O tempo, o que é?

16/05/2024

Compartilhe:

*Por Amanda Prado 

O tempo, o que é? Com essa, dentre tantas perguntas, foi iniciada a pesquisa que nos levou à elaboração da programação da edição de 2024 do Maré Delas. Quando pensamos em tempo, pensamos em linearidades e circularidades, possibilidades e sonhos de manejo do passado, presente e futuro, refletimos sobre quem somos e onde estamos nessa linha, círculo ou espiral, em quem veio antes e quem ficará depois de nós.  

Podemos pensar, então, ancestralidade. Em narrativas pessoais e coletivas, em quem conta nossas histórias, em permanências e impermanências. 

Geralmente o tempo de chronos é nossa “história única” sobre essas concepções. Mas, como bem disse Erica Malunguinho na abertura deste projeto tão especial, há também o tempo de Iroko. Não linear, circular, espiralado – e que nos remete às voltas em torno dos baobás – para esquecer ou para lembrar. 

Nesse contexto, Renata Cavalcante**, artista visual do cariri cearense, esteve conosco no mês de março em uma imersão com públicos diversos, com seu trabalho Álbum de família – práticas artísticas e fabulações. Crianças, idosos, grupos de mulheres e pessoas diversas interessadas na temática, puderam explorar suas histórias, ampliando sua compreensão sobre a relação entre fotografia, memória e arte. Por meio dessas ferramentas e de exercícios de fabulação, mergulhamos na criação de álbuns que transcendem e subvertem noções de tempo.   

O que vemos e o que não vemos nas fotografias? Se a memória é uma ilha de edição, quem produz este material bruto, essas imagens que atravessarão os anos e alcançarão as filhas e filhos do futuro, tão conectados a este presente, de agora, e ao passado? Como relembramos, nós, quem veio antes? 

Quando olhamos uma fotografia, ela também nos olha de volta. Algo nela nos chama, o que Barthes chamou de punctum, e estabelece-se ali uma nova história, conexão e abertura nas dobras do tempo. São ditas coisas, despertam-se sentimentos, incitam-se descobertas sobre quem achamos que conhecemos tão bem, ou de quem só sabemos a história por intermédio de alguém.  

“Olhar uma fotografia é abrir a caixa mágica das memórias. A imagem é reconhecida pelo nosso cérebro e desencadeia sensações, através da liberação de hormônios, que chamamos de emoções. Fotografar é fixar essas memórias através da luz e guardar pra um dia a gente revisitar. É como poder transportar o passado através do tempo, quase que para sempre”.

Deborah Gallo, fotógrafa, videomaker e bióloga***.

Mães, avós, bisavós, tias, irmãs – muitas vezes são elas, as mulheres, que se ocupam em, mais do que registrar, narrar histórias familiares ao longo de anos e gerações, construindo pequenos inventários de memórias e pedaços de humanidade compartilhada. Captar o tamanho da pequena mão do bebê, o abraço entre pai e filho, as festas de aniversário com portas abertas, dias de parque e quintal, tardes na praia, receitas e refeições em família – tentativas de dar contorno e guardar, em pequenas cápsulas, os momentos de alegria, ou os que “merecem ser lembrados”.  

A fotografia é cais da memória, disse Renata em um de nossos encontros. Muitos barcos aportaram por aqui durante o Maré Delas. 

#PraCegoVer #ParaTodosVerem sequência de imagens retangulares e coloridas de uma oficina oferecida dentro de salas com paredes brancas. Em cima das mesas, estão diversos utensílios de papelaria como colas, canetas, giz de cera, caneta, além de notebook e celulares. Vídeo: Debora Gallo.

*Amanda Prado é cientista social, pedagoga, mestra em Sociologia da Educação e especialista em Gestão Cultural. Supervisora da área socioeducativa do Sesc Bertioga.

**Renata Cavalcante é pesquisadora das artes e realizadora audiovisual, atuou em colaboração com diversos projetos de cinema e educação. Atualmente, se dedica à escrita de projetos culturais, produção cultural, docência e pesquisa. 

***Deborah Gallo é fotógrafa, videomaker e bióloga com atuação socioambiental em educação e processos participativos. Também retrata a vida em forma de natureza, arte e cultura. Foi responsável pela produção audiovisual do processo ocorrido durante as oficinas Álbum de família – práticas artísticas e fabulações.

Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.