No dia 22 de agosto de 2024, o Sesc Interlagos abriu as portas para a exposição NÓS – Arte & Ciência por Mulheres, uma homenagem à trajetória científica, intelectual e artística das mulheres. A mostra revela como, ao longo da história, essas produtoras de conhecimento foram sistematicamente invisibilizadas, destacando suas contribuições e a constante luta contra a opressão.
“Por muito tempo na história ‘anônimo’ era uma mulher.” – Virginia Woolf
A exposição convida o público a percorrer um resgate histórico que começa na era medieval, quando mulheres como parteiras, curandeiras e benzedeiras resistiam à lógica patriarcal que as relegava ao esquecimento. Esse apagamento, muitas vezes imposto por códigos morais rígidos, permanece até os dias atuais, e a exposição ressalta essa luta por reconhecimento e autonomia.
“Nós, mulheres, sempre criamos, curamos, catalogamos, inventamos, analisamos e, sobretudo, lutamos. ‘NÓS — Arte & Ciência por Mulheres’ traz para a linguagem de exposição uma narrativa que busca dar visibilidade à contribuição das mulheres ao longo dos tempos, e faz isso através da arte, buscando informar e sensibilizar para mudanças em curso, mas que seguem urgentes para a emancipação das mulheres“, ressalta Isabel Seixas, da equipe curatorial.
Entre os destaques estão cerca de 60 cientistas que marcaram épocas distintas. A exposição celebra pioneiras como Maria, a alquimista grega, as químicas Marie e Irene Curie, a bióloga Bertha Lutz e a paleontóloga Carlotta Joaquina Maury. O campo das artes contemporâneas também está bem representado com obras de Ana Teixeira, Antonia Dias Leite, Arissana Pataxó, Berna Reale, Camila Soato, Camila Sposati, Claudia Ferreira, Doralyce, Efe Godoy, Gabriela Noujaim, Hariel Revignet, Heloísa Marques, Katharina Welper, Marcela Cantuária, Marika Seidler, Mestra Japira Pataxó, Mônica Ventura, Patty Wolff, Priscila Rooxo, Thatiana Cardoso, Yacunã Tuxá e Laura Gorski – esta última representada por duas peças que fazem parte do Acervo Sesc de Arte.
Além das ciências e artes, a exposição explora as construções sociais de gênero e seus impactos em uma sociedade e ciência predominantemente androcêntricas. Figuras fundamentais para o debate sobre igualdade e representatividade também recebem o devido reconhecimento. Entre elas, a educadora Nísia Floresta, primeira feminista do Brasil e fundadora de um marco na educação feminina no país; a médica Maria Odília Teixeira, pioneira entre as mulheres negras na medicina, autora de estudos importantes sobre cirrose alcoólica e Sueli Carneiro, filósofa e fundadora do Geledés — Instituto da Mulher Negra.
A ciência moderna ocidental transformou os muitos mundos que há no planeta Terra em um único mundo possível, destruindo ou fazendo não existir territórios, idiomas, civilizações, cosmovisões, filosofias, seres tangíveis e intangíveis… Para ela só cabe um mundo, ou seja, gera a invisibilidade do pluriverso que existe… E as mulheres em tudo isso , de todas as idades e todos os rincões do mundo, são pensadas e representadas como seres com menos dignidade humana, incapazes e cujo papel principal é aceitar, sem dúvida ou protesto, a proteção de seus pais, tios, maridos e irmãos.” – Teresa Cunha
No campo da ciência e tecnologia, o Brasil tem grandes nomes que também estão em destaque na exposição. Beatriz Grinsztejn, primeira mulher latino-americana a presidir a International AIDS Society, com a missão de combater as desigualdades no enfrentamento global à AIDS; a geneticista Mayana Zatz, referência em doenças neuromusculares e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano; Nina da Hora, hacker antirracista que hoje faz parte do Conselho de Segurança do TikTok e Jaqueline Goes, biomédica que esteve à frente do sequenciamento do genoma do SARS-CoV-2 em tempo recorde durante a pandemia de COVID-19.
“Estamos cansados de saber que nem nos livros onde mandam a gente estudar se fala da efetiva contribuição das classes, populares, da mulher, do negro e do índio na nossa formação histórica e cultural. na verdade, o que se faz é folclorizar todos eles. E o que fica? É a impressão de que só os homens, os homes brancos, social e economicamente privilegiados, foram os únicos a construir esse país. A essa mentira tripla se dá o nome de sexismo, racismo e elitismo.” – Lélia Gonzalez
Uma frase que permeia toda a exposição é: “A revolução será feminista, ou não será!”, amarrando narrativas que demonstram a luta contínua das mulheres por uma sociedade mais justa, onde direitos políticos, econômicos e sociais sejam acessíveis a todos. A questão do trabalho doméstico também é abordada com destaque, apontando como no Brasil, muitas mulheres, especialmente aquelas em jornadas duplas, são forçadas a abdicar de estudos e carreiras para se dedicarem exclusivamente às tarefas domésticas.
