Imagens celebram mulheres cientistas e artistas

30/07/2024

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Reconhecimento da atuação das mulheres tem ajudado a reescrever a história das ciências e das artes no Brasil e no mundo 

POR LUNA D’ALAMA 

Leia a edição de AGOSTO/24 da Revista E na íntegra

O que descobertas científicas como o wi-fi, o GPS, a estrutura do DNA, a matéria escura, a fissão nuclear, a trajetória do homem à Lua, o vírus HIV e os cromossomos X e Y têm em comum? Todas elas foram feitas por (ou com a colaboração de) mulheres como, respectivamente, Hedy Lamarr  (1914-2000), Gladys Mae West, Rosalind Franklin (1920-1958), Vera Cooper Rubin (1928-2016), Lise Meitner (1878-1968), Katherine Johnson (1918-2020), Françoise Barré-Sinoussi e Nettie Stevens (1861-1912), entre outras cientistas pioneiras. No entanto, em meio a uma sociedade patriarcal, na qual o machismo e a misoginia ainda se fazem presentes, muitas delas foram invisibilizadas, marginalizadas ou tiveram seus legados apagados de registros oficiais e da memória coletiva.  

Segundo a PhD em história e filosofia da ciência Magali Romero Sá, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e vice-diretora de pesquisa e educação da Casa de Oswaldo Cruz, diversas mulheres tiveram, ao longo da história, papel fundamental em avanços científicos, tecnológicos e culturais. Porém, seus nomes foram esquecidos, ou suas contribuições relegadas a segundo plano. “Nos últimos séculos, a relevante atuação das mulheres foi considerada apenas um ‘suporte’ de seus pais, maridos ou colegas de trabalho. Eram figuras à frente de estudos que, na hora de assiná-los ou apresentá-los publicamente, ficavam nos bastidores, muitas vezes não entrando nem nos agradecimentos. Outras tinham que se posicionar ou se vestir como homens para realizar viagens de circum-navegação ou assistir a aulas de medicina”, explica Sá, que prestou consultoria para a exposição Nós – Arte e Ciência por Mulheres [leia mais em Tramas pela equidade], em cartaz no Sesc Interlagos a partir de 22 de agosto. 

A pesquisadora da Fiocruz destaca que, felizmente, a história da ciência e das artes está sendo reconstruída e reescrita a todo momento. Ela cita a cientista polonesa naturalizada francesa Marie Curie (1867-1934), que se tornou a primeira pessoa do mundo a ganhar dois prêmios Nobel em áreas diferentes (física e química). Até hoje, Curie ainda é a única mulher a ter conquistado esse feito. “Devemos lembrar também que o primeiro sequenciamento genético do vírus da Covid-19 no Brasil, feito em tempo recorde, foi liderado pela biomédica e doutora em patologia humana Jaqueline Goes de Jesus. Já conseguimos muitos avanços, mas ainda temos muito o que lutar em termos de cargos, salários, espaço, respeito, oportunidades e reconhecimento, para que a mulher exerça seu papel pleno na sociedade e haja participação feminina em todas as áreas do conhecimento”, aponta Magali Romero Sá. 

Segundo a produtora cultural e curadora Isabel Seixas, sócia-fundadora do Estúdio M’Baraká, coletivo carioca responsável pela concepção da exposição Nós, a revolução feminista tem sido uma das mais longas, pois o movimento começou na década de 1960 e ainda está longe de alcançar a equidade entre gêneros. “Como canta Rita Lee (1947-2023) em ‘Pagu’, mexemos e remexemos na inquisição. Ainda que algumas mulheres possam gozar de liberdade, autonomia e empoderamento, de modo geral, ainda estamos muito atrasadas e submissas aos privilégios e às engrenagens patriarcais. Há uma dívida histórica imensa e uma necessidade de reparação de injustiças, sobretudo quando pensamos nas interseccionalidades de raças e classes sociais”, aponta Seixas.  

