Quando se pensa em xilogravura, é comum imaginar alguém sentado comodamente, entalhando com facas e canivetes, em pranchas de madeira que, após entintadas, são impressas sobre papel, para depois se converter em ilustrações de livros ou ser expostas na parede, uma vez emolduradas.
Esse processo, que hoje é tido como artesanal, em seu tempo foi considerado uma revolução tecnológica quando associado à invenção da imprensa tipográfica. A xilogravura, no entanto, é uma técnica milenar cujos primeiros registros datam de aproximadamente 2 mil anos atrás e são provenientes da Índia e de diversas regiões da Ásia.
Na época, era empregada a técnica da aplicação de carimbos, ou “block print”, na estampagem de tecidos ou na reprodução de textos chineses, com a utilização de “tipos” (ou letras) de madeira.
Como eram materiais perecíveis, é provável que sua origem seja ainda mais remota. Os historiadores divergem ao determinar sua antiguidade, já que a estampagem em tecido tem relação com a história da moda, enquanto a história da xilogravura ocidental costuma se restringir a impressões sobre papel dentro do circuito artístico e não leva em conta as imagens impressas para outros fins.
Se cruzarmos as diferentes histórias das técnicas de impressão, poderemos considerar que o formato da xilogravura é imprevisível, assim como o gesto e os corpos que atuam nessa linguagem.
“Uma “xilo” pode ser um simples carimbo, uma técnica que torna possível repetir palavras ou imagens e expandir-se pelo mundo, diluindo inclusive sua autoria.”
Neste sentido, Ocupação Xilográfica é uma exposição que se multiplica em diversos espaços do Sesc Birigui e procura realçar a vitalidade de processos contemporâneos dentro da xilogravura e a intensa pesquisa desenvolvida por 11 artistas.
As investigações consideram elementos como a cor, seja com a diversidade de abordagens do desenho e a espacialidade do trabalho. As obras expostas apresentam vários formatos e escalas de trabalho, desde o livro de artista até interferências no edifício, além de experiências baseadas na matriz xilográfica: a madeira, que, como linguagem e resistência material, influencia a criação das imagens.
Os artistas que participam da mostra compartilharam ateliês e usufruíram diferentes aprendizagens práticas e teóricas que influenciam seus modos de produzir. Para seguir explorando a geração de imagens a partir da vivência coletiva, a exposição conta com um ateliê e uma programação de oficinas em que o público poderá experimentar técnicas variadas, assim como ver a exibição temporária de suas produções. A proposta é que esta seja uma mostra muito ocupada, visitada e vivenciada, para ampliar nossa maneira de imaginar a imagem gravada.
Célia Barros
Curadora da Exposição Ocupação Xilográfica
Célia Barros é artista visual, educadora e a curadora da exposição Ocupação Xilográfica. Mestre em Produções artísticas e investigação pela Facultat de Belles Arts da Universitat de Barcelona, desenvolve projetos de exposições no quais articula ações de curadoria, expografia e mediação em arte contemporânea.
Cocriadora da aceleradora de projetos culturais Arte Movimenta SJC e do projeto Pausa Onírica, ambos criados em 2020 no contexto da pandemia provocada pelo vírus Covid-19. Já atuou como curadora de outras 3 exposições no interior paulista e também como professora nos cursos de Artes Visuais e Artes e Mídias Digitais na Faculdade de Educação e Arte da Universidade do Vale do Paraíba entre 2021 e 2018.
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