançado em 2016 em volume único.
Depois publicou De mim já nem se lembra (2007, relançado em 2015), Estive em Lisboa e lembrei de você (2009) e Flores artificiais (2014), todos romances. Ainda em 2014, publicou o livro de crônicas Minha primeira vez e a fábula A história verdadeira do sapo Luiz, que rendeu-lhe o prêmio Jabuti na categoria Infantil.
Seus livros estão editados na Argentina, Colômbia, Cuba, México, Estados Unidos, Alemanha, Finlândia, França, Itália, Macedônia e Portugal. Em 2016, recebeu o Prêmio Internacional Hermann Hesse, na Alemanha.
Ruffato organizou mais de uma dezena de antologias, como Questão de pele, sobre racismo; Entre nós, sobre a questão da homossexualidade; Sabe com quem está falando?, sobre corrupção e política; Nos idos de março, sobre a ditadura militar, entre outros.
Além de vários curtas-metragens inspirados em suas histórias, teve dois livros transformados em longas: em 2016, Estive em Lisboa e lembrei de você, baseado no livro homônimo, coprodução luso-brasileira dirigida por José Barahona; e, em 2017, Redemoinho, baseado em alguns capítulos de Inferno provisório, dirigido por José Luiz Villamarin.
Ruffato foi escritor-residente na Universidade de Berkeley (EUA) e atualmente é colunista semanal da edição Brasil do jornal El País, consultor do Instituto Itaú Cultural e mantém um blog sobre literatura, “Lendo os clássicos”.
Eles eram muitos cavalos é contaminado pela instalação Ritos de Passagem, do artista plástico Roberto Evangelista. Durante a Bienal de Arte de São Paulo de 1996, Ruffato passou pela obra de Evangelista e fez uma leitura muito particular da obra, e que foi disparadora da concepção de seu romance. O livro retrata a classe trabalhadora paulistana, suas tensões diárias e as vicissitudes de uma parcela da sociedade que luta diariamente para continuar, teimosamente, sobrevivendo num mundo que não é moldado a ela. Aqui, a série fotográfica de Cristiano Mascaro, com pessoas das ruas em São Paulo, dialoga de forma intensa com o universo dos personagens de Ruffato. Uma seleção de fotografias desta série estará exposta na unidade.
No espaço de convivência da Unidade, já marcado usualmente pela oferta de jornais, revistas e livros, o dispositivo Bolha de Leitura, criado por Daniela Thomas e Felipe Tassara e a obra de “Enquanto falo, as horas passam”, de Heleno Bernardi, (ocupação com colchões que possuem a forma de corpos em posição fetal) reforçam o convite à leitura, à escuta e à troca de experiências. Os “Retratos Datilografados” de Álvaro Franca que investiga a produção de imagens com máquinas de escrever, trazem os escritores e artistas envolvidos na exposição.
Instalações da exposição é Ritos de Passagem, do artista amazonense Roberto Evangelista.
Sérgio Sant´anna
Sérgio Andrade Sant’Anna e Silva nasceu no Rio de Janeiro, em 1941. Filho de leitores contumazes, aproximou-se dos livros ainda na infância. Entre os 12 e 13 anos morou na Inglaterra, e aos 18 mudou-se para Belo Horizonte, onde estudou Direito na Universidade Federal de Minas Gerais. Na faculdade, obteve o primeiro êxito literário: o segundo lugar num concurso de contos cujo júri era formado por Murilo Rubião e Afonso Ávila — para ele, o reconhecimento mais importante de sua trajetória.
Entre 1967 e 1968, fez pós-graduação no Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Paris e testemunhou a efervescência política na qual a capital francesa estava imersa. Lá começou a escrever os contos que comporiam seu livro de estreia, O sobrevivente, cuja primeira edição foi lançada em 1969. Por conta do livro, ganhou em 1971 uma bolsa para participar do International Writing Program, da Universidade de Iowa (EUA), o que o levou a conviver com escritores do mundo inteiro em pleno contexto da contracultura.
Retrato da transformação que a experiência provocou em sua escrita é seu segundo livro, Notas de Manfredo Rangel, repórter (a respeito de Kramer) (1973), e que para Sant’Anna é o marco a partir do qual tornou-se escritor profissional, sendo premiado e reconhecido em críticas nos principais jornais do país. Em 1977, retornou ao Rio de Janeiro e passou a compor o corpo docente da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde lecionou até 1990. Funcionário aposentado do Tribunal do Trabalho, foi colunista do jornal O Dia e colaborou com diversos veículos, como a revista Cult e os cadernos literários da Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil.
Sant’Anna teve obras adaptadas para o teatro e o cinema, como o romance Um crime delicado, que virou o filme “Crime Delicado”, de Beto Brant, e o conto A senhorita Simpson, que foi adaptado para o longa “Bossa Nova”, de Bruno Barreto, além do mais recente “O Gorila”, de José Eduardo Belmonte, baseado na novela homônima.
Um dos maiores contistas do país, Sant’Anna tem 19 livros publicados no Brasil, traduzidos para alemão, italiano, francês, espanhol e tcheco, além de contos publicados em vinte países. Recebeu diversos prêmios, entre eles quatro Jabutis, incluindo o recebido pelo livro O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro, em 1983, e o mais recente por O voo da madrugada, de 2004, que obteve ainda o segundo lugar no prêmio Portugal Telecom de Literatura.
O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro traz a contaminação evidente do contexto cultural, especialmente da música e do teatro, no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Além de João Gilberto, referências a outras figuras icônicas da cultura aparecem na narrativa, como John Cage (determinante na obra), Bob Wilson, Antunes Filho, Tom Jobim, Miúcha, Caetano Veloso e Milton Nascimento. O próprio autor se coloca como personagem-narrador no conto, que é um dos percursores da autoficção no Brasil.
John Cage, no início do conto, presenteia João Gilberto com uma gaiola vazia, dizendo ao compositor brasileiro que ela contém o pássaro da perfeição. Essa é uma imagem muito forte e que acompanha toda a narrativa. Neste contexto, a videoinstalação Call Waiting, de Eder Santos, recebe novas chaves de leitura.
Programação Integrada
Integra a exposição, uma programação composta por shows, residência artística, performances, cursos, oficinas, mostra de cinema e bate-papos que tem sua centralidade na relação da literatura com outras manifestações artísticas. Para tanto, além dos três destacados autores, foram convidados nomes como Marcelino Freire, Fabiana Cozza, Coletivo AREAS, Miwa Yanagizaga, Camila Márdila, Jussara Miller, Ivana Arruda Leite, Carlito Azevedo, Veronica Stigger, Bruno Zeni, Antonio Xerxenesky, entre outros.
Consulte a programação completa aqui.
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