Produção e consumo sustentáveis são tema de oficinas e bate-papos
O projeto Planta Resistência do Sesc Consolação discute, por meio de bate-papos e oficinas, formas alternativas e sustentáveis de produção e comércio de produtos artesanais. Na programação, o foco é mostrar maneiras práticas de preparo e consumo caseiros com vistas à redução do desperdício e de resíduos.
É preciso valorizar a potencialidade dos produtos naturais, a troca dos saberes tradicionais e acadêmicos e a autonomia dos indivíduos frente ao condicionamento industrial hegemônico. Para tanto, as atividades têm as plantas alimentícias como protagonista, levando a discussão da produção e do consumo sustentável à mesa e à rotina das pessoas. Planta é resistência, pois é política, é economia, é social. É desenvolvimento.
Entre as ações que encontramos neste sentido hoje, o trabalho da Mato no Prato apresenta a educação ambiental para valorizar nossos recursos naturais, reinserindo-os na nossa culinária. No material a seguir, a instituição oferece uma lista de plantas comestíveis, além de receitas com elas.
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Confira mais receitas aqui.
A Menina Brasileira, uma cozinha artesanal, orgânica, integral, viva, verde e sem origem animal, dividiu essas receitas com a EOnline para a oficina Alimentação Viva, que ensina a germinar grãos, por exemplo, e como usar alimentos crus ou pouco cozidos no dia a dia.
Conservas Fermentadas
•6 folhas de acelga
•6 folhas de repolho
•6 vagens
•½ pimentão vermelho
•½ pimentão amarelo
• ½ abobrinha
• ½ cenoura
• 1 col sopa de sal marinho
• 1 pedaço de gengibre ralado de 4 cm aproximadamente
• Água suficiente para cobrir os vegetais
• 2 potes de vidro para fermentação
Corte em pedaços bem pequenos os legumes, e corte as folhas em pedaços compridos.
Em um pote de vidro esterelizado com água fervente, vá posicionando uma camada de cada legume: cenoura, vagem, pimentão vermelho, abobrinha e pimentão amarelo. Deixe bem “apertado” entre cada camada. Rale metade do pedaço de gengibre e esprema o suco por cima da conserva, isso vai ajudar na fermentação. Em uma tigela pequena, prepare uma salmoura: acrescente 1/2 col de sopa de sal marinho+ um pouco de água e misture. Derrame a salmoura pelo pote e complete com água até cobrir todos os vegetais. Repita o processo com a conserva das folhas repolho e acelga. Feche os potes com um papel toalha e prenda com um elástico e deixe fermentando fora da geladeira por 24 horas.
Na hora de servir, escorra os legumes e prepare uma salada acrescentando outros legumes e folhas frescas, como por exemplo: pepino, rabanete, ervas frescas e lentilha germinada. Acrescente mais limão e azeite para temperar, acerte o sal e sirva!
Queijo Fermentado
• 1 xic de grão de bico germinado
• Suco de 1 limão
• ½ xic de água, água de kefir ou rejuvelac
• 2 col de sopa de missô ou sal a gosto
• Hortelã para decorar
• 1 pitada de páprica defumada
• 1 pedaço de tecido voil para fazer a fermentação
Faça a germinação do grão de bico: lave os grãos e deixe de molho em água filtrada, por 8 horas. Em seguida, enxague os grãos e espalhe em uma peneira ou escorredor. Deixe germinando, enxaguando de vez em quando, por 16 horas aproximadamente ou até aparecer o “narizinho” de germinação. Escorra os grãos, enxague-as e retire a pele de preferência. Leve ao liquidificador, acrescente a água, o missô e o limão. Bata aos poucos, com calma, mexendo durante as paradas, até virar uma massa pastosa homogênea.
Com o auxílio de um prato fundo, estenda o tecido voil nesse prato, e despeje a massa no tecido. Pendure em um local arejado e limpo, com um pote em baixo para o líquido que for drenado.
