Leia a edição de janeiro/23 da Revista E na íntegra POR MARIA JÚLIA LLEDÓ ILUSTRAÇÕES NORTEARIA
Do surgimento da ideia original até chegar à mão dos leitores, outros profissionais se juntam ao escritor para a publicação de uma obra literária
Tudo nasce de uma ideia, que é lapidada e amadurecida. Da mente do autor pousa no papel ou no arquivo do computador. Pouco a pouco, argumentos, personagens e enredos vão ganhando a forma de uma história com começo, meio e fim, custando horas de trabalho e dedicação – e muitas vezes, até noites em claro. Mas, e depois? Como esse material original, esse embrião literário, torna-se um livro? Objeto que há mais de dois mil anos guarda um inventário de mundos, o livro é fruto de um longo trajeto criativo para se materializar e habitar livrarias e bibliotecas e, finalmente, fisgar leitores.
Em diferentes tamanhos, tipos de papel e acabamentos – suas páginas podem ser costuradas ou coladas à lombada, que é a parte que liga as folhas e dá sustentação ao material –, romances, ensaios, ficções, poesias e outros gêneros literários passam por um cuidadoso processo de produção. Primeiramente, o projeto de livro chega às mãos de um conselho editorial, equipe responsável por avaliar a proposta, numa editora. Esse grupo faz a leitura dos originais enviados e decide se o material está alinhado ao perfil de suas publicações.
Coordenadora editorial nas Edições Sesc São Paulo, Clívia Ramiro explica que lá, por exemplo, as propostas de publicações são avaliadas pelos membros da Comissão de Publicações e do Conselho Editorial, e também podem ser enviadas para pareceres externos de especialistas, para, então, o editor entrar em cena.
“O trabalho efetivo do editor e dos assistentes editoriais começa após essa avaliação [da Comissão] e aprovação da diretoria, com um estudo do texto original do livro. Esse estudo envolve definir que tipo e grau de intervenção o livro precisa. A partir dessa avaliação, o editor pode indicar cortes, reescritas de partes, inserção de novos trechos e realocação da ordem de entrada do conteúdo. Também é analisada a necessidade de inclusão de ilustrações, fotografias, gráficos e tabelas, se for o caso”, explica Clívia.
Ou seja, o editor é uma peça fundamental para a publicação de um livro. “Entre a editora e o autor, há um trabalho de muita troca, diálogo e colaboração nesta primeira fase da edição. E isto é essencial para que as fases posteriores fluam sem atrasos ou problemas”, ressalta Clívia. A britânica Virginia Woolf (1882-1941), por exemplo, somou esse papel ao ofício da escrita quando criou, em 1917, junto ao marido e cientista político Leonard Woolf, a Hogarth Press. Essa visão crítica e curatorial do casal Woolf foi fundamental para que as obras do pai da psicanálise, Freud, e dos russos Tchekhov, Tolstói e Dostoiévski fossem traduzidas para a língua inglesa naquela época. Curiosamente, a Hogarth Press, que encerrou suas atividades em 1946 com um acervo de 527 títulos, cometeu o deslize de não publicar o manuscrito de Ulisses, do irlandês James Joyce (1882-1941), que se encarregou de encontrar outra editora para lançar uma das obras mais importantes da literatura mundial.
ALÉM DA CAPA
Passada a etapa de ajustes de texto junto ao autor, o editor seleciona profissionais com perfis adequados para trabalhar com preparação e revisões de texto. Em seguida, entra em atuação o designer, que cria um projeto gráfico para o livro em diálogo tanto com a obra quanto com a identidade visual do catálogo da editora. Designer de projetos premiados dentro e fora do Brasil, Raquel Matsushita conta que o primeiro passo do seu trabalho é ler o livro e, então, escolher palavras-chave para a condução da narrativa visual.
Nesse processo autoral, ideias para a parte externa do livro (capa, quarta capa, lombada e orelhas) podem surgir antes mesmo da composição do miolo (parte interna de uma obra literária). Tipografia, cores e tamanho da publicação são algumas das etapas de criação. “Vou juntando todos esses elementos que o design me oferece para traduzir o conceito do livro. Não gosto de criações muito óbvias ou fechadas, que permitam apenas uma leitura. É legal instigar o leitor, e nunca subestimá-lo”, destaca Raquel.
Outra etapa é a criação do espelho, algo como um “storyboard do cinema, só que do livro”, explica Raquel. No espelho, o página a página é esmiuçado para que, em conjunto, dê ritmo à leitura. “O tempo de virar a página, que seja um segundo, é um espaço vazio que você pode explorar. Nesse intervalo, é possível incluir uma imagem ou alguma composição gráfica que salte aos olhos, que dê um susto a quem lê, ou não. Também posso continuar no silêncio [de um espaço em branco]”, explica.
