Luciana Mello: uma vida leve e de muito aprendizado 

09/02/2023

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Conversamos com a cantora e compositora Luciana Mello, que estará no Sesc Campo Limpo participando da conversa A Corrida e os Corres Delas, junto com a atleta paralímpica e campeã mundial Verônica Hipólito, e a idealizadora e organizadora do projeto Vida Corrida, Neide Santos. O encontro será domingo, dia 12 de fevereiro, a partir das 16 horas.

Praticante amadora de Kickboxing, falamos um pouco do posicionamento da mulher nas práticas esportivas e questões ligadas ao processo criativo e à carreira de Luciana, que na sequência do bate-papo, sobe ao palco com os sucessos da carreira e canções do mais recente álbum Tempo de Amar. Boa leitura e até a próxima.

Como você enxerga a importância do esporte na sua vida e para as pessoas?

É para todo mundo: homem, mulher ou o gênero você se identifica. Fundamental que a gente se movimente, o corpo humano é esse movimento: para poder se movimentar e ter mobilidade por muito mais tempo na vida. Hoje a gente já sabe através da ciência e da tecnologia o quão importante é, principalmente quando ficamos mais velhos.

Para você, qual o papel da mulher na prática esportiva de maneira geral?

As mulheres vêm conquistando espaço em tudo que é lugar, né? Durante muitos anos fomos proibidas de muitas coisas. Até para votar foi depois. É muito importante que a gente fale sobre isso e tenha os exemplos, dividir as experiências. Esse acesso hoje ao esporte é bem maior para as mulheres, graças à luta de muitas delas, que quebraram tabus e venceram. Graças a Deus hoje em dia a gente já tem essa abertura maior. Precisa ir conquistando cada vez mais, para que elas também ganhem igual e tenham incentivo. A gente vê aí a diferença do salário das meninas no futebol, no vôlei, no basquete, enfim. Mas a gente participa ativamente dessa luta dizendo que as mulheres podem sim, e vão conseguir.

Você chegou a sofrer algum tipo de preconceito por praticar esporte?

Não, graças a Deus. Mas também, não faço competição. Treino pelo esporte, por amor ao Kickboxing. Talvez o preconceito na cabeça das pessoas: quando falo que pratico uma arte marcial, mas não por ser mulher, acho que um preconceito com a luta. Sempre falo isso: a gente tem que educar os adultos primeiro, né? Porque tem essa visão de que é uma coisa violenta, não. É um esporte com uma filosofia incrível.

Falando agora da sua música: de que forma o título do seu álbum mais recente (Tempo de Amar) traduz o seu momento como artista e pessoa?

Tempo de Amar é o nome de uma das canções que dá título ao álbum. Em 2019, fez 35 anos da primeira canção que eu gravei junto com meu pai [O Filho Do Seu Menino, 1984]. Aí comecei a lançar, fazer os singles e a gente entrou na pandemia, e esse projeto foi adiado para 2022. Costumo brincar que de 35 a 40, pode ser 35. A gente ainda pode comemorar.

Então, você começou a imaginar esse projeto e ele tomou um outro rumo, não? Afinal, essa pausa te fez gestar um pouco mais o álbum, né?

Com certeza! Quando você escuta a música Tempo de Amar, é exatamente isso: uma mensagem que fala sobre esse tempo que vai passar e graças a Deus, passou. O tempo de amar é sempre o agora. O álbum tem algumas regravações, outras inéditas. A maioria são sambas. Já estou há algum tempo fazendo discos de samba, que eu amo. E tem algumas músicas pop, uma lembrança do que é minha carreira, em que passei por diferentes fases e faz parte de mim, parte de quem eu sou hoje.

Suas canções falam da vida, de amor, da natureza, e o álbum tem uma atmosfera leve. Isso de alguma forma é reflexo da sua própria vida cotidiana?

São as fases do artista: quando queremos falar alguma coisa, a gente faz músicas procurando falar essas coisas. O primeiro single desse álbum, que foi lançado no ano passado, e chama-se Amor para Todo Dia compus junto com o Marcelo Marrom, fala de amor e de felicidade, mas sempre de uma forma leve. E isso é muito importante: sou assim, leve. Temos nossas dificuldades e precisamos lidar com todas elas, mas na minha cabeça a música vem sempre para elevar o espírito, então procuro fazer isso através das minhas atitudes, da minha arte e do meu canto.

O samba é então sua principal fonte de inspiração?

Sempre foi. As pessoas me conhecem do pop, porque o disco que mais fez sucesso foi o Assim Que Se Faz, que tinha: Assim que se faz, Simples Desejo, Se. Mas nele também tem samba, eu nasci no samba, sou filha de Jair Rodrigues. Nasci no meio dos compositores, sempre ouvindo muita música brasileira. Apesar de que Michael Jackson, Stevie Wonder e tantos outros foram influência também. Sou essa mistura. Em 2016, lancei o Na Luz do Samba, meu primeiro disco todo de samba e indicado ao Grammy de 2017. Dediquei ao meu pai, que sempre me pedia um disco assim. Lá tenho a participação da Alcione, músicas do Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho, minha filha também, que na época estava com sete anos.

Você esteve no ensaio técnico da escola de samba Pérola Negra, que homenageará seu pai com um samba enredo no carnaval deste ano. Como se sentiu ao presenciar essa homenagem?

Incrível! Uma emoção grande. Tiveram esse carinho, essa sensatez de fazer uma homenagem ao grande homem do samba que é e sempre será Jair Rodrigues. Fico muito feliz, porque é toda a história dele, e foi reconhecido. É uma pena que ele não esteja mais aqui para ver. Onde ele estiver, está feliz da vida.

Chegou a acompanhar o processo e a construção do samba-enredo Prepare o seu coração: Jair Rodrigues, Festa para o Rei negro?

Não, mas eles foram enviando algumas ideias e se estava tudo bem. Tiveram muito respeito com a gente em todos os momentos em que eles mandaram coisas para a gente ver e participar. Adorei o resultado.

Tudo aquilo que você imaginou fazer na sua carreira já foi realizado ou tem algo que ainda gostaria de fazer?

Enquanto a gente vive, a gente sonha. Então acho muito difícil falar não quero mais nada e já cheguei aonde queria. Enquanto a gente vive, sonha, faz projetos e está aí lidando com o dia a dia, e querendo mais coisas, pelo menos eu sou assim. Sempre tem mais, a gente sempre pode crescer. Sempre quero aprender e acho isso mesmo: que a gente sempre pode melhorar.

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