Foto: Fabiana Lorenzeti
Por Fabiana Torres Lorenzeti e Maria Luísa Giacomini*
Embora neste momento o encontro presencial no Espaço de Brincar não seja possível, algumas reflexões que permeiam a Semana Mundial do Brincar nos convidam à construção de um espaço-tempo para estar, cuidar e brincar com as crianças em casa também. Elas seguem se expressando, se inventando e transformando os lugares aonde estão, não é?
Onde mora o brincar? Quando queremos encontrar brincadeira, para onde vamos? O que procuramos? Nos fazeres das crianças o brincar se materializa, onde sua imaginação é acessada através de narrativas, gestos, construções e engenhocas. Mas e se o brincar tivesse um lugar, como seria sua morada? Um cantinho só seu, com formas e cores todas por inventar? Ou uma casa? Um barco? Um balão que nos suspenda e leve a outros mundos. O brincar entre o céu e a terra… No chão, na areia, nas pedras e no asfalto, no cimento do quintal, no tapete da sala. Até nas mãos, na língua, na barriga e nos dedinhos dos pés… Onde então nos encontramos com o brincar?
O brincar mora dentro da gente: no nosso corpo, nossa curiosidade, nossa vontade de conhecer e criar. Mas ele mora também fora da gente: no coletivo, onde acontece o jogo, a diferença, o encontro. De toda forma, se brinca. E de toda forma o brincar tem lugar – ele tem várias moradas.
Além de um lugar interno, íntimo e único, que cada pessoa cultiva e carrega por onde vai, existe uma grande diversidade de espaços físicos destinados à brincadeira das crianças e outros tantos que, embora não tenham inicialmente esta finalidade, apresentam-se como verdadeiros convites para elas – escadas, muretas, camas, tanques, cadeiras…. o brincar das crianças acontece nos locais e momentos mais inusitados.
Tantas vezes a criança, em toda sua disposição corporal e imaginativa, rompe com o entendimento que o adulto tem de brincadeira e com sua resistência ao brincar – se ele acha que não pode, que não sabe mais, ela ensina, inaugura, instaura esse espaço em sua vida novamente. Experimentar, trocar, observar, aprender, brincar e estar junto com um criança, em suas inúmeras possibilidades de interação, nos coloca diante da força da cultura da infância e da sua qualidade sutil de nos transformar, nos ensinar sobre o mundo e sobre nós mesmos.
Em seu caminhar, a criança sempre consegue chegar na íntima morada do brincar e, generosa, abre suas portas para receber quem estiver disposto, quem tiver vontade e quem quiser conhecer seus afetos. Vamos entrar?
*Fabiana Torres Lorenzeti e Maria Luísa Giacomini são Educadoras do Espaço de Brincar no Sesc São Carlos
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