Memória em Revista 

18/07/2024

Compartilhe:

Os 30 anos da “Revista E”: como essa jornada reflete a memória do Sesc São Paulo? 

O que a historiografia de uma revista pode revelar? Contar a história de uma publicação é, de certa maneira, revisitar também o espírito de um tempo. E quando essa revista é um veículo de comunicação produzido por uma instituição, vale a pergunta: o que mais podem revelar as memórias de sua produção e distribuição? 

Em julho de 1994, circulava nas unidades do Sesc em São Paulo a primeira edição da “Revista E”, num momento de expansão e robustez do mercado editorial no Brasil.  

Segundo a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER), estima-se que nessa época existiam 3.000 títulos de revistas impressas em circulação no país, com vendas na ordem dos 800 milhões de exemplares no ano.  

Neste cenário, a revista do Sesc São Paulo chega com uma premissa que permanece até hoje: conteúdo aliado à programação, com distribuição gratuita para todas as pessoas. 

No aniversário de 30 anos da publicação, revisitar sua história nos permite revisitar a história da própria instituição. 

A Marcha e o Comerciário 

Talvez você não saiba, mas a Revista E não foi o primeiro veículo de comunicação do Sesc em São Paulo. A instituição, desde o início, preocupou-se em estabelecer conexões com seus usuários por meio de publicações. 

O jornal impresso mensal O Sesc em Marcha foi a primeira incursão editorial, contando com 19 edições publicadas entre novembro de 1949 e dezembro de 1951. 

sesc em marcha
Recorte de capa da primeira edição do jornal O Sesc em Marcha (reprodução/acervo Sesc Memórias) 

A criação do Sesc, assim como o advento do jornal, aconteceu no contexto do pós-Segunda Guerra Mundial, da queda do Estado Novo e do processo de redemocratização no Brasil. Foi um momento no qual a entidade se caracterizava por uma abordagem assistencial, em função da necessidade de resposta a crises de saúde e desigualdade social. Essas ideias encontraram ampla acolhida e colaboração entre os dirigentes sindicais, peças fundamentais na criação da instituição. 

Um dos objetivos do jornal era divulgar as ações realizadas pelo Sesc e Senac, além de estreitar os laços de cooperação entre os comerciantes e os comerciários. O periódico trazia, ainda, seções como “Antologia”, sobre literatura, “Sons e Imagens”, para falar de música e cinema, “Página Infantil”, com quadrinhos, contos e atividades para crianças, e “Eva do Século XX”, voltada para mulheres. 

Após um hiato, em janeiro de 1956 nasce a Revista do Comerciário. Em seu editorial de lançamento, enseja ser a natural substituta do jornal anteriormente citado. Nele, é dito que essa “pretende ser a publicação que falta em nossos meios […] com a grandiosa pretensão de não servir, tão somente, à sua leitura, mas também de estampar a sua colaboração”. Surge com a intenção de ser educativa, aberta a todos, representativa da cultura da classe trabalhadora, “oferecendo aos nossos comerciários uma leitura agradável, mas nunca vazia de conteúdo”. 

revista do comerciário
Logo da capa da primeira Revista do Comerciário e abertura do editorial de apresentação da publicação (reprodução/acervo Sesc Memórias) 

Esse momento do Brasil foi marcado por uma tensa transição política, com a conturbada posse de Juscelino Kubitschek. Apesar disso, a tensão foi seguida por um ousado plano de modernização e desenvolvimento econômico, que pretendia um avanço de “50 anos em 5”. Com a industrialização e o êxodo rural em crescimento, consequentemente ampliaram-se as cidades e fortaleceu-se o comércio de bens e serviços. Foi um momento decisivo na construção da relação entre comerciantes e comerciários. 

A Revista do Comerciário circulou mensalmente entre janeiro de 1956 e dezembro de 1959. Em janeiro de 1960, passou a ser bimestral, com tiragem ampliada e mais páginas. Assim como O Sesc em Marcha, trazia conteúdos variados sobre cultura, educação, saúde, esporte, cotidiano, trabalho, acontecimentos nos Centros Sociais e informações sobre a programação. A revista foi descontinuada após a edição de novembro/dezembro de 1960. 

Uma nova era editorial 

Após essas incursões anteriores pela edição de revistas, o Sesc em São Paulo passou um longo ciclo sem uma publicação de variedades especificamente voltada ao público frequentador. Em 1994, essa tradição é retomada. 