A linguista Letícia Stallone, também do Estúdio M’Baraká, acrescenta que, antes de tudo, o conceito de ciência como algo ocidental, hegemônico, androcêntrico e excludente precisa ser questionado. “A ciência moderna impôs uma visão de mundo única, ignorando culturas, línguas, civilizações, cosmovisões, filosofias e saberes tradicionais. Isso resultou na invisibilidade de várias formas de existir e de compreender a realidade”, destaca. Além disso, como dizia a filósofa e ativista francesa Simone de Beauvoir (1908-1986), “basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”. “Isso significa que avanços conquistados por nossas ancestrais estão, constantemente, ameaçados por retrocessos e desafios. Portanto, ao valorizarmos a representatividade e os feitos de mulheres nas ciências e nas artes, prestamos homenagem a seus legados e inspiramos as atuais e futuras gerações a buscar equidade no reconhecimento do trabalho feminino e a lutar por um mundo mais justo e inclusivo”, ressalta Stallone. 

Pequenas tarefas diárias (2020), de 
Thatiana Cardoso. 
Impressão sobre 
papel algodão.
Pequenas tarefas diárias (2020), de Thatiana Cardoso. Impressão sobre papel algodão.

para ver no Sesc
TRAMAS PELA EQUIDADE
A partir de 22/8, Sesc Interlagos recebe exposição Nós – Arte e Ciência por Mulheres, destacando o legado de cientistas e artistas de diversas épocas e origens  

Instalada em um espaço de 500 metros quadrados, a exposição Nós – Arte e Ciência por Mulheres entra em cartaz no Sesc Interlagos, zona Sul da capital paulista, a partir de 22/8, evidenciando a vida e a obra de 55 cientistas e 23 artistas de diferentes períodos e lugares do mundo. A mostra, que iniciou sua itinerância pelo Paço das Artes, em 2023, apresenta cerca de 300 obras, entre pinturas, esculturas, fotografias, serigrafias, videoinstalações e reproduções de gravuras. A narrativa expográfica atravessa distintos períodos históricos, mostrando a trajetória de mulheres da Suméria e da Mesopotâmia até personalidades contemporâneas.  

Entre as cientistas brasileiras, destacam-se Mestra Japira, Sueli Carneiro, Niède Guidon, Mayana Zatz, Beatriz Nascimento (1942-1995) e Nise da Silveira (1905-1999). Já nas artes, aparecem representantes de todas as regiões do país, como Arissana Pataxó, Antonia Dias Leite, Laura Gorski e Efe Godoy.  

Sob curadoria do Estúdio M’Baraká, a exposição reúne obras dos acervos do Museu dos Povos Indígenas, Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), Instituto Butantan e do Museu de Ciências da Terra, do Rio de Janeiro. Segundo a cocuradora Letícia Stallone, muitas das mulheres presentes em Nós foram pioneiras em suas áreas, desenvolvendo inovações que impactam a sociedade até hoje. “Porém, várias dessas mulheres foram negligenciadas pela história oficial, que priorizou e validou o conhecimento produzido para e por homens”, ressalta.  

De acordo com a cocuradora Isabel Seixas, o título Nós refere-se ao entrelaçamento de diferentes formas de opressão que se relacionam de forma interseccional. “Enquanto pronome pessoal, ‘nós’ acolhe as mulheres como protagonistas. É também um convite à coletividade, para incluir todos os envolvidos, sejam mulheres ou não, em um senso colaborativo. Queremos, ainda, fazer um chamamento à criação de laços e à participação ativa e contínua, entendendo que nossas escolhas podem desatar nós”, explica. Segundo Seixas, a exposição faz um resgate desde os tempos antigos e medievais, enaltecendo figuras como parteiras, curandeiras e benzedeiras, muitas vezes consideradas criminosas e bruxas – milhares delas, inclusive, condenadas à fogueira.  

Sobre a intersecção da arte com a ciência, a cocuradora Isabel Seixas acredita que essa é uma forma interessante de apresentar o mundo, produzir conhecimento e compartilhar significados. Algo com o qual a pesquisadora Magali Romero Sá, da Fiocruz, concorda: “ciência e arte andam juntas. Representações artísticas são fundamentais para dar visibilidade ao que se faz na ciência, para materializar conceitos e interagir com o público”.  

INTERLAGOS 
Nós – Arte e Ciência por Mulheres 
Concepção e curadoria do Estúdio M’Baraká 
De 22 de agosto a 30 de março de 2025. Quarta a domingo e feriados, das 10h às 16h30. GRÁTIS.            
sescsp.org.br/interlagos

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