“Tratar a pauta do clima desconsiderando o racismo ambiental é negacionismo”. A frase da jornalista Bianca Santana, diretora-executiva da Casa Sueli Carneiro que integra a Coalizão Negra por Direitos, abre o texto de contracapa da publicação Racismo Ambiental e Emergências Climáticas no Brasil, lançado no final de 2023 pelo Instituto de Referência Negra Peregum e a editora Oralituras.
Esta afirmação destaca a urgência de racializar o debate climático, tanto pelo reconhecimento de que são as populações negras e indígenas as que mais sofrem no Brasil com os efeitos desta crise, quanto por serem também os grupos que historicamente produzem saberes e estratégias para enfrentar as problemáticas ambientais.
O mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)1 reforça este olhar ao destacar a disparidade do impacto da crise climática sobre diferentes povos e comunidades, ao mesmo tempo em que constata que as pessoas mais afetadas são as que menos contribuem para o aquecimento global.
Acontecimentos recentes envolvendo eventos climáticos extremos, como os desabamentos ocorridos no litoral norte de São Paulo em fevereiro de 2023, após grande volume de chuvas, e as inundações em proporções sem precedentes na região sul do país em maio de 2024, alertam para a maior vulnerabilidade entre comunidades negras, maioria nas áreas periféricas. Nas regiões mais pobres e marginalizadas, as estatísticas revelam uma realidade assustadora: o número de mortes relacionadas a eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e tempestades, é até 15 vezes maior do que em áreas mais desenvolvidas.2
Com o intuito de expandir e qualificar este debate, tendo em vista a necessidade de um olhar interseccional sobre ele, e de valorizar o papel das mídias locais e periféricas, suas estratégias, linguagens, em abril de 2023 o Sesc Interlagos realizou o encontro “Racismo Ambiental, Justiça Climática e a Comunicação nos Territórios à Margem” em parceria com representantes de mídias contra-hegemônicas de diferentes regiões do país3.
Escutar estas vozes e valorizar estas perspectivas é fundamental para que a construção de estratégias de enfrentamento à emergência climática seja para todos, incluindo os territórios à margem. Não há justiça climática sem justiça racial.
Participaram do encontro comunicadores de comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e de quebrada, mobilizados a assumir o protagonismo destas discussões e torná-las acessível nos contextos onde vivem e atuam. A partir desse encontro os coletivos A Terceira Margem da Rua, Desenrola e Não Me Enrola e Periferia em Movimento desenvolveram o material Racismo Ambiental e (In)justiça Climática: ideias e dicas para levar essa conversa para a sua rua ainda hoje, que pode ser acessado e baixado gratuitamente clicando no link abaixo.
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1 Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC)
2 Fonte: Racismo Ambiental e Emergências Climáticas no Brasil”. Ed. Oralituras. 2023, p.18. s informações baseiam-se em dados coletados no relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
3 Estiveram presentes no encontro os coletivos Periferia em Movimento, Desenrola e Não Me Enrola e A Terceira Margem da Rua (SP), Frente de Mobilização da Maré e Jornal Fala Roça (RJ), Rede Tumulto (PE), Coletivo Mojubá Mídias e Conexões (BA), TV Comunidades e TV Quilombo (MA), Coletivo Jovem Tapajônico (PA) e Coletivos de Comunicação da CONAQ.
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