Quedas em pessoas idosas e saúde mental 

18/06/2024

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O Brasil está envelhecendo. No último censo do IBGE (2023), constatou-se que as pessoas com 60 anos ou mais representam 15,6% da população brasileira. Devemos nos atentar ao fato de que o envelhecimento é uma fase de transição e que traz consigo mudanças na esfera biopsicossocial. Tais mudanças acarretam consequências e o aumento do risco de cair é uma delas.  

No Brasil, a última edição do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos revelou que a prevalência de quedas na população idosa que mora em áreas urbanas foi de 25%. Segundo dados do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, estima-se que este número suba para 50% quando falamos das pessoas idosas que moram em instituições de longa permanência. Os estudos mostram que dentre o público de mais de 60 anos residente em suas casas, há uma maior suscetibilidade das mulheres e dos mais velhos (> 80 anos de idade) caírem. 

Sofrer uma queda pode ter consequências físicas, e as fraturas são comuns (sendo reportadas em 81,81% das pesquisas), levando a hospitalizações e à necessidade de realização de cirurgias, seguidas de escoriações com necessidade de assistência médica (36,36%). As quedas aumentam a chance de dependência, institucionalização e até de morte – é considerada a terceira causa de mortalidade entre as pessoas com mais de 65 anos no nosso país. 

Dentre alguns fatores envolvidos com o evento quedas – seja como consequência, seja como causa -, os aspectos psicológicos como ansiedade, depressão e medo são frequentes.  

O medo de cair pode se manifestar com diferentes intensidades, podendo chegar ao ponto de limitar as atividades do sujeito. A pessoa idosa que acredita ter sua capacidade de equilíbrio e/ou força reduzida vivencia o medo antecipatório de cair e acaba diminuindo, muitas vezes, e de forma prejudicial, suas atividades.  

Em um estudo brasileiro com 315 pessoas idosas que moravam em suas casas, verificou-se que o medo de cair estava presente em 95% delas. Também deve-se apontar que há uma tendência das mulheres relatarem mais medo de cair do que os homens. Esta situação pode estar relacionada ao fato de que os homens costumam não reconhecer esse medo e não considerar as quedas como um risco para a saúde. Outro ponto que pode estar associado a este comportamento é o valor cultural atribuído ao medo, entendido como sinal de fraqueza, podendo fazer com que os homens reconheçam e expressem menos este sentimento do que as mulheres. 

A pessoa idosa, por perda de confiança na sua capacidade de andar com segurança, reduz suas atividades e por consequência sua mobilidade. Como resultado deste comportamento, este público acaba ficando mais frágil e mais fraco. Além disso, o medo e a ansiedade deixam o corpo mais tenso, diminuindo o equilíbrio e a flexibilidade, aumentando a instabilidade e diminuindo sua funcionalidade.  

As consequências do medo/preocupação excessiva em cair para a pessoa idosa inclui a perda de independência, o descondicionamento físico pela restrição de atividades, aumento do risco de quedas, redução de atividades sociais e menor qualidade de vida.   

Sabe-se que a depressão é um fator de risco para queda e ao mesmo tempo, se uma pessoa idosa sofre uma queda e tem uma perda ou diminuição de sua autonomia, independência e funcionalidade, isso pode favorecer o surgimento ou a intensificação da depressão.  

A relação das quedas de pessoas idosas com a depressão 

É importante ressaltar que a depressão é a doença mental mais comum nas pessoas idosas, afetando 13% da população brasileira entre os 60 e 64 anos, 11,8% dos que tem 65 a 74, e 10,2% dos com 75 ou mais. A depressão é frequente na velhice em função das limitações e perdas que a pessoa idosa vivencia no processo de envelhecimento. Entretanto, devemos lembrar que apesar de frequente, a depressão não é normal da velhice e sim uma doença e deve ser diagnosticada e tratada adequadamente. 

É relevante saber que a queda é um evento no qual vários fatores podem estar envolvidos. Temos os fatores de risco Extrínsecos (condições ambientais, como más condições dos passeios públicos, superfícies escorregadias etc.) e também temos os fatores de risco Intrínsecos, que estão ligados ao próprio indivíduo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, os fatores intrínsecos podem ser categorizados em Biológico (histórico de quedas, problemas de força, equilíbrio e marcha, problemas na visão, tontura, idade avançada, ter um quadro de incontinência, declínio cognitivo, artrite, diabetes e dor), Socioeconômico (baixa renda, más condições de vida, falta de educação formal, viver só e falta de apoio social) e comportamental (envolvem ações humanas, escolhas diárias e emoções).  

O uso excessivo de álcool é um fator de risco para quedas em função dos efeitos da intoxicação do corpo, que altera o equilíbrio, lentificando o tempo de reação motora, sensibilidade e visão, dentre outros.  

A depressão pode ser tanto causa como consequência de uma queda, favorecendo o estabelecimento de uma cadeia que se retroalimenta. Além do mais, outros fatores sociais podem estar implicados compondo esta cadeia.  

Ainda, a queda traz consigo um estigma de fragilidade e “confirmação” do envelhecimento. Muitas vezes a autoeficácia para evitar uma queda está abalada e pode também abalar a autoimagem e autoestima da pessoa idosa. 

Especificamente com relação a saúde mental, devemos estar atentos aos sintomas depressivos, que podem ser tidos como naturais nesta época da vida e, portanto, ignorados, bem como seus fatores desencadeantes. Devemos sempre estimular a população idosa, e a nossa sociedade ao Envelhecimento Ativo e Saudável, com participação ativa e segura na sociedade e na vida privada, preservando e melhorando os bons níveis de funcionalidade, independência e autonomia pelo maior tempo possível. 

Procure orientações com as equipes de saúde e faça atividades físicas regularmente, individualmente ou em grupo, criando vínculos sociais. 


Cecilia Galetti  é Psicóloga Clínica e Hospitalar, Neuropsicóloga e Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. É também Psicóloga colaboradora do grupo de estudo e pesquisa sobre quedas em pessoas Idosas (Prevquedas Brasil).  

  


Este conteúdo faz parte da campanha do Dia Mundial de Prevenção de Quedas de Pessoas Idosas. Confira a programação completa no site: sescsp.org.br/prevencaodequedas

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