O Fantástico Mundo dos Fungos

27/05/2022

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#PraCegoVer #ParaTodosVerem Imagem colorida e horizontal. Cinco fungos alaranjados de variados tamanhos brotados de uma madeira envelhecida marrom e verde | Foto: Gustavo Xavier

*Por Aline Rossetto

Cada ser vivo que habita o planeta faz parte da trama complexa que tece nossa existência. Muitos, silenciosamente, desempenham funções essenciais para a manutenção de toda a vida visível e invisível aos nossos olhos. Um universo à parte é o reino dos fungos. Estes seres tão diversos em formas, cores e tamanhos, atuam principalmente na decomposição da matéria e ciclagem (transferência de substâncias entre o solo e as plantas) de nutrientes na natureza.  

Alguns fungos fazem parcerias benéficas com as raízes de 90% das plantas terrestres. Esses seres, conhecidos como micorrizas, agem como uma extensão das raízes dos vegetais captando água e nutrientes e, em troca, recebem alimento que a planta produz e compartilha. Outra vantagem dessa associação é a imensa rede de conexão subterrânea que se forma através dos corpos dos fungos, conhecida como “internet da floresta”. Por essa rede, é possível comunicar às plantas ameaças de pragas e doenças, assim como atacar a presença de seres indesejados. Essas e outras curiosidades foram reveladas no documentário norte americano “Fungos fantásticos”, lançado em 2019 e disponível em plataformas como Netflix e Amazon, dirigido por Louie Schwartzberg. No filme, descobertas fascinantes sobre o potencial medicinal e de regeneração ambiental dos fungos são abordadas por importantes micologistas, como Suzanne Simard e Paul Stamets.   

Outra maravilha deste reino tão instigante é o potencial alimentício. Alguns fungos possuem estruturas chamadas frutificações, muitas delas comestíveis, comumente conhecidas como cogumelos. Muito apreciado na culinária tradicional japonesa, várias espécies como shimeji, shiitake, eryngii, também são consumidas no Brasil e têm sua riqueza nutricional reconhecida para além do sabor. Além desses, também temos o cogumelo do sol, portobelo, cogumelo-de-paris, portini, trufas, estas últimas com alto valor de mercado. São excelentes fontes de proteínas, vitaminas, minerais e muitos possuem ainda propriedades antioxidantes e antiinflamatórias que auxiliam a manter um bom funcionamento do corpo e do sistema imunológico.  

Cogumelo do gênero Oudemansiella sp., espécie comestível nativa da Mata Atlântica encontrada na Reserva Natural Sesc Bertioga, sendo consumida por um aracnídeo (opilião). Foto: Jorge Ferreira

#PraCegoVer #ParaTodosVerem Imagem horizontal e colorida, destaca-se um opilião, um aracnídeo, marrom e preto comendo um cogumelo branco com a parte de cima marrom. Eles estão sobre um tronco de madeira e o fundo é verde desfocado.

A comestibilidade de cogumelos nativos do Brasil ainda é pouco difundida em nossa cultura alimentar. No entanto, desde tempos imemoriais, os cogumelos nativos da Amazônia são consumidos por alguns grupos de indígenas Yanomami como parte de sua dieta que inclui hábitos coletores. Os Sanöma habitam a região de Awaris, Terra Indígena Yanomami situada nas florestas de montanhas do extremo noroeste de Roraima e possuem um amplo conhecimento sobre a biodiversidade de seu território. Foram os primeiros cogumelos nativos da região Amazônica a serem colocados no mercado brasileiro, sendo os recursos gerados pela venda revertidos para as comunidades produtoras. O livro “Ana Amopö: Cogumelos Yanomami”, publicado em 2016, conta um pouco mais dessa história e pode visualizado abaixo e baixado clicando no link.

