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NARRATIVAS DIVERSAS REFLETEM SOBRE ISOLAMENTO SOCIAL, CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E OUTROS TEMAS NA MOSTRA QUE ABRE PARA VISITAÇÃO EM 12 DE MAIO, NO SESC RIBEIRÃO PRETO

Por Luna D’Alama

Consolidada como um espaço de discussão, experimentação e renovação das artes visuais, a MAJ – Mostra de Arte da Juventude chega a sua 30ª edição com 40 artistas e coletivos participantes entre 15 e 30 anos de idade. O evento, que é bienal desde 2017 e realizado no Sesc Ribeirão Preto, abre ao público, neste ano, no dia 12 de maio, reunindo obras que investigam a produção contemporânea de jovens artistas, suas diversas linguagens e possibilidades.

São pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, instalações, performances, fotografias, colagens, lambe-lambes, estamparias e trabalhos em audiovisual, entre outros suportes. “Essa é uma prova de que a arte contemporânea se realiza por diferentes meios há muito tempo. Portanto, esta edição da MAJ reflete a multiplicidade que a arte já tem”, destaca o curador André Pitol, pesquisador e mestre em Artes pela Universidade de São Paulo (USP), com experiência em projetos e cursos sobre fotografia e história da arte.

Parceira de Pitol na seleção e na curadoria, a educadora, pesquisadora e mestra em História da Arte pela Universidade de Salamanca (Espanha) Luciara Ribeiro acrescenta: “Queríamos que esses 40 nomes fossem os mais diversos possíveis, tanto em termos territoriais, quanto em termos de gênero, escolaridade, idade e também de suportes e linguagens artísticas”.

Nesta edição, a MAJ recebeu mais de 400 trabalhos das cinco regiões do país, das etnias branca, parda, preta, amarela e indígena, e dos gêneros feminino (a maioria, com 48%), masculino e não binário. Também houve uma maior participação de artistas selecionados para além do eixo Rio-São Paulo, envolvendo nove estados (Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Piauí, Ceará e Pernambuco) e o Distrito Federal. Segundo Luciara, os principais critérios de seleção foram a qualidade das obras e a capacidade crítica dos artistas.

PROPOSIÇÕES TEMÁTICAS

A pandemia de Covid-19 se reflete nesta edição da MAJ tanto como aspecto influenciador da produção dos trabalhos quanto como tema e meio. “Um importante conjunto de propostas apresentou o cenário atual como questão, revelando que não há como escapar dessa situação, pois esses também são dilemas das artes e da juventude”, aponta a curadora Luciara Ribeiro. O atual contexto sanitário impactou, ainda, a quantidade de inscritos, visto que “as informações e divulgações passaram a circular com muito mais rapidez dentro do mundo digital, o que nos possibilitou ampliar a participação”, observa.

Quanto à escolha de temas, muitas obras retratam o isolamento e o momento político. Além disso, as plataformas digitais incorporaram produções antes feitas estritamente fora da tela. Para o curador André Pitol, “houve um labor com os processos digitais, com as câmeras, com o celular e aplicativos, com o computador. A pintura teve que ir para a tela, a gravura também, tudo virou fotografia ou vídeo, de forma geral”. Dessa maneira, ele complementa, “as casas viraram ateliês”.

As 40 obras selecionadas estão dispostas em um espaço de 240 metros quadrados, uma sala dupla na unidade que foi reformulada especialmente para a exposição. “Há desde objetos singelos e quase imperceptíveis aos visitantes até trabalhos que tomam partido da presença do eu e do nós nas redes para propor reflexões e contrapartidas dessa faceta do contemporâneo”, detalha o curador. A própria curadoria, a análise e a seleção dos inscritos tiveram que se adaptar ao formato remoto. Luciara e André fizeram, primeiro, uma avaliação com percepções individuais dos projetos, depois reuniões virtuais e a criação de uma planilha de estudos conjunta para chegarem a um consenso sobre os 40 finalistas.

CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES

Outra temática presente nesta 30ª edição é a construção de identidades – gênero, raça e classe. “É um debate contemporâneo, com o qual a juventude está preocupada, discutindo, e isso aparece também [na mostra]”, diz Luciara, que acredita que as novas gerações são responsáveis por atualizar a criação artística. “Provavelmente essa será a produção futura das artes”. Alinhada às discussões realizadas pelo Sesc em seu programa que discute as juventudes, a mostra apresenta uma possibilidade de expressão de jovens que já são cidadãos com suas próprias perspectivas de olhar o mundo.

A curadora lembra também que “juventude” não é um conceito fechado, mas aberto e em trânsito. “Cada lugar e cada situação dão dimensões e caminhos novos para se pensar o que é juventude, para entender a subjetividade das pessoas nessa faixa etária, na qual nós mesmos já estivemos”, enfatiza. E nunca é cedo demais para começar: de acordo com Luciara, há projetos de artistas na faixa dos 16 aos 22 anos com forte teor crítico e bom acabamento processual.

Conheça 17 obras que compõem a 30ª edição da MAJ – Mostra de Arte da Juventude:

Três décadas de MAJ

Trabalho de artistas de 15 a 30 anos ocupam sala dupla do Sesc Ribeirão Preto até 11 de setembro

Com um recorte que acentua as transformações do presente e reafirma a arte jovem como antídoto do absurdo e elemento de esperança para a criação de novos tempos, num processo público e aberto, a edição comemorativa dos 30 anos da Mostra de Arte da Juventude (MAJ) terá visitação aberta ao público de 12 de maio a 11 de setembro, no Sesc Ribeirão Preto.

Segundo o curador André Pitol, os trabalhos dos 40 artistas e coletivos selecionados estão dispostos em uma sala dupla da unidade, reformulada especialmente para a exposição. Uma das novidades, de acordo com ele, é a participação de artistas que não foram contemplados em edições anteriores da MAJ, mas cuja presença em outras mostras tem sido notável. “O resultado é robusto, integrado ao movimento de outras importantes exposições do país, e está disponível ao público da cidade e também a todos aqueles que se dispuserem a ir até lá.”

A curadora Luciara Ribeiro acrescenta que, mesmo sem haver um eixo ou linha curatorial definido para esta edição comemorativa, há conjuntos de obras que dialogam entre si e espaços planejados para isso. “Os 30 anos são uma data importante quando falamos de juventude, pois, na teoria, oficializam o seu fim e consolidam uma certa maturidade. Sinto que é esse também o movimento atual da MAJ, que aumentou o seu tamanho expositivo, a quantidade de artistas participantes, o alcance nacional e o destaque no calendário estadual do Sesc”, afirma. Com mais obras em exposição, a curadora avalia que o público terá a oportunidade de conhecer a produção da juventude atual por vias mais abrangentes, o que impactará na formação de olhares mais críticos e investigativos. “Aprofundar-se no espírito de observador atento é o que eu desejo para o público da MAJ.”

Ela acredita que a construção de processos seletivos mais justos e éticos passam também pelo diálogo e pelo trabalho a muitas mãos. “No caso da MAJ, desde o início houve a proposta de envolver os(as) agentes curatoriais dos departamentos de artes visuais do Sesc São Paulo, expandindo o projeto liderado por Ribeirão Preto para as demais unidades. Essa experiência afinou a dinâmica do diálogo e da escuta entre nós”, ressalta. “O que esperamos para uma mostra como essa é que ela lide com o contemporâneo e com suas demandas”, diz Luciara.

E, além de um desejo por representatividade, a curadora julga que deve haver uma busca por éticas curatoriais, políticas dos espaços e combate às violências institucionais nas artes, entre outras pautas. “Agora, na pós-seleção, estamos pensando em como olhar esse grupo geral de obras e qual tipo de possibilidade curatorial ele nos dá. Então, a partir desses trabalhos, vamos construir a expografia e a curadoria da próxima edição”, antecipa. André Pitol finaliza: “Com os [recentes] cortes de verba e o cerceamento do ambiente da cultura [no país], uma iniciativa como a MAJ é essencial para dar visibilidade e espaço aos artistas”.

Saiba mais: maj.sescsp.org.br/

Entrevista com os curadores: youtube.com/watch?v=wyAJgEe4m7k