As linguagens artísticas que transitam pela cultura popular, a xilogravura, que no Brasil tem sua tradição nos cordéis, e o graffiti, expressão urbana e transgressora, se juntam na exposição Xilograffiti, em cartaz no Sesc Consolação de 4 de maio a 31 de julho de 2022.
Os trabalhos dos artistas e coletivos presentes na mostra – cujas linguagens e referências culturais podem sugerir mais diferenças do que aproximações para o imaginário coletivo – apresentam muitos pontos convergentes, em especial na forma como são construídas, em caráter inclusivo, colaborativo e participativo.
Para o curador, “Mais do que linguagens artísticas, a xilo e o graffiti transformaram-se em símbolos culturais que atraem artistas e públicos engajados na sua perpetuação. Apesar de aparentemente distantes por seus contextos de origem, ambos fazem parte de culturas que se conectam: de um lado a goiva sulca a madeira da matriz xilográfica, do outro lado o estilete corta a máscara de stencil; enquanto nas feiras populares surgem as bancas de cordel, nas feiras de gráficas independentes surgem as banquinhas de zines; se na praça da matriz acontece o duelo de repentistas, na quebrada rola a batalha de slam”.
O público terá a oportunidade de se deparar com uma rica produção artística e ativar, tendo acesso a obras de xilogravuras do acervo Sesc, um varal com coleção de cordéis e cartazes de lambe-lambe com suas matrizes, entre outras, em uma exposição em movimento e construção, onde diversos trabalhos serão incorporados ao espaço expositivo de maneira individual ou coletiva até o término da visitação da exposição, no final de julho.
Na mostra, o recorte curatorial buscou contemplar uma diversidade no que diz respeito à territorialidade, técnicas, dimensões e processos. Pensando nessa diversidade, a curadoria também contemplou artistas e coletivos de mulheres em uma seara com tradição de criação predominantemente masculina.
Além de J. Borges (Bezerros-PE); Lira Nordestina (Juazeiro do Norte-CE); Samuel Casal (Caxias do Sul-RS); Atelier Piratininga (São Paulo-SP); Turenko (Manaus-AM); Paulestinos (São Paulo-SP); Oficina Tipográfica (São Paulo-SP); Romildo Rocha (São Luís-MA) e Derlon (Recife-PE), estão presentes na mostra Xicra convida soupixo, Andréa Sobreiro e Carol Piene (CE); 23ª edição do Projeto Armazém – Mulher Artista Resiste (Florianópolis-SC) e Lau Guimarães (São Paulo-SP). As obras de tais artistas estarão agrupadas por núcleos temáticos.
– Cordel Raiz: com trabalhos de J. Borges e Lira Nordestina, é apresentada essa forma de fanzine independente, que articula humor e crítica social impresso em oficinas xilo-tipográficas. Obras de J. Borges, pertencentes ao acervo do Sesc, são registros de uma cultura popular de aspecto documental inserida em determinado contexto histórico. Seu trabalho é trans-histórico e cumpre, nesse sentido, a função social da obra de arte. Uma coleção de cordéis produzidos pela gráfica histórica Lira Nordestina está exposta em varais.
– Cordel Contemporâneo: com obras de Xicra, Bestas Marginais e soupixo, o Cariri – região que aproxima os estados do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Piauí – se faz presente com o cordelismo atualizando o conceito original do zine de guerrilha, impresso em xilo ou xerox, dobrado e panfletado. Para a exposição, há uma colagem coletiva de cartazes e lambe-lambes, reunindo a produção de artistas que vivem na cidade do Crato, na região do Cariri. No painel, a reverência ao cordel raiz se faz presente, mas há também uma intenção em abordar temas atuais numa espécie de reivindicação de outras posturas visuais do mundo contemporâneo
– Xilo Urbana: apresenta os artistas e coletivos Atelier Piratininga, Turenko e Samuel Casal. A cidade grande é o cenário e as gráficas independentes são os pontos de encontro dos novos artistas urbanos. O Piratininga traz uma colagem de lambe-lambes impressos a partir de doze matrizes em grande formato, que, juntas, formam a histórica obra do artista renascentista alemão Albrecht Dürer (1471-1528). As matrizes foram produzidas por 26 artistas, entre participantes novos e antigos. Já o artista Turenko apresenta um mural de piso em linóleo com palavras e imagens onde cultura urbana e amazônica se misturam. O trabalho é fruto de uma pesquisa iconográfica, valendo-se de referências da cultura popular, do imaginário pop e da gráfica indígena. Por fim, Samuel Casal entalha, no local da exposição, uma parede de madeira como uma matriz de xilogravura.
