Adesivagem feita na parede da exposição, reproduzindo a fachada das casas da Rua do Porto
Exposição no Sesc Piracicaba apresenta abordagem imagética e de história oral da vizinhança e seu entorno. Até 1/novembro
Dia 8/agosto o Largo dos Pescadores, tradicional espaço de manifestações culturais e religiosas da Rua do Porto em Piracicaba (SP), recebeu o Grupo de Samba de Lenço Mestre Antônio Carlos Ferraz, que fez um cortejo até o Sesc em trajeto simbólico que abrange alguns dos pontos icônicos da região. A atividade é apenas uma das diversas programações complementares que integram a exposição Memórias e Imagens da Rua do Porto, uma abordagem imagética e de história oral da vizinhança e seu entorno, que inclui atrações como contações de histórias e causos, shows de música regional, oficinas de fotografia, bate-papos com os moradores da Rua do Porto, entre outras.
A Rua do Porto originariamente foi habitada por desbravadores dos sertões, índios carijós, escravos, mulatos, caboclos, brancos pobres e posseiros que sobreviviam da produção de roças, da pesca e da construção de canoas. Por sua proximidade com o Engenho Central, constitui o polo originário de Piracicaba, que foi fundada em 1767. O salto do rio, localizado há poucos metros, impossibilita o curso natural dos peixes na piracema, fato que originou o nome da cidade: em língua tupi-guarani, Piracicaba significa “lugar onde o peixe pára”.
A relação da Rua do Porto com o rio de Piracicaba é tamanha que é impossível dissociá-los. Desde sempre, os habitantes tinham neste curso d’água o grande fornecedor de alimentos, o meio de transporte, o local de lazer, a expressão de força da natureza durante as enchentes e a manifestação de fé expressa na Festa do Divino Espírito Santo, realizada há mais de 190 anos.
A exposição Memórias e Imagens da Rua do Porto tem como ponto de partida a dissertação de mestrado da piracicabana Caroline Paschoal Sotilo, que assina a curadoria do projeto. Em seu trabalho acadêmico, Caroline visitou e conversou com vários moradores da Rua do Porto, todos idosos, sobre as fotografias por eles guardadas nos álbuns de família, em caixas de sapato, em gavetas e nos porta retratos. Assim, a fotografia cumpre o papel de elemento desencadeador para a organização das narrativas e da história local, num grande exercício de oralidade.
Caroline falou com a EOnline sobre a concepção e o desenvolvimento do projeto durante a montagem da exposição. Os principais trechos da conversa você pode assistir a seguir:
As imagens, que foram tratadas pelo fotógrafo Ivan Feitosa, responsável pela identidade visual da exposição, têm seu valor justamente no amadorismo ingênuo com o qual foram captadas pelos moradores e eternizadas em seus álbuns de família, deixando transparecer informações e discursos que dificilmente estariam presentes em registros profissionais, onde a técnica e os ensaios exaustivos podem ser utilizados tanto para mostrar e fixar quanto para esconder, omitir e apagar. Ademais, é preciso considerar que com a fotografia temos a impressão de que é possível congelar o tempo e eternizar o instante. Assim, as imagens apresentadas na exposição se configuram como importantes guardiãs e portadoras da memória local.
Na exposição, estão retratados o Rio, as manifestações religiosas e o cotidiano dos moradores. As enchentes, as pescarias, os peixes – pintados, dourados, cascudos e outros, hoje encontrados apenas em regiões mais remotas – e animais silvestres como tatus, antas, perdizes e capivaras aparecem nas imagens junto aos habitantes.
Além dos registros fotográficos, a exposição conta também com vários móveis antigos, que foram restaurados e transformados em objetos artísticos por Anne Vidal, arquiteta responsável pelo projeto expográfico e pela direção de arte. Desse modo, fotos, janelas e mobiliários, redes de pesca, relatos dos moradores e até uma canoa contribuem para fazer reviver a Rua do Porto de trinta, cinquenta, setenta anos atrás.
A exposição segue até o dia 1º de novembro, e ao longo deste período serão desenvolvidas diversas atividades que vão ao encontro da premissa da mostra: a relação entre local geográfico, fotografia, memória e o componente da ocupação humana na cidade. É sobre Piracicaba, mas nos diz muito sobre as reminiscências do interior de São Paulo em tempos idos, quando as ruas eram de terra, as cadeiras eram colocadas na calçada e a comunicação feita de janela em janela.
Você pode fazer um passeio virtual pela exposição na galeria de fotos.
Ficha técnica
Pesquisa e Curadoria: Caroline Paschoal Sotilo
Projeto Expográfico e Direção de Arte: Anne Vidal
Produção de Adereços: Casa do Chapéu cenografia e arte
Identidade Visual: Ivan Feitosa
Fotografia: Ivan Feitosa (produção e tratamento das imagens); Arquivo Fotográfico Caroline Paschoal Sotilo; Arquivo Fotográfico dos Moradores da Rua do Porto; Arquivo Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba; Arquivo Antonio Pinto
Xilogravura: Marilu Trevisan
Agradecimentos: Aos moradores da Rua do Porto: Lourdes, Rosinha, Lenira (em memória), Claudia, Eduardo, Orlando, Hélio, Claudio, Tangará (em memória), aos irmãos João e Vera e Luiz Moreira, (Ateliê do Ferro). Marli Perecin (Historiadora). Renata Gava (Historiadora). Luiz Fernando (“Gordo” – passeio de barco). Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba.
Realização: Sesc Piracicaba
o que: | Memórias e Imagens da Rua do Porto |
quando: | até 1/novembro |
onde: | Sesc Piracicaba |
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