Deixe fermentar por 24 horas (quanto mais horas fermentar, mais o gosto ácido que queremos, acentua). Retire do tecido e leve a um outro recipiente em que irá servir, como um prato fundo.
Unte as mãos com azeite e vá moldando o queijo. Em seguida, salpique páprica por cima do queijo e vá “alisando” com a mão até formar uma capinha no queijo. Finalize e decore com folhas de hortelã e uma regada de azeite.
Tortinha de Limão
• 1/2 xic de castanha do Pará
• 1/2 xic de amêndoas
• 1/2 xic de uva passa preta
• 1/2 xic de ameixa seca
Para o recheio:
• 1/2 xic de castanha de caju hidratadas por 4 horas
• 1 banana nanica madura
• 1/4 xic de coco desidratado
• ½ xic de água
• 1 col de café de suco de limão
• Raspas de limão
Bata todos os ingredientes da massa no processador, até ficar bem homogênea, a ponto de moldar com as mãos. Faça bolinhas, e aperte o meio com o dedo, moldando um espaço para o recheio.
Para fazer o recheio, é só escorrer as castanhas, enxaguá-las e bater com o restante dos ingredientes, menos as raspas de limão. Se precisar, vá batendo aos poucos para obter um creme bem pastoso.
Acrescente o recheio na massa com o auxílio de com uma colherinha, e leve a geladeira por meia hora. Na hora de servir, salpique as raspas de limão por cima do recheio e pronto, só desfrutar!!
Cracker
• 1 xic. de semente de girassol hidratada
• ½ abobrinha pequena
• ¼ xic. de tomate desidratado
• ¼ xic. de linhaça moída na hora
• ¼ xic. de agua
• Ervas e sal a gosto
• 1 tapete de silicone
Comece desidratando o tomate: corte-os em tiras médias e espalhe em uma assadeira, salpique sal por cima e leve ao forno na temperatura mínima com a tampa aberta por cerca de 1 hora.
Prepare os crackers: escorra e lave as sementes, leve-as ao processador com o restante dos ingredientes, menos a linhaça. Bata até formar uma massa pastosa. Em seguida, acrescente a farinha de linhaça aos poucos e bata até misturar.
Espalhe bem a massa em um tapete de silicone e leve ao forno pré aquecido, na temperatura mínima, com a tampa aberta. Deixe desidratando por cerca de 2 horas ou até a superfície ficar bem crocante. Corte em quatro pedaços grandes, e com a ajuda de uma espátula, vire o cracker para desidratar do outro lado, por cerca de mais 2 horas.
Para servir, quebre em pedaços menores e deguste com pastas e queijos vivos. Guarde em um pote bem fechado, e guarde até uma semana.
Em oficina, o pessoal da Mermeleia dividiu com o público uma receita misturando fruta e semente – manga e chia – e disponibilizou pra EOnline.
Ingredientes
– 1380g de Manga
– 80ml de Limão (aproximadamente 2 limões médios)
– 100 ml de água
– 500g de Açúcar cristal
– 10g de Pectina
– 12g de Chia
Modo de preparo
Corte a manga em cubos pequenos e coloque na panela ainda fria.
Adicione o suco de limão e a água.
Espere ferver em temperatura baixa durante 30 minutos para o processo de cocção da fruta.
Após cocção da fruta, separe 2 colheres de açúcar para o final da receita e adicione o restante.
Adicione os 12g de chia.
Após o primeiro processo, deixe em cocção por mais 45 minutos. Passado esse tempo, desligue a panela e adicione o restante do açúcar, misturado com a pectina em pó.
Dicas
Mexer a cada 10 minutos durante 45 minutos.
Misture bem e deixe esfriar em uma fonte de vidro.
Porção pode render até 1 litro
DEMANDAR MAIOR VARIEDADE DE ALIMENTOS
“É interessante notar que a maioria das pessoas diz que não consome as PANC por não encontrar no comércio, mas os feirantes afirmam que a procura se mantém entre os vegetais convencionais”
Dentro das ações do projeto, conversamos com o geógrafo que trabalha com permacultura e PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais) Arthur Rodrigues, da Mato no Prato, que destaca a importância do resgate da cultura alimentar tradicional que o Sesc, entre outras instituições, oferece em sua programação, nas comedorias e com o programa Mesa Brasil.
