#o.lhar é a versão online da instalação interativa o.lhar: adaptação à nova realidade pós-pandemia | Fotos: Acervo pessoal Raquel Kogan
Por Simões Neto*
Enquanto Raquel Kogan fala, seu olhar inquieto passeia pelo cenário, pelos sons e por tudo que acontece ao redor do jornalista que realiza um bate-papo à distância com ela. Atenta, ligeira e perspicaz, a obra #o.lhar, realizada pela a artista para a ocupação digital Ofício: Web: #o.lhar: pompeia, tem muito dessa investigação aflorada. A bem da verdade, ela provoca o outro a interagir, já que a instalação só existe se o visitante registrar o seu olhar na câmera dos dispositivos móveis (celulares ou tablets) ou fixos (computadores) para compor o mural artístico disponível no site anexa.sescsp.org.br/oficio.
Raquel Kogan é paulistana, artista multimídia e arquiteta. Em sua trajetória, as exposições nacionais e internacionais começaram em 1998, quando realizou a individual chamada 20x20x240, na Mônica Filgueiras Galeria, em São Paulo. E ela já mostrava a que vinha, ao apresentar uma obra robusta e consistente, composta por 240 peças de madeira de 20 x 20 cm, com as quais criou uma espécie de livro aberto composto por grafismos e números.
A partir de então, suas pinturas, gravuras e instalações correram o mundo em coletivas apresentadas de Belém do Pará ao Japão, do Rio de Janeiro à Salvador, da Alemanha à Rússia. Ao ser perguntada sobre como ela lida com a recepção do seu trabalho dentro e fora do País e se há influência do público na sua criação, a artista afirma que “é uma felicidade implementar as obras em diversos espaços. Mas o que influencia mesmo é fazer o trabalho existir, já que quase todos são interativos e dependem do público”, explica.
Premiada, Raquel foi contemplada de 2000 a 2012 a honrarias importantes como Arte Pará (2000); Reflexão, Transmídia, Itaú Cultural (2002); Reflexão, 5º prêmio Sergio Motta (2004/2009); Ponte, Prêmio Funarte de Arte Contemporânea Belo Horizonte (2010) e Entremeios e Rumos Cinema e Vídeo, Itaú Cultural (2012), só para citar alguns.
Mas foi em 2001, no edital Transmídia do Itaú Cultural e com a exposição, em 2003, da obra selecionada Reflexão, “meu primeiro trabalho em mídias digitais”, que começaram os diálogos entre arte e tecnologia da artista. Raquel avalia que as ferramentas digitais “têm democratizado e ampliado nossos sentidos. A tecnologia disponível sempre foi utilizada pelos artistas e, em algum momento, foi a tinta e o pincel. Eu, em particular, utilizo a tecnologia disponível adaptando, reinventando-a”, considera. É bom que se diga que #o.lhar é a versão on-line da instalação interativa o.lhar, adaptada à nova realidade pós-pandemia. Nessa versão, o mecanismo de captura do olhar está na palma da mão, com os dispositivos móveis ou fixos, com visualização acessível e imediata pela web.
A obra, na prática, se torna um mural digital constituído pelos olhares dos visitantes. Ao entrar, os participantes têm, como primeiro contato, o mosaico de olhares constituído pelos vídeos de outras pessoas que já interagiram e contribuíram. Para tornar o seu olhar uma obra de arte, é preciso acessar o site anexa.sescsp.org.br/oficio, inserir sua conta do Google, Facebook ou Twitter e a câmera se abre para registrar a sua íris inquieta ou curiosa, estática ou reflexiva para todos apreciarem.
A câmera, este mecanismo de amor e ódio que nos conecta, nos cerca e nos vigia, é o ponto de partida desse trabalho. Mas ela diz que a intenção da obra nunca passou por esse aspecto de vigilância e, sim, de usar esse recurso para buscar o olhar dos outros. “Nunca pensei nesse sentido. A minha ideia é captar o olhar e transformá-lo em algo para ser visto: este foi meu pensamento. O ser que olha também é o olhado e, isto, vira a obra”, salienta.
Raquel diz que sua relação com a arte e a arquitetura vai além das fronteiras desses dois ofícios e que, na verdade, “várias áreas se tocam e se entrelaçam para mim. Mas a arte é uma ferramenta de comunicação poderosa, que usa diversas mídias para acionar o indivíduo, seja sonora, tátil, interativa, contemplativa e pode, ainda, ser uma simbiose de todas elas. Mesmo assim, difere-se de obra para obra”.
Como funciona o processo criativo de Raquel? “Alguns trabalhos surgem de uma demanda especifica. Outros ficam em fila de espera para algum dia existir no mundo real. O trabalho é de 24 horas sempre”.
O fato é que o que move o espírito livre da artista Raquel Kogan é a curiosidade. E isso ela tem de sobra quando se trata dos movimentos contemporâneos da arte. E nesta seara vale tudo: vídeo-instalação, vídeo-arte, sons, imagens, interações que instigam os sentidos. Mas, qual a mensagem que a artista quer transmitir ou aprender ao provocar reações instintivas do observador de sua arte? “Acho que falo sempre a mesma coisa de maneiras diferentes: o trabalho é um, mas ao mesmo tempo vários, dependendo da interação de cada visitante. O momento na obra é sempre único. Aprendo sempre observando muito o indivíduo que interage”, complementa.
* Simões Neto é jornalista, especializado na cobertura de Arte, Design e Arquitetura.
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Serviço
Ofício: Web: RaquelKogan:#o.lhar:pompeia
Até 20 de dezembro em: anexa.sescsp.org.br/oficio
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