NOTAS DE RODAPÉ
O que serve de matéria para a produção de uma obra literária pode também ser útil ao designer. “Um filme, uma peça, uma cena na rua ou no metrô. A vida influencia. Uma vez, eu criei uma paleta de cores para um livro depois de ver uma vitrine de tênis”, compartilha Raquel Matsushita, mostrando de que forma alia referências técnicas aos acasos do dia a dia como inspiração.
“Para a criação da capa de Mercados e feiras livres em São Paulo: 1867-1933 (Edições Sesc São Paulo, 2019), fui à feira, peguei algumas caixas, desmontei uma por uma, juntei as ripas, pintei e imprimi aquela ideia para usá-la. Então, a hora que escolho fazer desse jeito, já estou narrando algo que tem a ver com a obra. No caso desse livro, escrito por Francis Manzoni, fui buscar a matéria-prima que ele encontrou na feira. Ou seja, eu busco essa dança com o autor”.
Depois dessa criação, somam-se outras etapas – revisão do boneco [arquivo final diagramado], impressão, distribuição e divulgação – até o dia do lançamento do livro. E quando a obra finalmente cria asas, ela parte rumo a quem habitará suas páginas. Mas não se engane: essa escolha não é sua, e sim do livro. Pelo menos para o bibliófilo e escritor Alberto Manguel, que acredita que toda obra busca seu leitor ideal. “Às vezes, ele o encontra, às vezes, não, e segue esperando. Os livros são muito pacientes”, já disse em entrevista à Revista E.
Pronto pra ler!
Impresso ou digital, acervo das Edições Sesc São Paulo abarca um amplo catálogo de publicações nas áreas das artes e ciências humanas
Desde 2007, as Edições Sesc São Paulo colecionam lançamentos de obras literárias, em formato impresso e digital, nas áreas de artes e ciências humanas. Baseado em conteúdos que dialogam com a atuação do Sesc e com questões contemporâneas, o acervo das Edições Sesc soma 370 livros, reunidos num catálogo que pode ser acessado em: sescsp.org.br/edicoes.
EDIÇÕES SESC SÃO PAULO
Coleção Bibliofilia (2020)
Em parceria, as Edições Sesc São Paulo e o Ateliê Editorial conceberam uma série de obras para celebrar o fascínio pela leitura e fomentar a importância social, cultural e simbólica do livro. Organizada por Marisa Midori Deaecto e Plinio Martins Filho, a coleção é composta pelos três títulos a seguir, além de mais cinco em fase de produção:
O que é um livro?
De João Adolfo Hansen. Reflexão sobre os múltiplos significados de um livro. Segundo o autor, a obra pode ser considerada tanto um objeto material quanto simbólico.
Da argila à nuvem
De Yann Sordet. Percorra o caminho dos manuscritos medievais, o impacto da invenção da imprensa, a expansão das universidades e bibliotecas, até chegar à era das tecnologias digitais.
A sabedoria do bibliotecário
De Michel Melot. Homenagem ao bibliotecário, importante personagem na conservação e organização do conhecimento. Aquele profissional que, segundo o autor, “ama os livros como o marinheiro ama o mar”.
A EDIÇÃO DE JANEIRO/23 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!
No mês em que acontece o Sesc Verão 2023, discutimos a relação entre as tecnologias e a prática físico-esportiva. A reportagem principal desta edição defende que usar o tempo livre para atividades que não movimentam o corpo favorece o sedentarismo, além de elevar o risco de doenças crônicas. No entanto, o texto também aponta que, quando utilizado de maneira equilibrada, o tempo em frente às telas pode motivar a prática de atividades físicas, por meio do uso de aplicativos e aparelhos que medem frequência cardíaca, gasto calórico, qualidade do sono, entre outros indicadores.
Além disso, a Revista E de janeiro/23 traz outros conteúdos: uma reportagem que percorre os caminhos de gestação de uma obra literária, desde o surgimento da ideia original até chegar à mão dos leitores; uma entrevista com a escritora cubana Teresa Cárdenas, que conta sobre sua relação com a literatura brasileira, seu processo criativo e revela de que forma os antepassados guiam sua escrita; um depoimento com a cantora e compositora Ellen Oléria sobre música, teatro e afrofuturismo; um passeio visual por imagens que celebram o universo feminino indígena no universo das artes visuais; um perfil da médica Nise da Silveira (1905-1999), pioneira na humanização do atendimento psiquiátrico por meio da arte; um encontro com o jornalista Tiago Rogero, criador do projeto Querino, que fala sobre popularização de podcasts e luta antirracista no Brasil; um roteiro nostálgico pelas miudezas arquitetônicas de São Paulo, em celebração aos 469 anos da capital paulista; um conto inédito da escritora Natalia Timerman; e dois artigos que discutem a relação entre envelhecimento e inclusão digital.
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