Arthur ainda fala sobre a memória afetiva de plantas que hoje não se vê em feiras e mercados, mas consumíamos direto da horta, e ações para diminuirmos o desperdício de alimentos.
EOnline – O que as pessoas precisam saber sobre as PANC?
Arthur Rodrigues – Atualmente o conceito de PANC está bem difundido, principalmente nas grandes cidades, que se configuram como espaços de troca de informações. As pessoas conhecem a sigla, mas ainda consomem as PANC somente em ocasiões especiais ou restaurantes. Para esta população é importante consolidar o consumo, de forma que estes alimentos façam parte do cotidiano. Nas áreas rurais, muitos vegetais considerados PANC se fazem presentes por serem parte da memória afetiva alimentícia, mas é preciso resgatar o valor destes ingredientes para manter viva a tradição de uma alimentação mais biodiversa.
EO – Como podemos cultivar/comprar PANC e outros alimentos de exploração mais consciente?
A.R. – As PANC se dividem entre plantas que já foram historicamente cultivadas como ornamentais e também como alimento. Ainda assim, muitas mantiveram aspectos naturais, sendo rústicas e ocorrendo espontaneamente, por isso cultivo é mais simples que a maioria das plantas convencionais, que dependem de defensivos sofisticados ou um pacote de sementes transgênicas. Com alguns cuidados é possível colher alimento seguro, saudável e saboroso que cresce por conta própria em determinados ambientes. Além disso, é importante se aproximar dos produtores da sua comida. O primeiro passo é frequentar as feiras livres e consumir produtos diferentes, depois demandar maior variedade de alimentos. É interessante notar que a maioria das pessoas diz que não consome as PANC por não encontrar no comércio, mas os feirantes afirmam que a procura se mantém entre os vegetais convencionais. É imprescindível eliminar estes ruídos na comunicação entre o consumidor final e o produtor.
EO – O mundo hoje desperdiça muita comida: de acordo com a FAO Brasil – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, 28% dos alimentos se perdem no processo de produção agrícola e mais 28% são jogados no lixo após chegarem às nossas casas. Que ações devemos tomar para evitar o desperdício e aproveitar melhor os alimentos?
A.R. – Além da má distribuição na produção dos alimentos no Brasil e da logística deficiente, há preconceitos relacionados aos padrões estéticos dos vegetais e ao aproveitamento integral associado à situações de escassez, que levam ao desperdício. Alguns vegetais ou partes deles que caíram em desuso são os que hoje se enquadram como PANC, como por exemplo, o coração da bananeira (inflorescência) ou mesmo as cascas e as ramas de vegetais usuais como a cenoura e a beterraba. Este alimentos têm potenciais que precisam ser melhor estudados, testados, experimentados e divulgados, para que haja revalorização. Para tanto, é necessário que as pessoas despertem para a importância da alimentação na sua saúde, se tornem mais criteriosas com a comida industrializada e atentas à monotonia alimentar que a mesma provoca.
EO – Gostaria de dizer mais alguma coisa sobre o assunto que não foi abordado nas perguntas acima e que seria importante ressaltar para nossos leitores?
A.R. – O Sesc é um dos maiores apoiadores do resgate da cultura alimentar tradicional no país, tanto na programação quanto nas comedorias, que como a do Sesc Carmo funciona há anos no coração de São Paulo, servindo para o público refeições naturais. Além disso, o programa Mesa Brasil, que teve o seu início no Sesc SP, destina o alimento excedente de produções e mercados à instituições filantrópicas, melhora o acesso à alimentação saudável e reduz o desperdício, sendo também vantajoso para o meio ambiente.
Arthur Rodrigues é geógrafo (UNIFAL-MG), mestrando em Planejamento Urbano e Regional (UNIVAP) e trabalha com permacultura há mais de dez anos e com PANC desde 2013.
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