“Utilizando uma imagem coloquial, poderíamos dizer que esta revista já existia há muito tempo – só faltava ser escrita”, diz a abertura do editorial da Revista E número 1, assinado pelo então Diretor Regional, Danilo Santos de Miranda. 

capa da primeira revista e 
Capa da primeira Revista E, de julho de 1994 (reprodução/acervo Sesc Memórias) 

No mesmo texto, revela-se que a revista é mais do que um compêndio das programações e realizações do Sesc nas diferentes áreas de atuação, algo que já podia ser encontrado por meio de catálogos e folhetos gerados pelas próprias unidades. 

Unidas em uma publicação, as realizações “transcendem os interesses imediatos ‘institucionais’ e tornam-se matéria de interesse geral, a base necessária para uma revista de caráter cultural, aberta e plural, que estava nas aspirações de todos e só precisava ser escrita”. 

primeiro editorial revista e 
Página do primeiro editorial da Revista E, de julho de 1994 (reprodução/acervo Sesc Memórias) 

A revista nasce, portanto, como difusora de temática ampla, cujo eixo é constituído não somente pela programação, mas extrapola a ação da instituição por meio de reportagens, entrevistas, artigos e ensaios. A missão era também, de acordo com as palavras do editorial, “de desvendar, de interpretar e de fazer novas leituras da produção cultural que empreendemos”. 

Conta-se que o nome “E” foi escolhido por representar um aditivo, como se a publicação fosse um complemento da experiência do público nas unidades: o Sesc “e” você, a programação “e” você. Representa também a noção de aprofundamento e continuidade do que acontece nas atividades promovidas, como um convite a pensar: “‘E’ além disso tudo?”. Ela é o Sesc que o público leva para casa. 

E por mais que tivessem ligações diretas ou tangenciais às atividades do Sesc São Paulo, os conteúdos da revista, em grande parte, também existiam por si só, trazendo informação e reflexão. Esse pressuposto segue até hoje, representando cada vez mais uma extensão da ação programática e mediação cultural que acontecem nas instalações da instituição.  

Revisitando memórias 

Nesses 30 anos de publicação, com cada edição registrando o seu próprio contexto, a Revista E documentou também 30 anos da história do Sesc São Paulo e, por que não dizer, da própria sociedade. 

Se observarmos as revistas como uma série de instantâneos, é possível revelar o que o Sesc achava importante mostrar a cada mês, tanto do ponto de vista programático quanto social. Ao juntarmos esses 360 meses, temos uma linha do tempo de como a instituição agiu e se enxergou ao longo desse período.  
   
O Sesc Memórias, centro de memórias do Sesc São Paulo, entende que existem algumas formas de contar essa história, mostrando não só a cronologia da Revista E, mas também como ela se transformou para se adaptar às necessidades da instituição e do público. 

No decorrer do tempo, por exemplo, mudanças gráficas puderam ser observadas: 

primeiros logos 
Os primeiros logotipos da revista eram semelhantes, mostrando a letra “E” maiúscula. O primeiro foi aplicado de julho a dezembro de 1994 e o segundo foi utilizado de janeiro de 1995 a julho de 2000 (reprodução/acervo Sesc Memórias) 

terceiro e quarto logo revista e
Em agosto de 2000, ocorre uma grande alteração, com a letra “e” passando a ser grafada em minúscula, o que se mantém até hoje. O logo da capa à esquerda foi aplicado até outubro de 2002 e o da direita circulou de novembro de 2002 a junho de 2011 (reprodução/acervo Sesc Memórias) 

quinto e sexto logo revista e 
Inaugurando o ano 18 da publicação, em julho de 2011, o “e” é alterado mais uma vez, perdendo os cantos arredondados e ganhando uma inclinação. Em setembro de 2013, já com o novo logo do Sesc em aplicação, as capas passam a trazer os destaques lateralizados (reprodução/acervo Sesc Memórias) 

logo mais atual da revista e 
A partir de novembro de 2022, a revista volta a circular em formato impresso, após o período de pandemia, quando foi publicada apenas em versão digital (de abril de 2020 a outubro de 2022). Para a retomada, ela passa por uma importante reestruturação editorial e gráfica, que segue em vigor atualmente (reprodução/acervo Sesc Memórias) 

Editorialmente, a revista acompanhou também as grandes temáticas sociais que foram destaque em cada época, muitas vezes na vanguarda da discussão. Como exemplo, o editorial de setembro de 1994 em que é citado “o empenho da entidade em oferecer ao público uma visão diferenciada do que seja a arte de brincar dentro de uma sociedade industrializada e massificada”. Já no primeiro ano, foram levantadas pautas sobre condição do trabalho, projeto nacional de cultura, olhares para esporte e dança, educação não formal, cinema nacional, identidade cultural, futuro das cidades e teatro experimental. 

editorial de 1995
Página do editorial de abril de 1995, no qual se discutiam os equipamentos de lazer em São Paulo, debatendo a dificuldade de estabelecê-los e mantê-los, em tom politicamente engajado em defesa da manutenção dessas iniciativas e importância desses espaços (reprodução/acervo Sesc Memórias) 

