Mostra de curtas-metragens no Sesc Belenzinho revela e celebra a produção do audiovisual na periferia da Zona Leste de São Paulo.

Texto de Marcelo Dias de Carvalho*

De maneira genérica a periferia é conhecida, popularmente, como os bairros que são afastados da cidade, isto é, do centro urbano, o local onde, normalmente, está situada uma população de renda mais baixa.

Vale destacar também, que na cidade de São Paulo essa definição de periferia, ainda que seja reconhecida e divulgada, não consegue traduzir a diversidade e a singularidades históricas, geográficas, sociais e culturais que formam seus bairros. Ainda que distantes e povoados por populações de baixa renda, as regiões periféricas são únicas. Embora tenham muito em comum, é possível notar singularidades entre as diversas periferias que integram a cidade de São Paulo, sobretudo quando se observa a diferença entre os bairros periféricos localizados em cada uma das quatro regiões da cidade (Zona Norte, Zona Leste, Zona Oeste e Zona Sul). As identidades, as histórias e as formas de se viver e ser, das diferentes periferias que integram a cidade de São Paulo são únicas e bem específicas.

Trata-se de uma observação pertinente ao se refletir sobre a representação dos bairros periféricos da cidade de São Paulo na história do audiovisual brasileiro. Até recentemente, a periferia aparecia, em geral, retratada em filmes documentários produzidos inclusive, não raramente, por um “olhar estrangeiro”, isto é, por artistas que não faziam parte ou se relacionavam intima e diretamente com o cotidiano desses bairros. Deste modo, tendem a não revelar as especificidades e as nuances que formam, não só a história e a identidade de cada periferia, mas também a de cada um dos bairros que as compõem.

Nos últimos vinte anos, devido a uma série de fatores – tais como: a formação e profissionalização dos artistas periféricos no campo audiovisual, a criação de leis de incentivo e de editais voltados exclusivamente para a produção artística nas regiões periféricas e a popularização e democratização de equipamentos e, consequentemente, de todas as etapas da produção audiovisual – é possível notar uma nova geração de artistas, coletivos e produtoras audiovisuais, formadas e atuantes nas periferias das grandes cidades, incluindo na cidade de São Paulo.

A nova geração de artistas, coletivos e produtoras periféricas, dedicados a produção audiovisual, tem se destacado não só por ampliar o acesso à produção audiovisual brasileira, mas também por revelar e inaugurar novas estéticas, cenários, narrativas e histórias que marcam suas próprias trajetórias que fazem parte dos seus bairros de origem e de residência.

É nesse sentido que durante a Virada Cultural 2024 – quando o Sesc Belenzinho celebra a produção artística realizada em torno das Linhas Vermelhas (CPTM e Metrô) que congregam vários bairros periféricos da Zona Leste – será realizada na unidade a mostra ZL em Curtas Metragens**.

A mostra é formada por 3 curtas-metragens de ficção e 1 documentário experimental, que foram produzidos e realizados por artistas periféricos nos últimos quinze anos. Ao elegerem a ficção e o documentário experimental, estes artistas – com destaque às mulheres negras – expressam, de forma transcendente e original suas próprias versões e narrativas sobre a periferia, isto é, os desejos, as angústias e as subjetividades de pessoas que, individual e coletivamente, fazem parte da história da cidade de São Paulo.

A Zona Leste, com seus protagonistas, cenários e histórias, conduzem a seleção da mostra de curtas-metragens. Uma produção rica e diversificada, exibida em diversos festivais nacionais e internacionais, destaca-se por apresentar diferentes estilos, artistas, estéticas, personagens, temas e abordagens, revelando, portanto, a diversidade da produção audiovisual da região leste, de São Paulo.

Abaixo os filmes que serão exibidos nesta mostra:

Tereza Joséfa de Jesus
(Dir. Samuel Costa | Brasil | Curta-metragem – 8 min | Col. | 2021)
Documentário experimental. O filme acompanha a trajetória de Juliana Jesus, que perdeu a mãe por negligência médica. Marcado por capítulos que representam as 5 fases do luto, Juliana nos leva em uma jornada em busca de sua ancestralidade e superação.

Aquém das Nuvens
(Dir: Renata Martins | Brasil | Curta- metragem – 17 min /Col. | 2010)
Ficção. Nenê é casado com Geralda há 30 anos. Em uma tarde de domingo, como de costume, ele vai à roda de samba encontrar os amigos. Ao voltar para casa, surpreende-se com uma notícia sobre Geralda. Sem deixar que o ritmo do samba caia, Nenê encontra uma solução para ficar ao lado de sua eterna namorada.
Assista ao trailler clicando aqui.

Peripatético
(Dir. Jéssica Queiróz | Brasil | Curta-metragem – 15 min. | Col. | 2017)
Ficção. Simone, Thiana e Michel são jovens moradores da periferia de São Paulo. Simone procura o primeiro emprego, Thiana tenta passar no vestibular de medicina e Michel ainda não sabe o que fazer. Em meio às demandas do início da fase adulta, um acontecimento histórico, em maio de 2006, na cidade de São Paulo muda o rumo de suas vidas para sempre.
Assista ao trailer clicando aqui.

Sem Asas
(Dir. Renata Martins | Brasil | Curta-metragem – 19 min. | Col. 2019)
Ficção. Zu é um garoto negro de 12 anos. Ele vai à mercearia comprar farinha de trigo para a sua mãe e, na volta, descobre que pode voar.
Assista ao trailer clicando aqui.

**A exibição do ZL em Curtas Metragens será no dia 19/05, domingo, das 15h às 16h e integra a programação do Sesc Belenzinho na Virada Cultural 2024. Consulte a classificação indicativa. Retirada de ingressos dia 18/5, online a partir das 12h e presencial a partir das 16h. Ingressos gratuitos – limite de 2 ingressos por pessoa/atendimento.

*Marcelo Dias de Carvalho é animador cultural e integra a equipe de programação do Núcleo da Imagem e da Palavra do Sesc Belenzinho.

Confira a programação completa da Virada Cultural 2024 no Sesc em sescsp.org.br/sescnavirada