A dupla de artistas Marita Oliveira e Felipe Nicastro se conheceu antes dos palcos, em 2012, quando eles ainda trabalhavam em uma fábrica e já falavam sobre arte. Durante o curso de teatro que fizeram juntos, continuaram a dividir sempre os mesmos interesses.
Marita Oliveira, além de fotógrafa, possui experiências no teatro. Passou por peças como “Escuta: deixo ser e ser então”, “Oh, manas” e “Rexistir” sobre feminismo e contra a violência na época de ditatura militar, “Poemas e outros bichos”. Mas o início da sua carreira foi com poemas em Libras.
Felipe Nicastro começou no teatro ainda na escola, fazendo peças como pequeno príncipe surdo. Atualmente, além de atuação, ensina Libras e realiza contação de histórias. Ele relata que os cursos e grupos de teatros dos quais participou não tinham intérprete de Libras, até então. Mas, no ano passado, encontrou um grupo bilíngue (Libras e português), e que isso faz toda diferença para um teatro equitativo.
Em 2018, a dupla iniciou um processo de desenvolvimento de sua linguagem teatral com a proposta de realizar a conexão entre as línguas, Língua Portuguesa e Língua Brasileira de Sinais. Segundo Felipe, o objetivo é “mostrar para a comunidade surda que ela poderia ser incentivada por esse tipo de trabalho”.
Para Marita e Felipe, a equidade de oportunidade entre surdos e ouvintes pode começar com as publicações dos editais culturais que hoje, em sua maioria, possuem ênfase na Língua Portuguesa, e o trabalho em conjunto de surdes e ouvintes no teatro.
Segundo Marita, isso se deve ao fato de serem direcionados aos ouvintes. Mas quando há a união das duas línguas fica mais fácil para os surdos conquistarem espaços para a língua de sinais. Felipe complementa ao relatar que muitos grupos de surdos não participam de editais em português devido às barreiras geradas pela língua. “Então, com essa abertura, os surdos ganham esses espaços, aumentam a presença da Libras para que os ouvintes comecem a perceber e fazer essa troca, entre surdo e ouvinte, trabalhando nas mesmas condições, sem pensar que é impossível a comunicação”.
Dentro dos palcos, o encontro entre a Língua Portuguesa e Libras pode acontecer de outra forma muito além de colocar um intérprete em Libras no canto. Marita destaca que “a acessibilidade é vista pelo ouvinte como uma adaptação. Coloca-se o intérprete, mas não é só isso. É necessário um referencial surdes, ele precisa trabalhar na companhia [artística], junto com o ouvinte. O bom seria o surdo estar incluído de fato nesse espetáculo, fazer parte, então acessibilidade é fazer parte”.
Nessa mesma linha de pensamento, Felipe relata que acessibilidade é colocar todas e todos nas mesmas condições, e quando ouvinte e surdes estão em contato, conversando, refletindo sobre a arte, isso é trabalhar em parceria, sem precisar “separar a acessibilidade do discurso da arte, seria um trabalho muito melhor, com muito mais qualidade”.
Na perfomance que os artistas prepararam para a Semana Modos de Acessar, o vídeo mostra dois personagens que interagem em “lugares diferentes”, mas dando continuidade às cenas, mostrando o cotidiano dentro de casa. Como cada um gravou em sua residência, um dos desafios foi filmar no ritmo para que as ações tivessem sincronia, conta Felipe.
Acompanhe a performance de Marita Oliveira e Felipe Nicastro:
A Semana Modos de Acessar, ação do Sesc São Paulo, acontece de 3 a 10 de dezembro e promove diversas atividades para incentivar a participação social das pessoas com e sem deficiência. Diante do momento de pandemia, o evento acontece inteiramente no ambiente digital.
A performance de Marita Oliveira e Felipe Nicastro é uma das sete que compõem a proposta do Coletivo Home Art.
Acompanhe mais apresentações em www.sescsp.org.br/modosdeacessar
***Entrevista realizada por plataformas virtuais com auxílio de intérpretes em Libras:
Claudia Regina Vieira é Bacharela em Letras Libras pela UFSC com pólo na Unicamp. Docente na Universidade Federal do ABC – UFABC e do Programa de Pós-Graduação em Educação e Saúde na Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. Com pesquisas e trabalhos com ênfase na Educação de Surdos e Língua de Sinais.
Andrey Gonçalves Batista, com graduação em tradução e interpretação de Libras e intérprete da Universidade Federal do ABC.
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