 
A importância dos fungos vem sendo tão discutida, que alguns cientistas já propõem a inclusão do termo “Funga” nos sistemas educacionais, de políticas públicas e manejo sustentável dos ecossistemas, como o terceiro “F” a compor os termos já estabelecidos Flora e Fauna, para plantas e animais. Assim, temos Fauna, Flora e Funga de forma a contemplar todos os seres macroscópicos da natureza a serem considerados ao tratar de biodiversidade. Para os que possuem comestibilidade conhecida, o termo FANC (Fungos Alimentícios Não Convencionais) também vem sendo difundido, assim como as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) vêm ganhando cada vez mais espaço na culinária brasileira.  

Visita de Jorge Ferreira à Reserva Natural Sesc Bertioga para a vivência Cogumelos da Mata Atlântica. Vídeo: Mayumi Kitamura.  

#PraCegoVer #ParaTodosVerem vídeo horizontal e colorido, no qual um homem branco de cabelos curtos, máscara azul no rosto, mochila azul nas costas e uma câmera fotográfica a tira colo, fala para a câmera. Ao fundo a mata fechada. Em um movimento de cima para baixo, três homens caminha sobre a trilha de madeira suspensa. Através da tela de proteção da estrutura da trilha, uma faixa de mato para qual o homem aponta. Novamente o homem fala para a câmera. Um cogumelo marrom no meio da vegetação da floresta e, ao lado direito, o logo da Reserva Natural Sesc Bertioga. O homem volta a falar para a câmera. Agora agachado na mato, ele mostra um tronco repleto de cogumelos laranjas. Ele novamente se dirige à câmera e, na sequencia, ele aparece de costas, caminhando pela mata. Fundo preto, logo do Sesc.

Em fevereiro, o Sesc Bertioga recebeu a visita de Jorge Ferreira, um conhecedor da biodiversidade da Mata Atlântica, que compartilhou conosco seus conhecimentos sobre este universo. Além de iniciar um mapeamento de fungos na Reserva Natural do Sesc Bertioga, que nos revelou até o momento mais de vinte espécies, tivemos a vivência “Cogumelos da Mata Atlântica” na nossa programação de domingo do “Tarde na Reserva”.

Durante a noite, Jorge conduziu a equipe do setor de Educação para a Sustentabilidade à uma expedição de observação de fungos bioluminescentes, ou seja, que brilham no escuro! Uma experiência inesquecível, que ficou marcada em todos que participaram.  

“Minhas andanças pela Reserva nunca mais foram as mesmas depois que comecei a observar os cogumelos”.

Fernanda Lucena, orientadora de público no Sesc, ao relatar a experiência de se deparar com os fungos brilhantes encontrados em folhas de palmeira juçara na Reserva Natural Sesc Bertioga. 

Fungos bioluminescentes em folha de palmeira juçara (Euterpe edulis). Foto: Jorge Ferreira

#PraCegoVer #ParaTodosVerem Imagem noturna, horizontal e colorida na qual destaca-se uma planta coberta de fungos bioluminescentes, causando um efeito verde brilhante entre outras plantas escuras.

Em setembro, receberemos a visita de Larissa Trierveiler, bióloga e doutora em identificação de cogumelos para mais uma aventura pelo reino dos fungos na Trilha do Sentir, localizada na Reserva Natural Sesc Bertioga. Em breve divulgaremos em nossa programação, fique de olho para saber como participar em nossas redes sociais! 🙂 

*Aline Rossetto é licenciada em Ciências Biológicas, graduanda em Botânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Agente de Educação Ambiental do Sesc Bertioga. 

Referências Bibliográficas Instituto Socioambientl (ISA), 2016. Ana Amopö: Cogumelos Yanomami. Disponível em: https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/publications/YAL00024.pdf. Acesso em: maio/2022. Kuhar et al, 2018. Delimitation of Funga as a valid term for the diversity of fungal communities: the Fauna, Flora & Funga proposal (FF&F). Disponível em: https://noticias.paginas.ufsc.br/files/2019/01/7_MycoLens-1.pdf. Acesso em: maio/2022. Netflix, 2019. Documentário: Fungos Fantásticos. Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/81183477. Acesso em maio/2022.

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