De portas abertas, casarões tombados em diferentes regiões da capital convidam a uma visita pelos corredores da memória patrimonial paulista
Por Maria Júlia Lledó
Leia a edição de julho/23 da Revista E na íntegra
Ao flanar pelas ruas de São Paulo (SP), observamos janelas, portões e jardins de casarões de outras épocas. Desejamos ser convidados a entrar para tomar um café ou quem sabe sentar-se à sombra de uma árvore ao lado de Lasar Segall (1891-1957); passear por entre a coleção de obras de arte de Ema Klabin (1907-1994); escolher um livro na prateleira do escritório de Vilanova Artigas (1915-1985); brindar à mesa da sala de jantar com Lina Bo Bardi (1914-1992); ou simplesmente contemplar o ângulo com que o sol das três da tarde incide sobre o vitral da fachada da Casa da Don’Anna.
Esses imponentes imóveis, que um dia abrigaram conversas, festas de família e horas de trabalho, podem ser visitados em diferentes bairros pela cidade. Alguns aguardam os últimos retoques, como a Casa das Rosas, na Avenida Paulista, que deve reabrir nos próximos meses. Outros se tornaram espaços culturais, cápsulas de memórias e legado de ilustres moradores que, neste Almanaque, abrem as portas para embarcarmos numa viagem pela história da arte e da arquitetura paulistas.
Flávio de Carvalho (1899-1973) teve seu estilo definido como “romântico revolucionário” pelo arquiteto Le Corbusier (1887-1965). Entre seus projetos está a Vila Modernista, inaugurada em 1938, onde é possível visitar, desde março de 2023, a única residência que foi inteiramente restaurada em sua versão original. Novo espaço permanente para realização de exposições e eventos de artes visuais na capital, a Casa SP–Arte ocupa este projeto residencial que fica na zona oeste. Caracterizado por um guarda-sol de concreto na parte frontal, a casa ainda mantém, em seu interior, os ladrilhos hidráulicos assinados por Flávio de Carvalho.
Casa SP-Arte
Alameda Ministro Rocha Azevedo, 1.052, Jardins. Visitas de quarta a sábado, das 11h às 17h. Grátis.
sp-arte.com/casa-sp-arte
O primeiro projeto da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi fica na zona oeste de São Paulo. Construída entre 1950 e 1951, a Casa de Vidro foi residência de Lina e do marido, o jornalista Pietro Maria Bardi (1900-1999), e é considerada um ícone da arquitetura moderna. Sua fachada de vidro não só permite a entrada de luz, como também uma ampla visão de mais de 200 espécies da Mata Atlântica. Tombada em 1987 como patrimônio histórico, foi transformada no Instituto Bardi / Casa de Vidro e, desde 2015, é aberta à visitação, além de fomentar ações de design, arquitetura e artes.
Instituto Bardi / Casa de Vidro
Rua General Almério de Moura, 200, Morumbi. Visitas de quinta a sábado, das às 10h, 11h30, 14h e 15h30. Grátis para crianças (de até 10 anos).
A residência que pertenceu à mecenas Ema Gordon Klabin é composta por elementos clássicos e modernos em 900 metros quadrados. Com projeto arquitetônico de Alfredo Becker (1851-1937) e paisagismo de Burle Marx (1909-1994), o imóvel foi inaugurado em 1961, reunindo um acervo de mais de 1.500 peças, entre pinturas, gravuras e esculturas colecionadas por Ema. Sua casa ainda era espaço para jantares e saraus frequentados por diplomatas, políticos, empresários e artistas. Na década de 1970, ela resolveu transformar o imóvel num museu aberto ao público e, para isso, criou a Fundação Cultural Ema Gordon Klabin, que iniciou suas atividades em 1997 e, 10 anos depois, abriu as portas para visitação.
Casa-Museu Ema Klabin
Rua Portugal, 43, Jardim Europa. Visitas de quarta a domingo, das 11h às 18h. Grátis (sugestão de contribuição voluntária).
Telhado em forma de asa de borboleta, janelões de vidro e fachadas pinceladas de vermelho, azul e amarelo. A construção que fica na zona sul da capital é uma obra de 1949 do arquiteto e urbanista João Batista Vilanova Artigas, com jardim criado por Burle Marx, e que foi moradia da família Artigas até 2016. Tombada e revitalizada em 2017, a casa abriu as portas para visitação há cinco anos, como Instituto Casa Vilanova Artigas (ICVA), preservando o legado de um dos maiores nomes da arquitetura brasileira.
Instituto Casa Vilanova Artigas
Rua Barão de Jaceguai, 1151, Campo Belo. Visitas de quarta a domingo, das 12h às 17h. Grátis. instagram.com/casaartigas
Testemunha dos tempos em que o café era a principal atividade econômica no Brasil, a residência do casal Anna Silva Telles e Octaviano Alves de Lima Filho foi projetada pelo arquiteto Ramos de Azevedo
(1851-1928), o mais renomado de São Paulo no século 20. Construído entre 1912 e 1914, o casarão está localizado nos Campos Elíseos, na região central. Com mil metros quadrados de área construída, e outros mil de jardim, a residência tem vitrais assinados por Conrado Sorgenicht (1835-1901), o mesmo responsável pelos vitrais da Catedral da Sé. Reformada em 1944, o casarão assumiu um estilo modernista e, atualmente, a Casa da Don’Anna abriga eventos e visitas guiadas.
Casa da Don’Anna
Rua Guaianases, 1149, Campos Elíseos. Visitas aos sábados e domingos, das 11h às 17h. Grátis para crianças (de até 4 anos).
casadadonanna.com.br
Depois de residirem em Paris, entre 1928 e 1932, Lasar Segall e sua esposa, a escritora Jenny Klabin Segall (1899-1967), decidiram morar na zona sul de São Paulo. No terreno, tanto a casa quanto o ateliê do artista foram projetados por Gregori Warchavchik (1896-1972), concunhado de Segall e precursor da arquitetura moderna no Brasil. Dez anos após a morte do artista, em 1967, o espaço se transformou no Museu Lasar Segall e, em 1985, o projeto foi incorporado à Fundação Nacional Pró-Memória, compondo, hoje, uma das unidades do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Com acervo museológico, documental e fotográfico, o imóvel está aberto para visitas, exposições, cursos e outras atividades culturais.
Museu Lasar Segall
Rua Berta, 111, Vila Mariana. Visitas de quarta a segunda, das 11h às 19h. Grátis. instagram.com/museu_lasar_segall
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