Meu jogo, meus legados

02/01/2025

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A minha relação com o esporte começou na infância vivida no verde da roça. Naquele contexto, o esporte era livre de regras formais. Correr, saltar, brincar de taco, pega-pega, subir em árvores: tudo era movimento e diversão. Era simples e cheio de prazer, sem a necessidade de competições estruturadas. Com o passar do tempo, o futebol entrou na minha vida pelo meu pai, que eu acompanhava nos campos de várzea. Eu o admirava e queria fazer parte daquele universo, mas sentia que não havia espaço para mim. Havia barreiras invisíveis e uma forma de jogar que reforçava um modelo de masculinidade que me afastava. Eu sabia que buscava algo diferente, embora não soubesse exatamente o quê. 

Na escola, minha relação com o esporte continuava complicada. Sem aulas de educação física, os meninos jogavam futebol enquanto as meninas brincavam de roda. Eu não me identificava com nenhuma das opções, até que uma professora me mostrou uma nova perspectiva. Com sensibilidade, ela me disse: “você pode fazer outra atividade”. Essa fala, tão simples, me mostrou que eu tinha escolhas e que podia criar meu próprio jeito de jogar. 

Na adolescência, comecei a lidar com o peso de não me encaixar nos padrões esperados. O ambiente esportivo, que deveria incluir e acolher, parecia me empurrar para fora. Isso me afastou do esporte e confesso que passei mais tempo sentado na escada da quadra da escola do que participando dos jogos. Eu sentia que o esporte me observava de longe, mas não me convidava a entrar.   

Já adulto, enquanto buscava meu caminho profissional, o esporte continuava distante. Meu único contato vinha de jogos na TV, que despertavam admiração e nostalgia, mas também tristeza. Foi então que, por meio de uma bolsa de estudos, a educação física surgiu como uma oportunidade de reconciliação. Sem grandes expectativas, aceitei o desafio e iniciei a faculdade, marcando, assim, meu reencontro com a prática esportiva.   

Durante a graduação, aula após aula, descobri que o esporte podia ser muito mais inclusivo do que eu imaginava. Não precisava ser rígido ou inflexível. Nos estágios, vivenciei o esporte em academias, escolas e clubes, aprendendo que cada um poderia encontrar sua própria forma de jogar. Curiosamente, até o futebol, que antes parecia tão distante, tornou–se parte da minha trajetória. Foi nesse momento que percebi: o jogo podia ser meu também. 

Ao concluir a faculdade, novas dúvidas surgiram. Que tipo de esporte eu queria promover? Ele era para mim? Velhas dores voltaram à tona, mas foi nesse momento que o Sesc entrou na minha vida e me permitiu ressignificar minha relação com o esporte, criando espaços mais acolhedores para outros que, assim como eu, sentiam que não pertenciam. Cada experiência reforçou que o esporte não precisa se ajustar a padrões impostos, mas pode abraçar a diversidade e as singularidades de cada jogador. 

Hoje, carrego comigo esses legados como parte de quem sou. Refletir sobre o que o esporte deixou em mim é revisitar memórias e emoções que marcaram minha história e definiram meu modo de “jogar”. Passei a enxergar a prática esportiva como uma ferramenta transformadora que só cumpre seu papel quando respeita as histórias e os caminhos individuais. É com essa perspectiva que convido você a refletir sobre suas memórias e a redescobrir – ou criar – sua própria maneira de jogar, porque o esporte também é seu. Que tal seguir o seu jogo?  

Eduardo Garcia é graduado em educação física e especialista em gestão esportiva. Integra a equipe da Gerência de Desenvolvimento Físico-Esportivo do Sesc São Paulo. 

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