Grupo joga “Molho Especial”, para discutir desigualdade de gênero no Brasil. (Foto: Sofia Calabria)
Mulheres vêm, cada vez mais, conquistando lugares em diversos setores da sociedade, em especial em profissões tradicionalmente tidas como masculinas. Você provavelmente já viu uma mulher cobradora, mecânica, motorista, empresária, bombeiro, policial. Na política não é diferente. Ainda que a passos mais lentos devido à forte presença masculina e à visão ainda bastante conservadora a respeito da atuação das mulheres na vida pública, ela não deixam de se mobilizar.
No Sesc São José dos Campos, duas atividades se destacaram exatamente pelo mobilização de mulheres no aprendizado do sistema político e na discussão da desigualdade de gêneros. Lays Morimoto e Júlia Carvalho são duas das pessoas responsáveis pelo grupo Fast Food da Política e desenvolveram as duas oficinas do mês de setembro. O projeto surgiu em 2015 afim de deixar a política mais “divertida e conversável”, nas palavras de Júlia, e trabalha por meio de jogos para discutir o sistema político brasileiro e suas implicações.
A primeira das duas atividades por aqui foi “Molho Especial: Roda de Conversa e Jogos sobre Gênero, que aconteceu por ocasião do especial “As Mulheres e as Tecnologias”. O especial colocou em evidência as variadas e muito bem desenvolvidas contribuições que as mulheres vêm fazendo às ciências e às artes e às tecnologias.
“Molho Especial” consiste numa série de jogos que têm como foco a discussão da desigualdade de gêneros e suas “regras” na política, sejam elas visíveis ou não. A partir da experiência, a proposta é que os participantes pensem os lugares que cada um ocupa nessa estrutura e, assim, questionem seus possíveis preconceitos, hábitos e práticas na sociedade, trazendo assim a política para o dia a dia. “Acredito que as pessoas passam a questionar mais situações e regras que são consideradas neutras, a princípio. Uma vez que conhecem como mecanismos institucionais têm influenciado a vida das mulheres brasileiras, muitas das sensações que aparecem são: surpresa, angústia, tristeza e inquietação. Em diversas atividades dessa linha as pessoas saem provocadas a repensar as relações de gênero e a política brasileira”, diz Júlia Carvalho, que ministrou a atividade por aqui.
“Estou aqui pra aprender mais sobre a questão de gênero, sobre ser feminista ou não e sobre respeito. Eu achei incrível a maneira como está sendo toda a explicação, os jogos, algo lúdico que nos faz pensar. E estou me deperando com várias leis e permissões [para as mulheres] que eu não sabia que existiam”, diz a Analista de Requisites de TI, Tuany Cristine, uma das participantes do Molho Especial.
Formado majoritariamente por mulheres, o Fast Food da Política desenvolveu o Molho Especial a partir também das experiências que elas tiveram e têm na sociedade. “Como mulheres, e compreendendo essa questão social, acreditamos que não seja possível falar sobre democracia, cidadania e participação social se não falarmos sobre a situação social das mulheres também”, diz Lays Morimoto, uma das integrantes do projeto.
Ela e a designer gráfica Thays Esaú ministraram por aqui o curso “Design de Jogos – Criação e Desenvolvimento”, que propôs a participação ativa das/os participantes no desenvolvimento de jogos de tabuleiro que promovam o entender político e suas estratégias, ou seja, trazer o fazer do Fast-Food da Política para o público. Os grupos formados definiram as temáticas dos jogos, quais suas regras, as questões que ele discutiria e os caminhos possíveis. De maneira lúdica, divertida e rápida, a proposta é facilitar o entender político. Como disse Lays, elas descobriram que por meio dos jogos e da maneira como foram pensados é possível discutir política “sem brigar”. Uma vez que sociedades são formadas por diversos perfis econômicos e sociais, a participação plural é bastante importante para a experiência. “Temos como premissa a valorização do conhecimento que existe em todas as pessoas e buscamos criar espaços para quem estiver participando possa colaborar ativamente. Não assumimos que somente nós somos especialistas e fazemos o convite para exercerem a autonomia dentro de um processo colaborativo, onde existem metas e objetivos em que todas as pessoas envolvidas precisam investigar a fundo quais são esses temas”, declara Lays.
De acordo com ela, nos encontros os/as participantes colocam vários assuntos sobre os quais gostariam de gamificar e são então estimulados criticamente para analisar o cenário-foco. A ideia é que sejam autônomos nesse fazer e o projeto sejam mediador. “Muitas vezes, nosso papel pode ser tensionar e trazer pontos de vista conflitantes com o assunto que está sendo investigado, colaborar com mais ideias e possibilidades ou dizer que é necessário fazer escolhas, que não tem problema se o jogo não conseguir traduzir 100% do que o grupo gostaria de comunicar”, diz Lays. Um dos grupos já participantes, por exemplo, criou um jogo que discutia a relação entre minorias e políticas públicas. O jogo tinha dois caminhos possíveis: um competitivo e um coletivo, caberia ao grupo decidir qual seguir.
Trabalhando com escolas, instituições de ensino superior, ONGs, governo e empresas, o intuito do grupo é disseminar suas ideias além projeto. “As ferramentas educacionais que produzimos são abertas, podem e devem ser replicadas para promover educação política em diversos territórios”, completa Júlia. Que tal aprender sobre desiguladade de gênero e política de uma forma divertida? Se você ficou curiosa/o, dá pra baixar no site do Fast-Food da Política
Texto e fotos de Sofia Calabria
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