Em sua quinta edição, o festival acontece de 18 de outubro a 5 de novembro, e reúne artistas brasileiros e de países como Benin, Cuba, Mali, Moçambique e Estados Unidos
A essência do jazz está na criação coletiva e na liberdade de seus intérpretes. Essas características podem ser comprovadas na quinta edição do Sesc Jazz, que acontece entre os dias 18 de outubro e 5 de novembro, no Sesc Pompeia e na mais nova unidade na capital, o Sesc 14 Bis.
Esta diversidade sonora estará nas 22 atrações, sendo 12 internacionais, oito nacionais e duas com grupos híbridos, totalizando 35 shows. A programação traz uma forte marca feminina, dado que mais da metade dos shows têm esse protagonismo ou contam com mulheres em suas formações. O festival apresenta também uma programação integrada com bate-papos, vivência, aulas-show e audições comentadas, que acontecem no Centro de Pesquisa e Formação, e nos Centros de Música das unidades do Sesc Vila Mariana e Consolação, além do Sesc 14 Bis.
O Sesc Jazz, que vem se consolidando ano após ano a partir do entendimento do jazz como um dos inúmeros gêneros resultantes da diáspora africana, amplia sua curadoria para tradições e práticas musicais de outros centros, originárias da mesma matriz territorial ou que comungam da mesma tecnologia do fazer musical coletivo. Assim, reúne atrações de diversos países como: África do Sul, Benin, Brasil, Cuba, Estados Unidos, França, Inglaterra, Mali, Mauritânia, Moçambique e Uruguai.
O festival apresenta o jazz não apenas como um gênero, mas como uma das inúmeras tecnologias desenvolvidas a partir da diáspora africana. Os artistas selecionados para participar desta edição mostram alguns dos rumos que as culturas africanas tomaram ao chegarem nas Américas, assim como o seu desenvolvimento em outras partes do planeta, seus encontros com diferentes culturas, bem como de que forma essas tradições se desenvolveram nos territórios africanos.
A pluralidade sonora fica evidente na programação, conectando continentes, musicalidade e talentos como Makaya McCraven (EUA), o renomado baterista, produtor e pioneiro das colagens sonoras que abre o Sesc Jazz deste ano. Atualmente considerado um dos artistas mais requisitados de Chicago, McCraven é reconhecido por sua abordagem inventiva e estilo cinematográfico intuitivo, desafiando categorizações convencionais. Um dos nomes do continente africano é Thandi Ntuli (África do Sul), nascida em Pretória, a artista recebeu elogios da crítica, bem como prêmios e reconhecimentos desde seu primeiro lançamento, em 2014. Suas colaborações mais notáveis incluem Thandiswa Mazwai, Neo Muyanga, Steve Dyer, QB Smith, Marcus Wyatt, entre outros.
Do Caribe, mais um nome de destaque da escola jazzística cubana, o festival recebe o pianista Alfredo Rodriguez (Cuba), indicado ao Grammy. O músico bebe da fonte de instrumentistas consagrados como Keith Jarrett, Thelonious Monk e Art Tatum. Formado em Havana, sua música é marcada pela improvisação em um estilo que mescla referências de Bach e Stravinsky com as raízes cubanas e de jazz. Em 2006, no Festival de Jazz de Montreux, chamou a atenção de Quincy Jones e, desde então, circula por palcos como Jazz in Marciac e Umbria Jazz.
Da América do Norte, Angel Bat Dawid (EUA) é uma das potências femininas presentes no evento. Compositora, clarinetista, cantora, educadora e DJ, ela emergiu recentemente na cena de jazz de Chicago e traz no currículo colaborações com artistas como Ben Lamar Gay, Jaimie Branch, Matthew Lux e Damon Locks. Seu álbum de 2019, ‘The Oracle’, é resultado de um processo individual e com poucos recursos, visto que foi inteiramente registrado em seu celular e ela mesma gravou todos os instrumentos e vozes.
Um dos projetos apresentados no Sesc Jazz 2023 é o do grupo Irmandade Ensemble (Brasil/França). A partir da parceria entre o Sesc SP e o festival Jazz à Vienne, as musicistas brasileiras Ana Karina Sebastião (baixo) e Sintia Piccin (sax) encontram as francesas Raphaële Atlan (piano e voz) e Ananda Brandão (bateria). O show, resultado de uma residência artística realizada no Sesc Vila Mariana, no início do ano, teve sua estreia no festival francês. O Irmandade Ensemble representa uma fusão entre a França e o Brasil e pretende criar uma experiência musical que cruza culturas.
Outro destaque do continente africano é a Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou. Fundado no final dos anos 1960 pelo saxofonista Mélomé Clément (1945-2012), o grupo apresenta sua mistura de soul, jazz, afrobeat e highlife com as bases rítmicas do vodun – religião tradicional do país. A Orchestre gravou mais de 500 composições até o início dos anos 1980, mas se separou em 1982 após as mortes do guitarrista Papillon e do baterista Yehouessi Léopold. O grupo voltou a se reunir em 2011 e permanece em atividade até os dias atuais.