NÓS – Arte & Ciência por Mulheres é uma realização do Sesc São Paulo, com curadoria do Estúdio M’Baraká. A consultoria científica ficou a cargo da pesquisadora Magali Romero Sá. A exposição é um convite a refletir sobre a importância da representatividade e do reconhecimento das mulheres como protagonistas do conhecimento.
Isabel Seixas de Mello
Isabel Seixas é sócia-fundadora da M’Baraká, onde atua prioritariamente na área de desenvolvimento de conteúdos e projetos. Em todos os projetos, gerencia as etapas de pesquisa, curadoria e criação de conteúdos. Com uma formação múltipla, que incluiu a iniciação nas graduações de economia (UFF) e Ciências Sociais (UFRJ), a posterior formação em Produção Cultural (UFF) e estudos sobre narrativas audiovisuais e expositivas, Isabel atua em projetos de diferentes formatos. Dentre as exposições que participou como idealizadora e curadora destacam-se “Nise da Silveira – a revolução pelo afeto”, “Tropicália – um disco em Movimento, ‘Do Sal ao Digital”; “Virei Viral”, “Quando o Mar Virou Rio”, “NÓS – Arte & Ciência por Mulheres” entre outras.
Letícia Stallone
Letícia Stallone é pesquisadora e curadora com foco em iniciativas decoloniais, atuando entre Brasil e Dinamarca, onde reside. Dedica-se à promoção de uma educação inclusiva, tornando o conteúdo acadêmico acessível a um público diversificado. Com doutorado em linguística (UFF), colabora em diversos projetos como membro do coletivo curatorial M’Baraká, desde 2009. Letícia explora abordagens inovadoras na criação de exposições, especialmente aquelas que integram obras contemporâneas para contar histórias não convencionais e oferecer novas perspectivas, resgatando narrativas frequentemente negligenciadas na educação tradicional. Na IMMART (Dinamarca), conduz estudos sobre a inclusão de artistas estrangeiros na Europa, organiza exposições e desenvolve projetos educativos.
Diogo Rezende
Formado em desenho industrial pela Escola de Belas Artes da UFRJ, é especializado na criação e gestão de projetos expositivos, que articula a partir do estúdio M’Baraká (lê-se UM-BA-RA-KÁ), o qual fundou com Isabel Seixas em 2007. Com pós-graduação em branding cultural (ESPM) e especialização em design de exposição pela EAV (Parque Lage), atualmente é mestrando em Arquitetura Paisagística pelo PROURB (UFRJ), onde investiga a relação entre museu e paisagem, arte e ciência. Foi responsável pela direção de arte de diversos projetos culturais, dentre exposições, mostras, festivais, espetáculos de teatro e circo. Na área de museus, foi responsável pela expografia e curadoria de dezenas de exposições criadas com o coletivo do estúdio, dentre as quais a exposição “Nise – A Revolução pelo Afeto”, que recebeu menção honrosa por seu projeto de curadoria e design no prêmio do IAB-RJ em 2021. Diogo divide com a arquiteta Lilian Sampaio a direção de arte e projeto expográfico da exposição “NÓS – Arte & Ciência por Mulheres”.
Magali Romero Sá
Bióloga, com mestrado em Zoologia (UFRJ) e Ph.D. em História e Filosofia pela Universidade de Durham, Inglaterra. É pesquisadora titular da Fundação Oswaldo Cruz desde 1997 e Vice-Diretora de Pesquisa e Educação da Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz (2017 – ). Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde/COC/Fiocruz, é bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) desde 2008 e bolsista do Programa Cientista do Nosso Estado, da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) entre 2013-2016. Coordenadora de Projetos de Pesquisa Nacional financiados pelo CNPq e FAPERJ, desde 2001, e Internacional pela British Academy (2013-2017), relacionados às seguintes áreas de atuação: História das Ciências, História das Relações Científicas Internacionais, Darwinismo no Brasil, Expedições e coleções científicas séculos XIX e XX. Orientadora e supervisora de mestrado, doutorado e pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz e na Faculdade de Ciências e Tecnologia do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Nova de Lisboa, Portugal. Com mais de 50 publicações em periódicos nacionais e internacionais, livros e capítulos de livros, Magali já colaborou na curadoria de diversas exposições. É Membro do Conselho Editorial da Medical History, Inglaterra, do Conselho Editorial da Editora MAUAD – Rio de Janeiro e Membro assessor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
NÓS – Arte & Ciência por Mulheres
Sesc Interlagos – Avenida Manuel Alves Soares, 1100 – Sede Social – Hall de Exposições – Parque Colonial
Horário de visitação: Até 30 de março de 2025; quarta a domingo e feriados, das 10h às 16h30.
Entrada gratuita
Visita mediada com o Educativo: sábado e domingos, às 10h, 11h, 13h e 14h. Capacidade máxima por horário: 40 pessoas.
Realizamos o agendamento gratuito de visitas, com mediação, para grupos organizados, como escolas, instituições, entidades, associações, entre outros.
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