Abaixo, separamos o recorte das outras 30 capas número 1 de cada ano, sempre publicadas em julho, incluindo a mais recente, que inaugura o 31º ano da revista:

Edições de 1995, 1996 e 1997 
Edições de 1995, 1996 e 1997 discutiam os temas terceira idade, alimentação e trabalho e a relação dos museus com a iniciativa privada. (reprodução/acervo Sesc Memórias)

1998, 1999 e 2000 
Edições de 1998, 1999 e 2000 traziam como tema de capa: os institutos internacionais de cultura; os bastidores da produção cultural; e uma discussão sobre indivíduos desconectados da revolução tecnológica, pauta de extrema relevância na virada do milênio. (reprodução/acervo Sesc Memórias)

Capas de 2001, 2002 e 2003 
Capas de 2001, 2002 e 2003 refletiam sobre: o fortalecimento da cultura popular frente à globalização; os desafios dos jovens na entrada no mercado de trabalho após o crescimento da internet; e atividades não muito conhecidas de algumas personalidades brasileiras. (reprodução/acervo Sesc Memórias)

Capas de 2001, 2002 e 2003 
As edições de 2004, 2005 e 2006 trouxeram nas capas: a comemoração de aniversário de 450 anos de São Paulo e os desafios do turismo na cidade; o teatro de rua e os limites entre público e privado com o aumento da presença de tecnologia no cotidiano. (reprodução/acervo Sesc Memórias) 

2007, 2008 e 2009 
Em 2007, a capa de julho da revista trazia a longevidade como tema. Em 2008, foi a vez de debater direitos autorais e novas formas de autoria coletiva. Em 2009, quando a revista comemorava 15 anos, o ano da França no Brasil trazia à pauta um panorama da presença da música francesa no nosso país. (reprodução/acervo Sesc Memórias) 

2010, 2011 e 2012 
A capa de 2010 apresentava portas de entrada para novos artistas, que tinham em São Paulo uma variada gama de oportunidades de encontrar o público. Em 2011, a capa destacava a ilustração de livros no Brasil como conteúdo autoral. Em 2012, a arte contemporânea foi a pauta principal. (reprodução/acervo Sesc Memórias)

2013, 2014 e 2015 
As edições nº 1 nos anos de 2013, 2014 e 2015 trouxeram para a capa: circulação de informação pela internet; arte popular; e turismo como ferramenta de aquisição de conhecimento. (reprodução/acervo Sesc Memórias) 

2016, 2017 e 2018
A edição nº 1 do 23º ano da revista (2016) trazia imagem do livro “Fotografia de Palco II”, de Lenise Pinheiro, e a edição destacava o tema de hortas urbanas. Em 2017, a capa de julho inaugurava o 24º ano da publicação, com uma foto que remetia à programação de férias, enquanto que o tema principal da edição era infâncias e tecnologia. O tema principal em julho de 2018 foi a meditação, e a capa veio ilustrada com a cortina de boca de cena do Teatro Sesc Anchieta, de autoria de Burle Marx. (reprodução/acervo Sesc Memórias) 

2019, 2020 e 2021
2019, 2020 e 2021 trouxeram como temas principais a leitura, o combate à fome e a criatividade. Nas capas, fotografia de Sebastião Salgado na Serra Pelada, arte de Marcos Duprat criada durante o isolamento pela pandemia de Covid-19, e foto de Marcelino Melo (Nenê), integrante do projeto Galeria Virtual, realizado pelo Sesc Campo Limpo. (reprodução/acervo Sesc Memórias)

2022, 2023 e 2024
A capa de julho de 2022 trazia a arte “Jangada para o mar”, de Raimundo Cela, e o principal tema abordado foi o brincar. Em julho de 2023, uma foto de Thomas Farkas ilustrava a capa e a pauta principal abordava a educação não-formal. A capa mais recente, de julho de 2024, traz obra do artista Paulo Chavonga, sendo a própria Revista E pauta central, com destaque no editorial e na matéria gráfica. (reprodução/acervo Sesc Memórias)

A diversidade de temas, com discussões sociais relevantes, marcou a trajetória da Revista E, que entra agora em seu 31º ano de publicação, com esta edição de julho de 2024. Para acompanhar a continuidade dessa história, retire seu exemplar impresso em qualquer unidade do Sesc no estado de São Paulo ou acesse sescsp.org.br/revistae 

Se quiser saber mais sobre a história das publicações citadas ou outros materiais que contam a história do Sesc SP, conheça o Sesc Memórias: sescsp.org.br/sescmemorias 

Conteúdo relacionado

Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.