Entre 30 de junho e 19 de julho, o Sesc Vila Mariana apresenta Na Batucada dos Sambas, uma programação integrada que aborda a diversidade do Samba, enquanto pensamento, filosofia, criação e produção artística e seu legado ancestral, a partir do batuque como elemento central em diferentes matrizes e territórios. O projeto abrange as linguagens Música, Cinema e Turismo. A proposta torna-se também um dispositivo disparador de reflexões, em diálogo com a exposição Lélia em nós: festas populares e amefricanidade, com inauguração em 26 de junho.
A programação inicia com um passeio pela Barra Funda, um dos territórios berço do samba de São Paulo, e propõe ressoar a batucada nas ações realizadas em diversos espaços programáticos do Sesc Vila Mariana. Na Praça de Eventos, haverá rodas de samba e de conversa, e apresentações focadas em crianças, aos domingos, no período da tarde. O Auditório recebe uma mostra temática de filmes e vivências com percussionistas. Ao longo do mês de julho, o Teatro Antunes Filho seu palco shows que celebram diversas expressões do Samba. Veja a seguir a relação completa das atividades e programe-se para não perder!
Samba: a gramática da diversidade
Se você já pesquisou pela verbete “Samba” no dicionário da língua portuguesa, verá que a definição estabelece como “substantivo masculino”, cuja designação principal no oráculo das palavras afirma “Dança popular brasileira, de origem africana, derivada do batuque, com variedades urbana e rural, e coreografias diversas, acompanhada de melodia em compasso binário e ritmo sincopado, que se tornou dança de salão universalmente conhecida e adotada.”
Das verbetes e definições encontradas, adoto para compreender, mobilizar e articular o pensamento com o mestre Nei Lopes, que trará menção à etimologia quimbundo de Samba e suas derivações ancestrais: semba, dissembas, massemba, umbigo, encontro.
As duas verbetes se conversam, se complementam, se encruzam e nos dão esteio para uma compreensão e dimensão expansiva do que este substantivo – gênero musical tem sido capaz de fazer e mobilizar na nossa história e organização de nossos afetos.
É com samba, em roda, em comunidade, que a popular negra desde a travessia atlântica tem encontrado formas de construir e circular as narrativas. No batuque dos tambores sacros das religiosidades de matrizes africanas, que se faz invisível a fronteira entre sagrado e profano, traço este que se dissipa e se torna desnecessário de ser feito, ao compreendermos que Samba é a expressão maior da contra-colonialidade brasileira.
Ainda que por vezes cooptado e apropriado pela branquitude. Samba nunca deixará de ser negro, de ser feiticeiro. É com o batuque, na roda, nas vozes cantadas em coro, na palma da mão, no suor dos corpos e no rebolar dos quadris que mora a base do feitiço que fazemos – nós, comunidade preta – em busca da liberdade.
Quando nos deparamos com a programação Na Batucada dos Sambas nos defrontamos com uma minuciosa curadoria que compreende esse amálgama, essa constelação ancestral de diferentes campos lexicais propostos e manifestos a partir dessa ancestralidade que baseia e fundamenta um modo afro-brasileiro de existir no mundo.
Em tempos nos quais a diversidade e a promoção dela se torna um valor ético para um futuro possível de reafirmação da vida e das existências, ao trazermos para o centro os Batuques, Sambas e suas diferentes formas de expressão e experimentação das linguagens (cinema, teatro, artes plásticas, conversas e música), possibilitamos nos conectar com uma tecnologia social que aponta e nos ensina uma nova gramática que nos coloca em estado de alegria, sonho, liberdade e luta.
Luta por território. Luta por memória. Luta pelo protagonismo preto. Luta por sustentabilidade. Luta pela soberania alimentar. Luta pela igualdade nas relações. Luta pelo direito de ocupar as ruas. Luta pelo direito de seguir contando-cantando sua história.
É Na Batucada dos Sambas que podemos reafirmar nosso compromisso quanto individuos de co-existirmos aquilombados na intransigência que os batuques-samba vem nos ensinando desde os nossos quintais, nossos territórios-afetivos e familiares. Está dito e escrito que mais do que célula rítmica, nosso samba nos ensina a semântica para nos organizar, ler e enxergar o mundo, confluir nos afetos e sobretudo: existir e resistir e celebrar.
Maitê Freitas
Pesquisadora
Caminhada Barra Funda do Samba
Do Aparelha Luzia, passando pelo samba da Classe A e da Camisa Verde e Branco, até o antigo Largo da Banana, resgatamos as histórias negras do bairro, que têm, até hoje, uma cultura e história negras vivas e ativas. Com o Guia Negro.
Inscrições encerradas.
Na Batucada com Mônica Millet e Beth Beli
As mestras percussionistas Mônica Millet e Beth Beli demonstram seus conhecimentos a partir dos tambores e ritmos sagrados das culturas africanas e afro-brasileiras, percorrendo suas trajetórias e referências no samba.
Terça (2/7), às 19h30, no Auditório. Grátis, com retirada de ingressos no aplicativo Credencial Sesc SP e nas bilheterias das unidades em 25/6, às 17h. 12 anos.
Na Batucada com Gabi Guedes e Mestre TC
Os mestres Gabi Guedes e TC demonstram toques de atabaque a partir de diferentes matrizes rítmicas, conversam sobre suas trajetórias e o batuque como meio de comunicação e tecnologias ancestrais afrodiaspóricas.
Quarta (3/7), às 19h30, no Auditório. Grátis, com retirada de ingresso online pelo aplicativo Credencial Sesc SP em 25/6, às 17h. Retirada de ingresso nas unidades do Sesc em 26/6, às 17h. 12 anos.