– Lambegrafia: estão 23ª edição do Projeto Armazém – Mulher Artista Resiste e os Paulestinos, trazendo o elemento cartaz como propaganda e arte: comunicando, explicando, criticando, informando, escrachando ou festejando. O lambe-lambe vem para desconstruir a tradição do cartaz, transformando seu conteúdo em manifestação e poesia. Paulestinos apresentam uma colagem em grande formato, composta por lambe-lambes poéticos e imagens que fundem referências do cangaço e dos mangás, unindo a construção de imagens digitais com a poesia visual contemporânea, enquanto a 23ª edição do Projeto Armazém – Mulher Artista Resiste apresenta um painel com cartazes produzidos em diversas técnicas e suportes que reúne trabalhos de 100 artistas participantes, a partir do convite da curadora Juliana Crispe.
– Tipograffiti: no espaço onde ficam o Coletivo Oficina Tipográfica e Lau Guimarães, a letra impressa é o ponto de partida da jornada para a socialização do conhecimento. A letra, a palavra e a poesia são as ferramentas que fazem a humanidade topar com seus próprios limites e conseguir ultrapassá-los. Por meio da colocação sequencial dos cartazes mais marcantes e simbólicos da sua produção tipográfica, outro painel em exibição é dedicado à história da Oficina Tipográfica São Paulo. No trabalho de Lau Guimarães, as palavras são matéria de criação da narrativa estética da artista, que se nutre de histórias dos transeuntes para compor suas obras, em sua maioria dispostas em lugares estratégicos de passagem no espaço público. Numa espécie de jogo tipográfico, em que as técnicas do estêncil se unem, seus trabalhos ganham nova abordagem quando expostos dentro do espaço institucional.
– Graffiti Xilográfico: aqui, Derlon e Rocha são responsáveis por guardar um olhar voltado para o passado e lembrar que a liberdade criativa atual foi conquistada por aqueles que abriram os caminhos. O graffiti admira a cultura da xilo, que sintetiza em preto no branco a estética direta da contracultura, amplificando vozes. O mural de Derlon é pintado diretamente sobre uma parede e estabelece uma nova dimensão gráfica para o ambiente da sala expositiva. A escala urbana com que o artista lida propicia a interação com grandes espaços internos, criando novas situações arquitetônicas por meio da transformação da parede em paisagem. A obra de Rocha é um grande mural que surge do alto da empena cega do edifício do Sesc Consolação, propondo um diálogo entre a cultura pop urbana e a cultura popular do Nordeste.
Além da exposição, serão oferecidos cursos, oficinas e encontros com os artistas ao longo do período em que a mostra estiver em cartaz. Acompanhe a programação aqui.
A exposição, que se dá no Sesc Consolação – localizado na Vila Buarque – promoverá, também, uma grande intervenção na empena de seu prédio. A unidade, inserida em um contexto territorial urbano onde é bastante comum a presença de manifestações artísticas como as apresentadas na mostra (graffitis, lambe-lambes, cartazes etc.), ganhará uma pintura com dimensão monumental de Romildo Rocha, a ser realizada de 17 de abril a 3 de maio.
Durante a montagem, o artista Samuel Casal entalhou essa matriz, que está exposta como obra da instalação.
De 5 de maio a 31 de julho
Terça a sábado, das 10h às 21h
Domingos e feriados, das 10h às 18h
Agendamento de grupos: agendamento.consolacao@sescsp.org.br
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