Reconhecido mundo afora pelas experimentações sonoras, Hermeto Pascoal transpõe a música para o território das artes visuais
Por Maria Júlia Lledó
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Foi no pequeno município alagoano de Lagoa da Canoa que há exatos 88 anos nascia o “bruxo dos sons” Hermeto Pascoal. Autodidata, o multi-instrumentista e compositor aprendeu, primeiro, os acordes da natureza, de tanto ouvir pássaros, sapos e outros bichos do agreste. Depois, passou a tocar sanfona com um olho no pai e outro na própria intuição, o que lhe rendeu reconhecimento mundial por suas partituras e interpretações com tantos instrumentos musicais, convencionais ou nem tanto – piscina de borracha, bomba de encher pneu de bicicleta, brinquedos de plástico, chaleira, xícara, entre outros.
Dessa mesma força motriz chamada música, transcenderam obras no campo das artes visuais. “As pinturas que faço são como fazer as linhas da música. Nos meus cadernos, a linha que eu faço treme igual. E eu deixo, que acho bonito”, compartilhou o artista em entrevista ao site especializado em música Farofafá. Das imagens que costuma criar mentalmente ao observar nuvens no horizonte às livres e coloridas associações que desenha no papel, a exemplo da capa do disco Cérebro magnético (1980), a expressão criativa de Hermeto Pascoal ultrapassa qualquer fronteira entre as linguagens da música e das artes visuais. Tal como celebra Caetano Veloso na canção “Podres Poderes” (1984), os “sons e dons geniais” do artista alagoano seguem ecoando em “mil tons” de “hermetismos pascoais”.
Tendo em vista essa faceta ainda pouco conhecida do artista, a exposição Ars Sonora – Hermeto Pascoal, em cartaz no Sesc Bom Retiro [leia mais em Universo hermetiano], reúne desenhos, pinturas, objetos e instrumentos do cotidiano transfigurados a partir do alfabeto sonoro-visual de Hermeto Pascoal. A mostra tem curadoria de Adolfo Montejo Navas, poeta e crítico espanhol que conheceu o músico em 1990, no Festival de Jazz de Vitoria-Gasteiz, na Espanha. Desde então, Navas vem incentivando Hermeto Pascoal a expor suas obras. A primeira vez foi na mostra coletiva Sinais da pista, no Museu de Petrópolis (RJ), em 2006. Na segunda, levou uma outra versão do projeto Ars sonora – Hermeto Pascoal à Bienal de Curitiba de 2019, da qual Navas também fez parte da curadoria.
No Sesc Bom Retiro, a exposição Ars sonora – Hermeto Pascoal apresenta novas dimensões do cosmos hermetiano, mais experiências sonoro-visuais e elementos interativos, além de trabalhos recentes. Organizada como um “arquipélago ou galáxia”, como descreve Navas, a mostra é dividida em núcleos sobre diferentes campos de experimentação do artista, cada qual guiando a navegação do público. “Ars sonora oferece várias vias para conhecer a obra plural do músico e compositor: sua relação com a visualidade, as imagens, além de outras fronteiras experimentais com o som, da relação arte e som. Também permite contextualizar uma obra pioneira em coordenadas mais amplas das artes plásticas e da música”, resume o curador.
Desenhos, pinturas e objetos criados a partir da fluência sonoro-visual de Hermeto Pascoal compõem exposição no Sesc Bom Retiro
Nome consagrado na história da música mundial, Hermeto Pascoal é reconhecido pela inovação e inventividade em seu trabalho artístico. Multi-instrumentista, compositor e produtor musical, é também dono de um extenso repertório de criações no campo das artes plásticas – faceta que, no entanto, ainda é pouco conhecida do público. Pioneira ao propor um passeio visual por uma coleção de desenhos, pinturas e objetos, a exposição Ars Sonora – Hermeto Pascoal, em cartaz no Sesc Bom Retiro, convida o visitante a imergir no universo criativo desse artista autodidata e performer experimental que, aos 88 anos (completados no dia 22 de junho), segue exercendo um papel importante na educação musical ao integrar, entre outros multitalentos, saberes e fazeres na criação de instrumentos.
Reunindo nove diferentes vertentes, a exposição está configurada em um conjunto de núcleos em torno de sua poética artística. Como ponto de partida, “Música da Aura” reúne experiências sonoras realizadas com o som da voz de pessoas e a sua natureza tonal. Entre outros núcleos, “Pinturas Caligráficas” reúne partituras feitas em guardanapos, convites, toalha de mesa, brinquedos, jogos americanos, cardápios de restaurantes e até em papel higiênico e tampa de privada. Já “Brincando de Corpo e Alma”, ação performática de 2012, é apresentada em registro audiovisual de captações sonoro-visuais do artista, produzindo diferentes sons no próprio corpo.
Segundo Ana Luisa Sirota, gerente adjunta do Sesc Bom Retiro, a exposição oferece perspectivas diferentes da obra de Hermeto Pascoal, sobretudo ao evidenciar a conexão entre arte e vida que há nela. “Com inventividade e bom humor, Hermeto se apropria dos mais diversos materiais e suportes, quebrando hierarquias da mesma forma como faz com gêneros musicais, e oferece uma experiência que nos provoca a pensar nos mecanismos da própria criação, prato cheio para a ação educativa da exposição”, explica. Ainda neste mês, o músico lança o álbum Pra Você, Ilza, em shows entre os dias 21 e 23/6, no Sesc Vila Mariana.
BOM RETIRO
Ars Sonora – Hermeto Pascoal
Curadoria de Adolfo Montejo Navas. Até 3 de novembro de 2024. Terça a sexta, das 9h às 20h; sábados, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 10h às 18h.
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