A psicóloga Raylla Andrade afirma que é possível dialogar sobre qualquer assunto.
Do mal entendido na fila do mercado até o relacionamento mais íntimo: de acordo a psicóloga Raylla Andrade, todas as relações humanas podem ficar mais saudáveis com a aplicação dos conceitos da Comunicação Não-Violenta (CNV). A técnica, que oferece ferramentas para uma comunicação mais eficaz e empática, começou a ser desenvolvida na década de 60 por Marshall Rosenberg. Quase setenta anos depois, suas aplicações aparentam ter sido feitas sob medida para o contexto em que vivemos hoje.
“Parece que a gente desenvolveu várias ferramentas pra se conectar com pessoas que estão do outro lado do mundo e ao mesmo tempo talvez nunca nos sentimos tão desconectados nesse nível mais profundo e tão sozinhos”, comenta Raylla. Ela conheceu a CNV por meio de seu marido, que foi o primeiro na família a fazer um curso sobre o tema: “Quando ele voltou e começou a me escutar e a oferecer empatia, eu adorei. Eu falei: Nossa! As nossas conversas estão muito melhores do que foram em qualquer outro momento da nossa relação”.
Um tempo depois, veio a primeira filha do casal, um acontecimento que a levou para uma etapa muito desafiadora de sua vida. Com toda a carga física e mental envolvida nos cuidados com a bebê, ela foi percebendo cada vez mais sentido nos conceitos aprendidos, e lidando melhor com suas emoções ao identificar as necessidades que estavam por trás de todos aqueles sentimentos.
Foi um caminho sem volta. Hoje ela se dedica a promover desenvolvimento pessoal disseminando estas ideias nos mais variados lugares, como no Sesc Osasco, onde Raylla mediou uma oficina com o tema na programação do projeto Boca, pra que te quero?.
A CNV propõe que seja buscada uma conexão com o que há de mais profundo no ser humano, as chamadas necessidades humanas universais.
Se no nível de necessidades somos todos iguais, o que muda são as formas como cada pessoa acredita que vai conseguir sanar estas necessidades. Neste ponto está a fonte de vários conflitos.
Na prática, o que se propõe é uma escuta qualificada, a partir da qual é possível estabelecer conexões reais. “Quando o outro se sente realmente ouvido, é muito comum que diminua a resistência e a defensividade e que ele também fale: e você? Aí você tem a chance de falar e contar: olha, pra mim isso também é importante, embora eu tenha estratégias diferentes pra chegar lá”. Seguindo esta lógica, seria possível dialogar em qualquer contexto.
Pensando nas necessidades universais, é possível conectar problemas na saúde bucal com dificuldades que vão além do óbvio: “A falta de um dente, por exemplo, pode comprometer a necessidade de aceitação, pertencimento. A pessoa pode ir se excluindo socialmente e deixar até de estar na companhia de pessoas que gosta por se sentir de fora. Então isso pode gerar uma dor bem profunda, de exclusão”.
Existem grupos que se dedicam a praticar periodicamente esta forma de ouvir. É possível também formar o chamado “par empático”, uma dinânica entre duas pessoas que se propõem a fazer uma sessão semanal de escuta e fala. A partir destes exercícios, aprende-se a compreender qual necessidade se esconde atrás dos sentimentos e histórias relatadas.
“Qualquer pessoa pode aprender CNV e oferecer escuta para seus amigos, seus familiares. Com certeza é muito terapêutico, ser ouvido e receber empatia de alguém é muito curador”.
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