No estudo da palavra cuidado, encontra-se várias origens que a aproximam de significados e dimensões que precisamos colocar em pauta no cenário atual. Um dos sentidos encontrados é cura, na perspectiva de desvelo, preocupação pelo outro. A palavra cuidado também se relaciona com o verbo cogitar, ou seja, pensar, dar atenção, mostrar interesse por algo, ou alguém, além de si mesmo. Desde a sua origem, esta palavra ressalta, enquanto atitude, uma inquietação e sentido de responsabilidade pelo outro, e na sua concretização, coloca em pauta uma dimensão essencial do ser enquanto ethos do humano.
Os dados de recentes pesquisas realizadas pelo mundo e pelo Brasil, diretamente relacionadas às dimensões do cuidado ou que tangenciam concretizações do cuidar, revelam profundas desigualdades de direito e acesso quando consideramos marcadores de gênero, raça e renda.
Segundo o documento Care Works and Care Jobs, da International Labour Organization, em nenhum país do mundo os homens e as mulheres fornecem uma parcela igual do trabalho não remunerado com os cuidados. Mulheres e meninas dedicam, em média, 3 vezes mais tempo por dia nos trabalhos de cuidado do que um homem, e essas horas se elevam, quanto maior a situação de vulnerabilidade. Em 2019, entre homens e mulheres, mais de 6,2 milhões de pessoas no Brasil eram empregadas no serviço doméstico; 63% desse total era constituído por mulheres negras, de baixa escolaridade e oriundas de famílias de baixa renda (IPEA, 2019), ou seja, mesmo em serviços remunerados, encontramos desproporcionalidades que reforçam essa atenção às cuidadoras e aos cuidadores na nossa sociedade.
Em um contexto social e econômico profundamente afetado por desigualdades, as realidades de cuidado com crianças da Primeira Infância e seus adultos de referência, também apresentam terríveis estatísticas. Segundo dados do NCPI – Núcleo Ciência Pela Infância, 29% do total de crianças de 0 a 6 anos no Brasil (ou seja, 5,4 milhões de crianças) vivem em domicílios com renda média mensal abaixo de R$ 250. Ou ainda 38,4 milhões de pessoas (o que representa 41,1% da população) estão em serviços sem proteção trabalhista.
As condições psicossociais, sanitárias e econômicas são fatores importantes para a qualidade do cuidado que afeta o desenvolvimento das crianças na Primeira Infância. E esses dados de precariedade no contexto dos cuidadores revelam os riscos para o ato de cuidar e a constituição de vínculos afetivos, pois repercutem no estabelecimento de rotinas saudáveis, nas interações significativas e no atendimento das necessidades das crianças.
Neste sentido, o Sesc São Paulo realiza a ação Cuidar de Quem Cuida, que tem como objetivo, sensibilizar e inspirar pessoas, comunidades e instituições sobre assuntos relativos às cuidadoras e aos cuidadores de bebês e crianças de 0 a 6 anos e às implicações do ato de cuidar, a partir de temáticas que acolhem assuntos transversais referentes às diversas realidades do cenário contemporâneo, trazendo ao debate discussões e reflexões como novas formas de enfrentar as adversidades e ativar processos de resiliência.
Em sua terceira edição, a ação traz como tema Redes de apoio e cuidados, considerando que somos seres que nascem e vivem em uma extensa rede de relações, que podem ter diferentes dimensões: sociais, emocionais, materiais e, também, informacionais. Além disso, também, assumem diferentes papeis no que condiz a primeira infância e seus adultos de referência.
Desse modo, é relevante ampliar a compreensão das articulações entre o cuidado dos adultos de referência e as redes de apoio e cuidado na perspectiva do desenvolvimento saudável da criança, inclusive, no sentido de descrever (ampliar as percepções), constituir e mobilizar no sentido de compartilhar a responsabilidade social do cuidado.
Assim, por meio dessa ação, se faz um chamamento coletivo para a responsabilização do cuidar na Primeira Infância, a partir da reflexão sobre os diferentes atores sociais do cuidado, dentre eles destacamos outros familiares para além de pai e mãe, profissionais da educação formal e não-formal, profissionais da saúde (física, mental), cuidadora(e)s de crianças com deficiência e pessoas (não profissionais e profissionais) que auxiliam cuidadora(e)s em situação de vulnerabilidade.
No contexto da Pandemia de Covid-19, vale dizer que trazer para as discussões dos efeitos coletivos e positivos das Redes de Apoio e Cuidados são fundamentais para a recuperação de um modo de ser, baseado no cuidado como necessário para a constituição da condição humana e seu ser-estar no mundo. Inclusive, porque essas Redes de Apoio e Cuidado podem ser essenciais para a superação da situação de crise e ser determinante para o processo de resiliência, principalmente, de cuidadores e cuidadoras em situação de vulnerabilidade.
Esta edição acontece de agosto de 2020 a abril de 2021, com bate-papos, vivências, apresentações e diálogos, pelas redes digitais das unidades da Grande São Paulo, capital, interior e litoral do Sesc São Paulo.
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