Por Adelina von Fürstenberg
A relação entre humanos e animais oferece um infinito campo de investigação. Dimensões filosóficas, antropológicas e sociais se sobrepõem todas dentro dela. Lidar com essa temática exige que voltemos ao fundamento, enquanto falamos sobre o presente em que vivemos e o futuro que vem à frente. Humanos, que são ao mesmo tempo animais separados dos demais animais, têm historicamente definido o que significa ser humano, precisamente em contraste aos demais modos de vida.
Um antropocentrismo enraizado nos leva a dizer que “não somos bestas selvagens” e por isso diferentes de outros animais. Dizer que o homem não é um animal significa enfatizar não apenas as diferenças entre humanos e outros animais, mas mais especificamente, nossa superioridade, nossa dominação sobre os outros.
Basta ver como o homem, intencionalmente ou não, dizima outras espécies, por meio da caça e pilhando recursos e ecossistemas. De fato, remover apenas uma das espécies pode causar um distúrbio tão grande que excederia a resiliência do ecossistema. Sem falar em como animais são usados por prazer – circos e touradas são apenas dois exemplos – ou experimentação científica.
Assim como cada pessoa é única, cada animal tem diferentes qualidades, forças e características de personalidade. De acordo ao filósofo alemão Immanuel Kant (1742-1804) humanos enfraquecem sua própria dignidade abusando de animais. Em seu “Doutrina da Virtude”, Kant afirma que aceitar que nós devemos preservar os animais significa preservar em nós a compaixão necessária para nossa relação moral com a humanidade. Ao final, ele conclui que nossos deveres para com os animais nada mais são do que obrigações conosco.
Explorar a relação entre homem e animal significa ainda trazer a possibilidade de adotar diferentes pontos de vista e formas de interação. O outro não é nosso inimigo, presa, ferramenta, ou mercadoria para ser usado a nosso favor, mas mais como um contemporâneo, no mais literal sentido, um álter ego e companheiro. É só confrontando esse outro animal que nós podemos imaginar desenvolver um verdadeiro senso de consciência e companheiros um para o outro.
Este tem sido um bom campo de reflexão – atravessado por pessoas criativas, inspiradas que por um lado levanta questões ligadas às tradições, ética e estética, para nosso receio ao estrangeiro e o desconhecido. Por outro lado, o tema aborda questões mais urgentes, tais como a transformação da nossa vida cotidiana, o ecossistema, a biodiversidade, a poluição e as alterações climáticas.
Animais são o tema mais antigo representado, e entre os temas mais frequentes da arte, fábulas, cosmologia, magia e mito. As imagens a eles atribuídas são exploradas de infinitas maneiras: de literalmente personificações literárias a membros poderosos do reino do simbolismo, de serem nossos companheiros inestimáveis na vida diária a ter espécies subordinadas pela dominação humana ou consumo.
ADELINA VON FÜRSTENBERG
Membra honorária da World Art Foundations, ART for The World foi criada pela Sra. Adelina von Fürstenberg, uma renomada curadora de arte internacional e produtora de cinema independente, que foi premiada com o Leão de Ouro de Melhor Participação Nacional na Bienal de Veneza em 2015 por sua curadoria do Pavilhão da Armênia, e com o Grand Prix Meret Oppenheim pelo Federal Office of Culture, Suíça em 2016 por seu compromisso com as artes. Em 2020 foi nomeada membra da World Art and Science Academy/WAAS.
Pioneiros no campo da Arte Contemporânea, os projetos de von Fürstenberg buscam proporcionar um contexto maior para as artes, tornando-as uma parte mais vigorosa de nossas vidas, criando diálogos vívidos com as principais questões de nosso tempo, como meio ambiente, mudanças climáticas, saúde, gênero, educação, entre outros. Entre 2008 e 2019, produziu 45 curtas-metragens sobre o tema.
Interactions – When Cinema Looks To Nature é uma antologia de 12 curtas-metragens originais que retratam os vínculos e interações entre Humanos, Vida Animal, Ecossistemas, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas. O longa é uma produção da Art For The World, ONG associada ao UNDPI (Departamento de Informação Pública das Nações Unidas) com sedes em Genebra e Itália.
O evento de lançamento de Interactions na América Latina acontecerá dia 27 de março, às 19h, no CineSesc. A sessão é gratuita, com retirada de ingressos na bilheteria do cinema, a partir das 18h. No mesmo dia, o documentário estará disponível sob demanda em sesctv.org.br/interactions. Já a estreia no SescTV será dia 15 de abril, sábado, às 22h.
Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.