Pauê não desistiu de praticar esportes mesmo depois do acidente
Foto: Marcelo Maragni
Paulo Eduardo sempre praticou esportes, desde criança. Até depois de se recuperar de um acidente, em sua cidade natal, ele não parou. E olha que o desafio foi grande: ele perdeu parte de suas pernas. Pauê hoje é o primeiro surfista biamputado registrado no mundo e conquistou diversos títulos no triatlo também.
No dia 29/09, durante a Semana Move, Pauê esteve no Sesc Consolação junto com o surfista e treinador Thiago Ferrão para uma vivência na piscina da unidade.
A EOnline aproveitou sua presença na unidade para conversar sobre o que o esporte e a atividade física representam pra ele.
EOnline – Como foi se tornar atleta após o acidente, já que você praticava esportes com frequência desde criança?
Pauê – Foi realizar um sonho que tinha desde menino. Eu tinha o surf mais do que um esporte. Era uma referência de mundo, amigos, estilo, jeito de vestir, relacionar, enfim… Cheguei a competir, ainda antes do acidente, mas o meu desenvolvimento com o surf rolou de outra forma, não em competições; e sim através dos ensinamentos que o surf trouxe pra minha vida. Digo isso, pois logo que tudo aconteceu, eu desesperei! O acidente havia sido muito trágico e eu corria risco de vida. O ânimo, vigor e a vontade vieram entusiasmadas pela extra vontade de voltar para as ondas. Eu talvez pensasse de uma forma metafórica, como do tipo: “se eu surfar, eu ando, corro, me divirto; volto a sentir a plenitude da vida…”, foi o desafio que guiei em 2000 na minha vida. VOLTAR A SURFAR! eu consegui e tive uma informação extra oficial, de que eu era o primeiro caso de surfista bi-amputado no mundo. Esse holofote internacional me aproximou de muitos globos. Fui convidado para Festivais pelo mundo, pra surfar em praias nos EUA, México e até Portugal. Mas foi outra modalidade, que me colocou numa atmosfera competitiva, o Triathlon (natação, ciclismo, corrida). E, ele chegou na minha vida em fases. Inicialmente comecei a nadar pra ficar “safo num caldo”, ou seja, quando caísse da onda, eu conseguiria nadar caso a cordinha (leash) que fica amarrado ao corpo arrebenta-se. Eu mal imaginava que fosse conhecer o esporte que me sagrou o primeiro atleta bi-amputado do Brasil a conquistar um título mundial de Triathlon além de muitos outros.
EO – O que é o esporte hoje na sua vida?
P – O esporte representa o meu estilo de ser. Atualmente o meu esporte é estar preparado para qualquer atividade física, e pra isso faço minha preparação com treinamento funcional, 3 x na semana, um dia sim, um dia não, eu faço exercícios resistidos com intensidade moderada e até forte. O intuito é deixar o corpo apto para eventualmente nadar, pedalar e correr, e também surfar ou praticar qualquer outra atividade que me dê vontade. O surfski (modalidade que utiliza caiaque para fins oceânicos) foi a que me trouxe a minha maior realização de aventuras no esporte, a Expedição Superágua, que foi a vinda de Paraty a Santos (400 km) , remando em 10 dias. Tenho o esporte como um canal de aprendizados onde propago através das minhas palestras, as habilidades conquistadas através da promoção de auto estima, disciplina, foco, obstinação, trabalho em equipe, superação, etc.
É PRECISO SABER O QUE VOCÊ QUER MUDAR, TER CLAREZA DAQUILO QUE VOCÊ ESTÁ SE ESFORÇANDO E ATÉ MESMO SE SACRIFICAR PARA ATINGIR O OBJETIVO, QUANDO NECESSÁRIO. TUDO VALE!!!
EO – Em seu filme, você fala que aprendeu que a gente caminha e não precisa ser com as pernas. Como as pessoas podem encontrar seu jeito de caminhar para uma vida mais saudável?
P – As pessoas precisam inicialmente querer mudar. Nada muda na sua vida se você não muda com a sua vida. Eu acredito muito na substituição de hábitos, já que nosso cérebro é totalmente programável, e isso nos dá a oportunidade de não falharmos com os nossos objetivos, como por exemplo: “começar uma atividade física, adotar um estilo de vida saudável ou melhorar a alimentação”. Todos se complementam para uma vida mais saudável. É necessário identificar quais são os erros que você comete: dá desculpas para não fazer 30 – 40 min (3 vezes na semana) de atividade numa academia ou uma caminhada mais firme; ou acordar cedo, produzir mais, se alimentar bem, dormir bem. É preciso saber o que você quer mudar, TER CLAREZA daquilo que você está se esforçando e até mesmo se sacrificar para atingir o objetivo, quando necessário. Tudo vale!!! A recompensa é seu mental fortalecido, é você entender que você tem o controle da sua vida, por isso, você se você quer, você pode, basta se organizar e se esforçar! Todos nós podemos! Esse é o jeito “a gente caminha e não precisa ser com as pernas”, pois caminha-se bem quando você entende o caminho.
“‘a gente caminha e não precisa ser com as pernas’, pois caminha-se bem quando você entende o caminho”
(Foto: Marcelo Maragni)
EO – Por que você acha que as pessoas não conseguem se manter firmes em uma rotina de exercícios físicos, mesmo hoje tendo tantas opções de atividades e locais para praticar esportes?
P – Eu tive motivos para estar envolvido e me permanecer até hoje envolvido, por isso, você me questionando a respeito, a única coisa que me vêm em mente é que as pessoas precisam ter motivos para praticar uma atividade física. Esse motivo pode ser querer ter um corpo mais saudável, atlético, sentir o relaxamento promovido pós atividade, a sensação de respiração mais leve ou o coração mais potente. Podem ter muitos motivos! Trabalhar relacionado ao esporte te aproxima e consequentemente torna-se um motivo. Pra quem não consegue ter essa facilidade de identificar uma atividade, eu recomendo buscar locais que tenham pessoas praticando esporte ou alguma atividade física. Vá num parque e se aproxime, observe as pessoas correndo, patinando ou se exercitando. Praticar um esporte representa ter uma cabeça organizada de uma forma leve e descontraída, pois o esporte traz um belos ensinamentos e analogias pra vida.
EO – O que pode manter a motivação para uma vida ativa mesmo quando a rotina começa a ser preenchida por diversos compromissos, como o trabalho e os estudos?
P – Difícil essa questão, pois não existe, no meu ponto de vista, uma resposta que responda a todos. Cada um daria uma desculpa e quem somos nós (eu, você que lê ou qualquer outro que opine) na vida de alguém. Posso responder por mim. No meu caso, eu penso na longevidade, eu projeto planos e busco qualidade de vida. Eu quero ter 70 anos e correr eventualmente na praia ou poder ir remar com meu caiaque. Acho que isso pode ser possível se eu me preocupar em cuidar da minha saúde desde já. Pra isso, é necessário que eu me atente à detalhes, como comer bem, dormir bem, treinar e deixar o corpo recuperar. Não exagerar nos exercícios, pois eles lesam e oxidam o organismo. Tudo deve ter equilíbrio. Essa é a base para ter uma vida onde eu consigo viajar, dar minhas palestras no Brasil e pelo mundo, e sempre que possível, planejar para ficar num hotel que tem academia, e seja próximo à um local que tenha um parque para uma atividade. Enfim, é importante se cercar de oportunidades favoráveis.
“Eu quero ter 70 anos e correr eventualmente na praia ou poder ir remar com meu caiaque”
(Foto: Marcelo Maragni)
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