Sona Jobarteh (Gâmbia) é a primeira mestra de kora feminina em uma linhagem de mais de 100 gerações de homens que mantêm as tradições dos griots da África Ocidental. Desde seu primeiro lançamento, Fasiya (2011), ela se apresentou em mais de 50 países. A artista realiza show com músicas de seu mais recente álbum, Badinyaa Kumoo, bem como canções do trabalho de estreia. A apresentação também conta com a participação de seu filho de 16 anos, o mestre griot e balafonista Sidiki Jobarteh-Codjoe.
Somando ao time de mulheres do festival, a cantora e compositora espanhola da Catalunha Sílvia Pérez Cruz cresceu imersa em canções ibéricas e latino-americanas. Em 2020, lançou o álbum “Farsa (género imposible)”, refletindo sobre a dualidade entre o que se mostra e a realidade. Para o show, Sílvia preparou um repertório exclusivo que abrange toda a sua trajetória, incluindo músicas como “Vete de Mi”, “Cucurrucucu Paloma” e “La Luna”.
O Black Monument Ensemble surgiu como um projeto solo de Damon Locks focado em colagens sonoras. Com o tempo, outros músicos, cantores e dançarinos entraram para o grupo, o que colaborou para trazer diversas facetas artísticas de Chicago. O coletivo já conta com dois álbuns lançados, ‘Where the Future Unfolds’ e ‘Now’, e um single: ‘Stay Beautiful’. Os integrantes da banda representam a potência artística negra de Chicago. Pela primeira vez no país, o grupo apresenta no repertório uma seleção de músicas dos quatro anos de atividade.
Atração sul-americana, o uruguaio Rubén Rada é reconhecido como o criador do candombe beat, popularizado na América Latina nos anos 1960. Em sua apresentação, o cantor e compositor repassa mais de meio século de carreira e celebra seu 80º aniversário. Sua discografia conta com quase 50 álbuns, tendo sido agraciado com o “Grau Honorário de Mestre em Música Latina” pela Berklee School of Music (EUA) e com o prêmio de “Excelência Musical” do Grammy Latino em 2011.
Noura Mint Seymali nasceu em uma família moura ligada à tradição de griots da Mauritânia e traz na sua música o legado dos cantores, poetas e músicos de louvor da África Ocidental. Como representante da cena musical mauritana, Noura apresenta trabalho que posiciona os sons influenciados pelo Saara, Magrebe e África Ocidental no mapa da música pop global. Mais um passo em seu projeto de levar essa tradição musical para o mundo, mantendo a oralidade e o conhecimento dos griots.
Já o moçambicano Stewart Sukuma é um dos artistas com maior projeção internacional em seu país e representante de sua cultura. Profissional comprometido com a divulgação da música moçambicana no mundo, já saiu em turnês pela África, Europa, Ásia, Estados Unidos e América Latina. O artista, produtor musical, compositor, letrista e ativista social, é também apresentador de programas de televisão ligados ao turismo e cultura de Moçambique. No Sesc Jazz, Sukuma apresenta um repertório compilado de seus 40 anos de carreira.
Outro destaque do festival é Oumou Sangaré, cantora, compositora e ativista do Mali, conhecida pela defesa dos direitos das mulheres na África. Sua trajetória se baseia no wassalou music, expressão das tradições rurais do sudoeste maliano que ela apresenta em seu show. Desde seu primeiro álbum “Moussolou” em 1990, Oumou já conquistou uma indicação ao Grammy em 2009 com “Seya”, e em 2011 venceu na categoria “Melhor Colaboração Pop com Vocais” com Herbie Hancock.
A música brasileira também tem destaque durante o Sesc Jazz, com shows como o de Vanessa Moreno com participação de Fabiana Cozza. As artistas fazem uma homenagem à música baiana e a compositores que moldaram essa tradição: Roberto Mendes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Josyara, Rosa Passos, Dorival Caymmi, Roque Ferreira, entre outros talentos.
Já a Spokfrevo Orquestra está de volta após oito anos sem se apresentar em São Paulo. O grupo instrumental pernambucano, comandado pelo Maestro Spok, apresenta em seu show músicas dos álbuns “Passo de Anjo” (2004), “Ninha de Vespa” (2013) e “Frevo Sanfonado” (2015), além de temas consagrados do frevo de rua pernambucano.
Egberto Gismonti apresentará no festival uma prévia do disco Egberto Gismonti Piano Solo com lançamento previsto para 2024. Depois de três anos longe dos palcos, Egberto tocará composições de 20 anos antes e 40 anos depois da Semana de Arte Moderna de 1922 como “Pelo Telefone”, de Donga, “Maracangalha”, de Caymmi, “Sinal Fechado”, de Paulinho da Viola, “Bate Outra Vez”, de Cartola, entre outras.
Amilton Godoy, por sua vez, sobe ao palco do festival comemorando 82 anos de vida em show que traz a participação de Proveta e Chico César. Durante sua carreira, Amilton integrou o Zimbo Trio por quase 50 anos, colaborou com o maestro Camargo Guarnieri e Tom Jobim, além de ter excursionado por mais de 40 países. Em sua apresentação, ele destaca faixas dos álbuns “80 anos”, “Tributo ao Zimbo Trio” e “Autoral”.
