Provavelmente em meados de 1935, Mário de Andrade começou a ordenar a sua discoteca particular mediante a substituição da capa original de cada disco por outra de cartolina lisa, numerando-a e nela escrevendo à mão suas observações de musicólogo, professor do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, folclorista e atento observador da pronúncia do português no Brasil.
      
Cinquenta anos depois, em 1985, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), na execução do projeto Inventário do Arquivo Mário de Andrade, elaborou um primeiro catálogo dessa coleção de 544 discos, gravados em 78 rotações e com diâmetros de 25 cm e 45 cm.
      
Este livro, que Flávia Camargo Toni organizou com base em sua vasta experiência na pesquisa da obra sobre música de Mário, é um catálogo reelaborado que elenca 161 discos e que “reinventa” acréscimos para esclarecê-lo e enriquecê-lo. Contém as anotações nas capas de cartolina e trechos pertinentes a elas extraídos de outros livros do escritor. Mais: apresenta textos introdutórios de Flávia Camargo Toni e José Ramos Tinhorão e um posfácio de Maurício de Carvalho Teixeira, além de apêndices que ilustram a ligação de Mário com a música aqui abordada.
      
Para Tinhorão, esse trabalho resulta “na comprovação de mais um mérito a ser acrescido aos muitos já creditados àquele grande estudioso: o de pioneiro no uso de produtos da indústria do lazer internacional como documento para o estudo do processo cultural brasileiro”. E Maurício Teixeira conclui que “Mário de Andrade estava sempre preocupado em propor caminhos para uma produção ao mesmo tempo modernista e nacional – mesmo junto ao fonógrafo, escutando seus discos”.
 

Texto publicado originalmente na orelha do livro.
 

Veja também:

:: trecho do livro