Gira de Mestres: Mônica Millet, Beth Beli, Gabi Guedes e TC
Nesse encontro, as mestras Mônica Millet e Beth Beli e os mestres TC e Gabi Guedes apresentam diferentes matrizes do samba, a partir dos sons de tambores, abordando a diversidade de ritmos das culturas africanas e afro-brasileiras. Com mediação da pesquisadora, batuqueira e mestra Vanessa Cancian.
Quinta (4/7), às 19h30, na Praça de Eventos. Grátis. Livre.
Show: Samba Chula de São Braz. Participação de Ceumar e Gabi Guedes
O grupo Samba Chula de São Braz resgata e preserva a oralidade poética do samba de roda do Recôncavo Baiano, herança ancestral secular africana, e conta a história de um povo por meio do canto de labor, dor e resistência cultural de negros e negras escravizados.
Sexta (5/7), às 21h, no Teatro. Ingressos de R$15 a R$50, com venda online pelo aplicativo Credencial Sesc SP em 25/6, às 17h. Venda nas bilheterias do Sesc em 26/6, às 17h. 12 anos.
Hamilton de Holanda Trio
Show inédito explora os ritmos e as melodias do samba, com participações de Pretinho da Serrinha e Nilze Carvalho, no sábado (6/7) e Pretinho da Serrinha e Mosquito no domingo (7/7).
Sábado (6/7), às 21h; domingo (7/7), às 18h, no Teatro. Ingressos de R$15 a R$50, com venda online pelo aplicativo Credencial Sesc SP em 25/6, às 17h. Venda nas bilheterias do Sesc em 26/6, às 17h. 12 anos.
Roda de samba e conversa com Samba de Dandara. Participação de Sahra Brandão e Bernadete Tulipa Negra do Samba
Na roda, as integrantes conversam sobre ancestralidade e protagonismo feminino, em diálogo com as compositoras Sahra Brandão e Bernadete Tulipa Negra do Samba.
Sábado (6/7), 15h, na Praça de Eventos. Grátis. Livre
Crescendo no Samba
Grupo formado por crianças entre 8 e 16 anos, que têm em comum o amor pelo Samba.
Domingo (7/7), às 15h, na Praça de Eventos. Grátis. Livre.
Mostra de filmes Na Batucada dos Sambas
No Auditório. Grátis com retirada de ingressos com 1 hora de antecedência. 12 anos
Berço do Samba de São Mateus
O show celebra Tia Cida dos Terreiros, destacando sua importância na preservação das tradições culturais e religiosas afro-brasileiras. Além da participação da própria Tia Cida, a apresentação conta também com a participação especial de Tia Surica, Graça Braga e Jéssica Américo.
Terça (9/7), às 18h, no Teatro. Ingressos de R$18 a R$60, com venda online pelo aplicativo Credencial Sesc SP em 2/7, às 17h. Venda nas bilheterias do Sesc em 3/7, às 17h. 12 anos.
Velha Guarda da Vai-Vai e Roberta Oliveira
Com o propósito enaltecer a ancestralidade, a circularidade, a oralidade e as referências do samba paulista, traremos o território do Bixiga com a Velha Guarda Musical da Vai-Vai cantando e contando suas histórias por meio das composições, em um diálogo com a mestra de cerimônia e cantora Roberta Oliveira.
Sábado (13/7), às 15h, na Praça de Eventos. Grátis. Livre.
Fabiana Cozza
Nono álbum de carreira de Fabiana Cozza, Urucungo traz parte da obra inédita do compositor, filósofo, escritor, pesquisador e sambista Nei Lopes, que participa das apresentações como convidado.
Sexta (12/7) e sábado (13/7), às 21h, no Teatro. Ingressos de R$18 a R$60, com venda online pelo aplicativo Credencial Sesc SP em 2/7, às 17h. Venda nas bilheterias do Sesc em 3/7, às 17h. 12 anos.
Cordão da Dona Micaela celebra Madrinha Eunice e Carolina Maria de Jesus
Formado a partir da Comunidade do Rosário da Penha, o cordão celebra expoentes do samba de São Paulo. Nesta apresentação, a personagem Dona Micaela, interpretada pela atriz Edi Cardoso, convida para a folia Madrinha Eunice, fundadora da Lavapés, e a escritora e compositora Carolina Maria de Jesus, interpretadas respectivamente pelas atrizes Cida Baú e Luzia Rosa.
Domingo (14/7), às 15h, na Praça de Eventos. Grátis. Livre.
Tributo a Beth Carvalho com Adriana Moreira e Pagode dos Meninos
A cantora Adriana Moreira e o Pagode dos Meninos reverenciam o legado de Beth Carvalho e a linguagem musical fundamentada por ela e pelos músicos do Fundo de Quintal, há quase cinco décadas, que permanece referencial ainda hoje. Com participações de Raquel Tobias e Xeina Barros.
Domingo (14/7), às 18h, no Teatro. Ingressos de R$18 a R$60, com venda online pelo aplicativo Credencial Sesc SP em 2/7, às 17h. Venda nas bilheterias do Sesc em 3/7, às 17h. 12 anos.
Sambas, Memórias e Territórios
A pesquisadora Maitê Freitas convida para troca de saberes mulheres atuantes em grupos de diferentes espaços de coletividade e matrizes de samba, no Estado de São Paulo: Fabiana da Rocha Camargo, do Samba Lenço de Mauá; Alessandra Ribeiro, do Jongo Dito Ribeiro; e Rosemeire Marcondes, da Lavapés.
Sexta (19/7), às 19h30, na Praça de Eventos. Grátis. Livre.
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