O show “Do Romance ao Galope Nordestinho – A Música de Antonio Madureira” homenageia o compositor e instrumentista Antonio Madureira, conhecido como Zoca, um dos principais nomes do Movimento Armorial. A apresentação parte dos 50 anos de lançamento do disco “Do Romance ao Galope Nordestino”, do Quinteto Armorial. Considerado um marco do movimento iniciado por Ariano Suassuna, o disco será reinterpretado por um grupo composto de diferentes gerações que atuam na música armorial. No palco, estarão artistas que, em algum momento da carreira, se dedicaram à obra do quinteto e de Antonio Madureira. A direção de cena do espetáculo é realizada pela coreógrafa Maria Paula Costa Rêgo e o figurino foi desenvolvido pelo artista plástico, e filho de Ariano Suassuna, Manuel Dantas Suassuna. Ambos eram responsáveis pela direção de movimento, cenografia e figurino das aulas-espetáculos do escritor, professor e pesquisador paraibano Ariano Suassuna.
Cesar Camargo Mariano se apresenta com o projeto que marca seus 80 anos de idade e 65 anos de carreira. Em uma formação inédita, o artista traz um repertório com diversos gêneros. O show conta com arranjos originais que exploram as variedades dos timbres de instrumentos eletrônicos e acústicos de nove músicos.
Ao celebrar 80 anos, o músico Chico Batera destaca momentos da carreira em show no Sesc Jazz. Ele traz no repertório canções que marcaram sua trajetória, incluindo homenagens a Wilson das Neves com “O Samba é Meu Dom” e “Grande Hotel”, interpretadas pela cantora Áurea Martins. Além disso, o cantor e compositor Chico Brown participa em “Massarandupió”, parceria dele com o avô, Chico Buarque, e “Dunas”, de Rosa Passos e Fernando de Oliveira. A apresentação ainda traz composições de Tom Jobim e Moacir Santos, bem como peças autorais, entre elas a valsa “Dalila”, uma homenagem à mãe de Chico Batera.
Já no encontro entre a cantora portuguesa Maria João e o pianista e compositor André Mehmari são apresentadas canções inéditas compostas por Mehmari especialmente para o duo. O repertório também conta com canções da parceria entre Guinga e Aldir Blanc, já apresentadas pela dupla em outros shows e se tornaram referências para o projeto que agora chega ao Sesc Jazz.
Completando o time de mulheres presentes no festival, Rosa Passos revisita várias das canções de Tom Jobim gravadas por João Gilberto nos anos 50 e 60, transformadas em definitivos clássicos da bossa nova. No repertório, destacam-se músicas como “Eu Sei que Vou Te Amar”, “Samba de Uma Nota Só”, “Você Vai Ver”, “Águas de Março”, “Dindi” e outras. A artista reinterpreta essas canções, jogando com acentos rítmicos e criando novas divisões.
Além dos espetáculos musicais, a programação do Sesc Jazz promove ações formativas presenciais gratuitas, tem como proposta ampliar referências, conhecimentos e pensamentos sobre a diversidade do jazz contemporâneo. Confira a programação integrada com bate-papos, vivência, aulas-show e audições comentadas que acontecem no Centro de Pesquisa e Formação, e nos Centros de Música do Sesc Consolação e do Vila Mariana.
Como nas edições anteriores, o Sesc Jazz conta com ilustrações exclusivas. Neste ano, o artista convidado é Pedro Pessanha. Pesquisador carioca, mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela UFF, seu trabalho busca compreender o que permite que os ritmos negros soterrados por diversas tentativas de apagamento continuem a ressoar. Em sua prática artística desenvolve trabalhos em diversos meios, entre eles quadros, intervenções urbanas e poemas-objeto, além de uma pesquisa contínua em quadrinhos investigando como as especificidades desse meio podem contribuir na construção de narrativas únicas.
Confira a programação em: sescp.org.br/sescjazz e nas redes sociais do @sescpompeia, @sesc14bis e @sescsp.
18 de outubro a 5 de novembro
Sesc Pompeia l Rua Clélia, 93 – Pompeia, São Paulo l (11) 3871-7700
Horário de funcionamento: terça a sábado: 10h às 22h. Domingos e feriados: 10h às 19h.
orário da bilheteria: terça a domingo: 14h às 19h
Sesc 14 Bis | R. Dr. Plínio Barreto, 285 – Bela Vista, São Paulo | (11) 3254-5600
Horário de funcionamento: terça a sábado, 10h às 21h. Domingos e feriados, 10h às 19h.
Horário da bilheteria: terça a domingo: 14h às 19h
Venda de ingressos
A venda de ingressos será realizada em ambiente on-line a partir de 11/10, quarta-feira, às 17h, pelo aplicativo Credencial Sesc SP e centralrelacionamento.sescsp.org.br e presencialmente nas bilheterias do Sesc SP a partir do dia 13/10, quinta-feira, às 17h. Limite de 4 (quatro) ingressos por pessoa.
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