Débora Marçal veste joias de sua marca, a Preta Rainha. Foto Flavia Honorato
por Ronaldo Domingues
O processo de criação de uma joia é algo que sempre me despertou a curiosidade. O metal, aquele material rígido em seu formato bruto é aquecido a altas temperaturas até chegar ao estado líquido, e após horas de trabalho manual e artístico, sozinho ou combinado com pedras preciosas ou semi preciosas, se transforma num valioso objeto, capaz de despertar o desejo e ativar as potencialidades do corpo de quem o veste. Não é um mistério?
Eu sei, é pura química! E para ter um resultado positivo é fundamental saber combinar os elementos certos. Aqui eu traço um paralelo com a nossa sociedade e mais especificamente lanço o olhar sobre uma região da zona sul de São Paulo: Jardim Ângela, M’Boi Mirim e Capão Redondo. Resultado de uma combinação de elementos explosivos (violência, pobreza extrema e falta de recursos básicos), na década de 80 este território estampava apenas os noticiários policiais, conhecido na época como o triângulo da morte. Foi um longo período para a comunidade se unir e reivindicar outros olhares, promovendo transformações no local, a melhoria da perspectiva de vida e mostrando para as pessoas o que a gente não deve esquecer: ali tem muita joia rara.
Uma das joias dessa região é Debora Marçal, multi artista conhecida por seus trabalhos na dança, nas artes visuais e cênicas, que se lançou na criação de acessórios, inicialmente com materiais orgânicos a partir das habilidades que aprendeu com sua mãe e irmãs mais velhas. O que era para garantir as contas da faculdade, foi ganhando corpo e se transformou na marca “Preta Rainha“, nome que surgiu como um batismo a partir da afirmação das mulheres que diziam que ao colocar a joia criada por ela se sentiam como uma rainha.
A menina entendeu o sentido de seu trabalho para as pessoas: ao colocar uma joia, o corpo reage diferente e fica cheio de potência. É algo mágico como em um ritual! O metal vem carregado de histórias e significados, como um escudo, um amuleto. E o movimento de um corpo mexe com toda a estrutura coletiva da cadeia produtiva. “Isso gera estímulos, isso gera trabalho pra outras pessoas, amplia a forma como você olha pro mundo”, reflete.
Débora foi pesquisar, fez cursos, se especializou e se encantou com a PRATA, o COBRE e o LATÃO, entrando de vez para o mundo da ourivesaria. Ao longo desses anos, a Preta Rainha já lançou as linhas “Realeza Africana”, “Prata Preta” e agora está com a coleção Logunedé – Do mistério ao encanto, que foi apresentada em desfile no Sesc Campo Limpo, dentro da programação do projeto institucional Nós: criação, trabalho e cidadania.
COLEÇÃO LOGUNEDÉ – DO MISTÉRIO AO ENCANTO
No dia 27 de março de 2022, o Sesc Campo Limpo recebeu o desfile da coleção “Logunedé – Do mistério ao encanto”, da marca de joias Preta Rainha.
O desfile performático é uma imersão lúdica ao universo do orixá Logunedé, definido por Mãe Menininha do Gantois como “Santo menino que velho respeita”. Com entradas dançando e marchando, as dançarinas-intérpretes vestem as joias que serão transmitidas para um telão no fundo do palco para que todos possam ver seus detalhes.
A ambientação também contará com uma instalação, realizada pelo artista plástico Rodrigo Bueno: “As águas doces de Oxum”, uma fonte de água que representa a Cachoeira de Oxum, Mãe de Logunedé, orixás nagô, da fertilidade, da beleza e do amor.
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