Fortaleza de Sagres – Algarve – 2016 | Cristiano Mascaro
O conceito de percepção, na origem da palavra, é muitas vezes definido como processos fisiológicos para selecionar, organizar e interpretar os estímulos oferecidos pelo ambiente por meio dos cincos sentidos. No caso da fotografia, a percepção se torna essencial para realçar aspectos e singularidades daquilo que está à disposição dos olhos de todos, mas que só um olhar refinado percebe.
A imobilidade da fotografia, somada ao contexto caótico e pulsante das grandes cidades, cria a contraposição que exalta a sensibilidade de quem espia o cotidiano. Desvendar a paisagem urbana e revelar personagens a partir do corriqueiro é uma das habilidades que preenchem a percepção de Cristiano Mascaro, fotografo paulista que celebra 50 anos de carreira neste ano. Parte de sua produção estará na exposição O Que os Olhos Alcançam, aberta ao público no Sesc Santo André entre 21 de agosto e 17 de novembro – que antes esteve no Sesc Pinheiros..
A exposição revela fotografias e documentos variados que apontam os diversos caminhos percorridos por Mascaro em suas andanças por diferentes lugares do mundo. A mostra se organiza em diferentes núcleos, que criam uma espacialização sem ordem cronológica e, quando articulados, dão a exata dimensão de sua obra.
As configurações estéticas das fotografias de Cristiano Mascaro são resultado de sua busca para dar visibilidade aos pequenos atos ordinários de luz e movimento, sejam eles dos passeantes e suas relações com a cidade, ou em edificações e a arquitetura nos espaços públicos. Há em suas imagens certa trama conceitual que nem sempre é perceptível, levando o observador a estabelecer relações com as forças históricas, políticas e culturais do local registrado por suas lentes.
O olhar de Mascaro se apropria dos ensinamentos que teve durante a graduação, mestrado e doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), da experiência no fotojornalismo e, principalmente, de uma necessidade de transitar mundo afora.
Mascaro teve como referências no início de sua carreira os trabalhos dos fotógrafos Henri Cartier-Bresson, Robert Frank, a coleção da revista Life, o poeta André Breton, entre outros. Com Breton, compartilha a proposição “a rua é o único campo legítimo de experiência”, relativizando a afirmação, nota-se que o artista procura no seu caminhar por ruas, becos e praças o momento exato de fotografar algo inusitado.
Cristiano carrega uma sensação nostálgica quando se refere às ruas de São Paulo, citando a Avenida São João com carinho, lembrando sua juventude quando passeava pelo centro. “São Paulo é uma referência porque vivo aqui. Ela não te deixa sossegado, para o bem ou para o mal. É uma cidade que te coloca sempre questões. É desafiadora e encantadora. Por ela ter características tão opostas, ela se torna muito interessante”, destaca.
O processo curatorial da exposição, pelas mãos do pesquisador e curador Rubens Fernandes Junior, coloca as principais linhas de ação do percurso técnico e estético do artista visual. “Ao selecionar as fotografias dentro de um repertório eclético e versátil, trabalhamos com a possibilidade de elencar algumas potências que sua trajetória permite vislumbrar a questão técnica (analógico e digital); diferentes câmeras e formatos (negativos 35 mm, 6X6, 6X9, matriz digital); a história do Brasil, as questões políticas, a arquitetura e os principais arquitetos do Brasil e do exterior; múltiplas narrativas e a influência da literatura em seu trabalho; a história da fotografia, de São Paulo e de outras cidades por meio da arquitetura”, explica o curador.
Além das fotografias, a exposição conta com vitrines em que são exibidos documentos originais (em sua maioria), que trazem evidências das relações afetivas e profissionais que Cristiano Mascaro vem mantendo ao longo de toda sua jornada. Cartas e bilhetes (como de Antonio Candido, Paulo Mendes da Rocha, Thomaz Farkas, Richard Serra, Lew Parrella, entre outros), além de catálogos, livros, capas de revistas, cartazes, convites de exposições, anotações, cópias vintage e retratos com amigos.
“Fiquei entusiasmado com a possibilidade de viver fotografando o mundo de forma leve, descontraída e sincera”, ressalta Mascaro. E assim, foi revelando passo a passo esse processo que captura a crônica do cotidiano, a combinação das geometrias, o refinamento da cópia em preto e branco e sua permanente inquietação – do homem e do espaço urbano.
>> Saiba detalhes da exposição aqui.
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