Mariana de Althaus fala sobre a importância de contar as histórias do Peru: “A esperança tem que ser criada” 

09/09/2024

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Mariana de Althaus transita entre o ficcional e o documental nas 26 peças que já escreveu; no MIRADA, ela tem dois espetáculos em cartaz. Foto: Divulgação 

Mariana de Althaus vive um problema repetido em seu país. Prolífica, a diretora e dramaturga peruana que já escreveu 26 peças, das quais dirigiu 20, e transita entre o documental e o ficcional, traz ao MIRADA dois espetáculos, “La Vida En Otros Planetas” e “Quemar El Bosque Contigo Adentro”. Ambos refletem uma sensação de que o Peru parece voltar a um mesmo lugar onde estava três ou quatro décadas atrás. 

“Houve um período em que no Peru tivemos esperança, que foi de 2000 até a pandemia. 20 anos em que acreditamos que o Peru era possível, que tínhamos deixado o conflito armado para trás, que se avançava em termos de políticas públicas”, recorda Mariana. Mas agora, segundo ela, um retrocesso institucional se abate sobre o país, levando-o de volta a velhos problemas: pobreza, violência e falta de perspectiva. “Antes não se via uma saída, e agora estamos voltando a esta sensação”.  

“La Vida En Otros Planetas” oferece um panorama da educação pública peruana a partir de experiências reais de professores e alunos. Foto: Marina Garcia Burgos 

Nesse contexto, Mariana busca, com “La Vida En Otros Planetas”, um olhar sobre a educação pública peruana a partir das experiências de alunos e professores . Partindo do campo do teatro documental, a obra mergulha nos problemas (e nos milagres) do sistema educacional para expor não somente a importância da educação na construção de um futuro possível, mas também reforçar que há, sim, solução. “A obra propõe uma utopia, mas que é possível”, reforça ela. 

No fim, para a autora, “La Vida En Otros Planetas” trata dos sonhos das crianças e da capacidade dos professores de realizar esses sonhos ao terem fé e esperança nelas. É nesse sentido que ela vê uma conexão clara da peça com dois dos eixos curatoriais do MIRADA este ano: sonho e esperança. 

“Quemar El Bosque Contigo Adentro” entrelaça, em um universo simbólico, natureza e relações sociais. Foto: Paola Vera 

Já “Quemar El Bosque Contigo Adentro” fica no terreno das histórias familiares ficcionais que, no fim, se projetam revelando problemas sociais e universais. Nela, Mariana cria um universo simbólico, que entrelaça natureza e relações sociais. Em um cenário rodeado de folhas secas e galhos de eucalipto, está a casa de três mulheres, avó, mãe e filha, que vivem numa zona rural peruana onde ocorreram casos de abusos contra meninas. 

O título impactante fica na cabeça e pode ser lido de muitas formas. “Estamos queimando a floresta com a gente mesmo ou com alguém dentro?”, provoca Mariana. “Na peça a floresta é real, mas também é metafórica”, continua, dando pistas do espetáculo que vê entrelaçado nos eixos da floresta e do sonho. 

Embora as tramas das peças habitem universos distintos, ambas convergem, ao fim, para um ponto recorrente nas obras da diretora e dramaturga: a opressão. Para Mariana, em um momento de desalento nacional (e talvez mundial), contar estas histórias se torna mais importante que nunca. “A esperança tem que ser criada”, encerra. 

“Na peça a floresta é real, mas também é metafórica”, diz Mariana de Althaus sobre “Quemar El Bosque Contigo Adentro”. Foto: Paola Vera

Serviço:

Quemar El Bosque Contigo Adentro (PER) – direção: Mariana de Althaus 

Auditório do Sesc Santos 

9/9 (segunda) e 10/9 (terça), às 19h. 

Duração: 95 minutos 

Ingressos à venda pelo app Credencial Sesc SP, pelo site e nas bilheterias das unidades. 

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