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Já dizia Guimarães Rosa – “O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.
Minha vida toda, incluindo os 22 anos de trajetória no Sesc, foi vivida no interior do Estado de São Paulo. Tenho a sorte e orgulho de ser caipira. A cada chegada em uma nova cidade, o desejo de explorar, conhecer e fazer parte renasce junto com as expectativas. Que território é esse? Quais suas vocações e demandas? Quem são as pessoas desse lugar? De que maneira nosso trabalho pode somar e fazer diferença nesse espaço?
Os diálogos com a cidade são essenciais na construção de um programa robusto, transversal e que reflita a comunidade. Mas que vozes ecoam neste território? Quais vozes refletem a cidade de todas as pessoas?
Nesse meu recomeço em Franca, trago uma voz interna, de fala mansa, característica das pessoas daqui: é a voz de minha avó paterna. Maria Messias, ou vó Celina, por aqui viveu até a mocidade e, depois de deixar a cidade natal, ao casar-se com meu avô, matava a saudade da terra e dos parentes por meio de cartas ditadas por ela para os ouvidos do filho mais velho, recém-alfabetizado: meu pai. Os dois na cozinha, meu pai lendo as notícias da família, minha avó sentindo o sal das lágrimas ao sorrir. Esse sorriso, essa voz, chegaram comigo.
Foi também uma voz que me ofereceu outras histórias e prosa da boa, que me fez sentir, mais uma vez, emocionada, provocada e alegre (tudo ao mesmo tempo). A voz é de Carlos Assumpção, o poeta de 97 anos que, com seu cajado e imagem de mestre, abriu as portas de sua casa para um café. Como não me sentir honrada de viver no mesmo tempo de Mestre Carlos? Ou pisar no mesmo chão por onde andou Carolina Maria de Jesus, e por onde anda hoje Isa do Rosário?
A chegada a Franca e o contato com suas realidades durante esses dez meses em que estou aqui, me mostram que as respostas para tantas perguntas são como setas, nascidas de um mesmo eixo, apontadas para múltiplas direções. E o eixo que potencializa toda força e beleza desse caminho é a memória.
A memória de Abdias Nascimento, poeta, escritor, dramaturgo, artista visual e ativista pan-africanista e seu legado, reverberam e pulsam por todos os cantos dessa cidade. No nome e na imagem pintada na Casa da Cultura e do Artista Francano, na inspiração de grupos teatrais, na grandeza do movimento hip hop, na resistência da Batalha das Minas, no Sarau Protesto, na presença dos coletivos e indivíduos que, desde a minha chegada, me recebem, me acolhem e me provocam a questionar como de fato pensar um Sesc para todas as pessoas.
Tenho escutado por onde passo: “que bom que vocês chegaram!”, “esperamos por vocês há anos!”, “que alegria ter um Sesc em Franca!”.
Ser recebida dessa forma na cidade em que o acolhimento é marca registrada me faz constatar que a maior alegria por ter chegado a Franca é nossa, e me pego muitas vezes pensando: o Sesc é uma instituição de sorte!
Franca tem sido um poderoso reencontro e uma grata surpresa. A cidade, já conhecida como capital do calçado, do café e do basquete, agora também será a cidade do Sesc. E com o Sesc, peço licença para realizar um trabalho que reverencie a memória da cidade, ao passo que registra no presente uma carta escrita a muitas mãos, endereçada a um futuro acessível, plural e desperto.
Sim, o Sesc é uma instituição de sorte.
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